Num tempo em que tanto se critica o futebol, lamento não ver adoptados, na saúde, os métodos de gestão existentes nesta indústria. Neste campo, a medição do valor é mais intuitiva e objectiva (as vitórias e as derrotas), mas existem também em saúde métodos fiáveis de avaliação da produção e da sua qualidade. Haja vontade de os aplicar!
No futebol quando a equipa começa a perder de forma sucessiva há um procedimento quase constante, o treinador é dispensado. Na saúde não é assim, independentemente da eficácia, há directores que o são até que a reforme ou a morte os leve.
Agora que o Ministro da saúde veio dizer o óbvio, isto é, a simultaneidade de direcção de serviços públicos e privados «é passível de comprometer a isenção e imparcialidade com o consequente risco de prejuízo efectivo para o interesse público», logo temos o Senhor Bastonário da Ordem dos Médicos a dizer que a medida é ilegal!! Defende o Dr. Pedro Nunes que «os médicos não são melhores nem piores por trabalharem no público ou no privado» e manifesta a sua preocupação dizendo «que é um suicídio, em termos do SNS, dizer aos médicos que se querem trabalhar no privado não podem trabalhar no público». Isto é, em seu entendimento, os Mourinhos podem treinar simultaneamente o Chelsea e o Manchester, possivelmente fazendo as manhãs em Londres e as tardes na cidade do concorrente.
Esquece o Senhor Bastonário dois aspectos importantes. Primeiro, ignora a concorrência de interesses entre as empresas públicas de saúde e as empresas privadas e entre estas entre si. Será que é concebível que o mesmo médico vá dirigir um serviço de medicina, simultaneamente, no Grupo CUF e no BES? Ou estará o Senhor Bastonário a admitir que a direcção de um serviço no sector público é diferente das mesmas funções numa empresa privada? Há um vício no raciocínio do Bastonário. Até agora, o prestígio ia-se procurar no público, e o dinheiro ia-se ganhar no privado, hipoteticamente «gerindo» com alguma superficialidade o primeiro, melhorando a situação no segundo. Se aos directores do público fosse exigida excelência, como o interesse público exige, necessariamente, este sector dos cuidados de saúde seria a referência. Se o não é, deve-o, antes de mais, ao deficiente desempenho de quem o dirige (os treinadores). No futebol já muitos teriam sido dispensados.
A segunda confusão do senhor Bastonário diz respeito ao suicídio do SNS. Não será certamente por migrarem algumas andorinhas que a Primavera acaba. Há muitos médicos que acreditam no SNS e acham imperiosa a sua defesa para benefício dos doentes e estarão, de certeza, disponíveis para o fazer, gerindo eficazmente os serviços públicos. Os serviços públicos serão para os pobres, se forem mal geridos face à gestão dos privados, como hoje já acontece, por exemplo, nos EUA.
O que é lamentável nesta decisão do Ministro da Saúde é que seja facilmente contornável e que não seja a declaração desejável de incompatibilidade entre exercício (e não apenas a Direcção) de actividade privada e pública e não introduza uma sã concorrência entre os dois sectores com águas rigorosamente separadas. Há um grande espaço de crescimento da actividade no sector Público, haja vontade de o estimular.
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