quinta-feira, fevereiro 19, 2004

Simples

Como nas cantigas do Sérgio, ao princípio é simples, anda-se sozinho. Depois, subitamente, temos a noção que aquele é o primeiro dia do resto da nossa vida, como todos os dias são afinal. Mas nesse dia é mesmo, urgente e de forma definitiva. Fica-se num estado de inquietação tranquila em que o mundo finalmente encontrou o sentido. O caminho fica então com ladeiras, curvas, nós de estrada e descidas por onde vamos avançando já sem a simplicidade do princípio, mas com o prazer da realização. Percebe-se, finalmente, que o prazer nada tem de fácil e que a facilidade é rotina sem graça. Pelo meio até abençoamos a dor que ao prazer nos leva, nesta dialéctica constante dos contrários que se complementam e se descobrem. Aos poucos, a obra vai nascendo, a história faz-se de coisas pequenas, sem revoluções necessariamente, acontecendo simplesmente sem uma rota totalmente definida no início. E cada vez mais o sentido se constrói e faz sentido e vai parecendo que tinha de ser assim e que tudo afinal tinha uma lógica e um destino que podemos agora contemplar na tranquilidade da coisa feita e sempre em construção.
É bom chegar, vinte e cinco anos depois, com um olhar terno sobre a história e ter vontade de dizer obrigado Manela por me teres dado a mão nesta jornada. No fim das contas, é simples, hoje como ontem, é apenas o primeiro dia do resto da nossa vida.


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