Decidir que os médicos gestores de serviços privados de saúde não possam acumular essas funções com a gestão de serviços públicos é uma medida que vai na direcção certa da preservação do bem público, mas vai ser ineficaz. Facilmente, os lugares de direcção dos privados serão ocupados por testas de ferro e as suas estratégias de demolição do público continuarão a ser executadas. É curto, senhor Ministro Correia de Campos! Serve para aliviar a consciência, parece moralizador, mas é absolutamente ineficaz.
A eficácia seria conseguida com uma sã concorrência entre público e privado. Quem trabalha num dos sectores, não poderia trabalhar no outro. Seria do mais elementar bom senso, pois se trata de sectores concorrenciais em que o controlo e os proventos são distintos para os executantes. De uma forma geral, são mais atraentes (leia-se é-se mais bem pago) os benefícios pessoais no sector privado, logo quem trabalhar nos dois, seguramente, não é inocente na forma como actua num e noutro, tentando (que diabo, até é humano) beneficiar a actividade no privado em detrimento do público. Não se lhes pode pedir que tentem reduzir listas de espera no público quando são elas que engrossam o recurso dos doentes aos privados! Ou pensam que os médicos são anjos! E, no limite, porque se pode abdicar do lucro no sector público, gerindo-o com firmeza e correcção, até se pode pagar aqui melhor aos técnicos que no sector privado, não havendo, por isso, o risco anunciado, mas não concretizado nunca do êxodo para os privados. O problema é outro: este poder está atado pela Banca e pelas companhias de seguros e tem de realizar a sua missão de estimular a «iniciativa» desses sectores no campo da saúde, onde, recentemente, têm vindo a fazer investimentos contando, claro, com o papel de destruição anunciada do Serviço Nacional de Saúde. Quem vai pagar a factura serão sempre os mesmos, os que, por engano, continuam a pensar que não há mais mundo além do PS/PSD/CDS.
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