Os amores felizes não têm história; só os infelizes a têm. Werther é uma dessas histórias. A disputa entre a razão e o coração, entre o dever e o apetecer. Porque a natureza destas coisas não muda, continua a ser um tema actual. Duvidoso seria manter uma encenação clássica. O encenador é também criador e está a fazer a sua arte nos dias de hoje, por isso gostei do que vi e na transição do III para o IV acto, a surpresa reforça a dor, o sofrimento que assim ficou alongado no tempo, aumentando-a mais ainda. Há de certa forma uma noção de tempo perdido pela cedência à razão, um acarretar das consequências pela vida fora, uma demora penalizante. O frio da cena sugere um outro mundo, que podemos imaginar deste lado. De resto, há uma recriação do ambiente romântico em todos os quadros desde o I acto, onde a sugestão de uma paisagem tipo Suiça nos transporta exactamente para essa ideia de romance. Já a música me lembrou mais ópera alemã que propriamente francesa. Gostei de ver este meu primeiro Werther. São Carlos é que continua igual, tem a graça da imagem congelada do início do I acto. As roupas são diferentes, mas as pessoas são de outro tempo.
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