terça-feira, janeiro 04, 2005

Anti-depressão

Como a Informação sobre que escrevi ontem, também a Saúde é uma área sensível, onde a penetração dos interesses privados, o controlo absoluto pelos interesses das companhias privadas pode acarretar mal estar que pode sair caro.
Nestes tempos, toda a investigação é feita sob iniciativa das companhias farmacêuticas e quase sempre o controlo dos resultados pertence-lhes. Ao ponto de os investigadores garantirem às companhias a possibilidade de não publicação dos resultados que se encontram. É uma cláusula habitual dos contratos de ensaios clínicos. Assim, o problema do Prozac hoje noticiado é perfeitamente possível e normal. Mas nos tempos que correm, muito pior que a manipulação dos dados de investigação é o papel quase exclusivo que a indústria farmacêutica tem na formação pós-graduada dos médicos, através do patrocínio de participação em reuniões mais ou menos científicas, onde as comissões organizadoras vêem muitas vezes condicionadas as suas escolhas de temas pelos interesses do mercado das companhias farmacêuticas. O Estado (nós todos!) que nada investe na formação dos médicos vai acabar por pagar, por um preço bem maior, os custos de prescrição estimulados pelo marketing das empresas. Quem ganha? Os mesmo de sempre. Com efeito, com o objectivo permanente e a necessidade de satisfazer os seus accionistas, as empresas farmacêuticas têm actualmente grande parte do seu investimento feito no marketing e não tanto na investigação de novos e melhores medicamentos.
Há que inverter este processo, terminar com as relações de cumplicidade entre médicos e a indústria farmacêutica e substituí-las por uma relação de maior proximidade com os interesses dos doentes. Aos médicos compete terem uma atitude crítica perante a dita informação médica, que hoje nos é apresentada sem a possibilidade de contradição. Ao Estado compete investir neste sector vital, controlar os processos de fabricação do conhecimento, dar condições de independência e formação aos médicos assumindo os custos da formação pós-graduada. Para o bem de todos, com excepção de uns quantos, bem poucos.
Em resumo, há certos bens que ultrapassam a dimensão de mercadorias e não podem ser entregues, em exclusivo, à sagrada iniciativa privada. Antes pelo contrário...

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