Tenho, reconheço, uma má relação com o marketing. Mas não é por mal. Só que não entendo por que razão deveria ser contra os Impostos que o Estado me cobra e dos quais ainda obtenho alguns benefícios e não ter uma raiva profunda aos custos de produção que a publicidade representa sem que dela beneficie coisa alguma. Antes pelo contrário ao induzir-me a consumir aquilo de que não necessito, prejudica-me directamente, aumentando até o preço daquilo que eventualmente preciso. Não consigo imaginar uma sociedade (grupo de pessoas que vivem colectivamente) sem a existência de impostos estatais, mas nada me custa a vislumbrar um mundo sem publicidade, sem este espectáculo abjecto que é o meio que nos envolve nas cidades, cheias de outdoors, sem o ruído da TSF a debitar-me incentivos ao endividamento. Vivia muito bem sem isso e os produtos ser-me-iam bem mais baratos. Acho mesmo que, como cidadão, tenho o direito de reivindicar limitações à poluição que o marketing representa. Podemos não querer aceitar viver numa cidade que nos oprime para nos obrigar a comprar. Se podemos insurgir-nos contra a publicidade que nos colocam nas caixas do correio e proibi-la, por que não fazer o mesmo contra a que colocam à beira da nossa rua e que nos agride todos os dias quando saímos de casa?
Mas o marketing, às vezes, exagera. Como agora, quando recebo diariamente mensagens de e-mail a desejar-me as Boas Festas, assinadas pelos departamentos de Comunicação e Marketing de nem sei quantas empresas. Essas tretas são junk-mail, spam, nada dizem, apenas agridem um Natal já amplamente devorado pelas feras do consumo. Há Natal quando alguém quer partilhar umas cerejas ou uma garrafa de vinho, mas é anti-Natal o disfarce e a mentira do agradecimento interesseiro a pensar nas vantagens que poderão com isso advir para o próximo ano. De qualquer forma agradeço-lhes o reforço que fizeram à minha consciência e vou tentar ser mais prudente no ano que vem. Registo os nomes das vossas empresas e tentarei adequar os meus comportamentos.
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