Subitamente, começaram a ler em inglês e, como os industriais de restauração algarvios, também ficaram seduzidos pela língua. Acontece o mesmo com os nossos artistas, que só conseguem ouvir as baboseiras que escrevem em inglês. Aliás, quem aceitaria cantar uma cama de rosas sem desatar imediatamente a rir? Experimentem traduzir as letras das canções em inglês e depois digam-me! Eu digo já, na maioria dos casos, um pirosismo insuportável quando dito em português. Como, em inglês, às vezes nem se percebe tudo, torna-se audível, não é?
Mas eu falava dos médicos, que cada vez mais tratam pacientes (eles lá sabem o que fazem aos doentes, para os terem convertido em tal). Para minha surpresa, ao ler um texto de Anatomia em português(?), vi que agora externo é lateral e interno medial, que o velho cúbito virou ulna e que o perónio já é fíbula, ou seja um destes dias já nem sei os substantivos da Anatomia....
Até já me tinha habituado a que o exame dos dados objectivos de observação, se tivesse convertido em exame físico, que as doenças tivessem estádios ou estadios e não simplesmente fases (de desenvolvimento), que as tomografias não fossem computadorizadas, mas computorizadas, que as ecografias estejam rapidamente a dar lugar às ultrassonografias, que os resultados de estudos fossem publicados em posteres e não em cartazes e que as provas cada vez mais fossem evidência. Agora que alguns autores reivindiquem a publicação de abstractos, sinceramente deixou-me sem palavras. É que os resumos, afinal, eram facilmente legíveis sem necessidade de qualquer esforço de interpretação. Um destes dias encontramo-nos por aí num mitingue para meditar neste estado de coisas e também para alterar o meu corrector ortográfico, que, desactualizado, foi colocando um risco vermelho ondulado sob estes termos da escrita da medicina pós-moderna?
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