segunda-feira, julho 07, 2008

Nós podemos mudar

A mudança é possível. Podemos fazê-la. Eu também tenho esse sonho. O sonho do tempo em que os médicos hão-de deixar de ter os seus doentes e serão os doentes que passarão a ter os seus médicos. Desta forma a posse definida, com todas as implicações decorrentes da propriedade. O sonho do tempo em que os médicos ouvirão o que os doentes têm para se queixar, não lhes antecipando os diagnósticos e em que o exame objectivo se sobreporá, em definitivo, aos números do laboratório e às películas da imagiologia. O tempo em que mais que certezas a publicar, haverá dúvidas que precisamos partilhar, analisar e decidir. Juntos. O tempo em que finalmente de omnisábios, passaremos a simples fornecedores de tijolos para a parede total do diagnóstico. O tempo em que o doente não precise de ter fé no que lhe dizemos, porque na maior verdade possível se não tem fé. Mas também o tempo em que se sabe que se não sabe tudo e que, a verdade de hoje é diferente da de ontem e da que vai vir. Nós podemos mudar, em conjunto. Mas esta é uma cultura marginal nos tempos da idolatria do indivíduo diferente, único. (Não é a Espanha que tem Ronaldo, mas foi ela que ganhou!) Precisamos ser mais comuns, ter mais dúvidas como todos têm, sermos mais, sacrificando as imagens que temos (mas não somos muitas vezes). O caminho da verdade faz-se caminhando nas nossas dúvidas mais do que afirmando, peremptoriamente, as certezas de que, muitas vezes, somos os primeiros a duvidar. Porque se o mundo melhor for a soma de todos os pequenos mundos que cada um de nós é, então, nunca será, fundamentalmente, feito com as pequenas excepções extraordinárias, mas, muito mais, através do somatório das contribuições ordinárias. E nós podemos mudar isto. Já lá diz o Obama.

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