quarta-feira, março 01, 2006

Solidariedade

Começa tranquilo o dia em que Bush anuncia que vai apanhar o Bin Laden. Os ventos passam a soprar de forma diferente depois deste anúncio. No Iraque, hoje, até talvez não morram 30 para compensar os 60 que ontem morreram na celebração da paz e da liberdade. Importante é o louvor do individual, da capacidade sobre-humana de alguns semi-deuses. Enquanto houver quem acredite nos génios do mundo, só mesmo eles continuarão a não perceber por que raio têm de morrer como os outros. Mas para satisfação dos mesquinhos e vingativos em que me incluo, também eles não ficarão para semente. E ainda bem, porque os frutos do futuro merecem melhores genes. Mas a manutenção da diferença, exige o seu conceito e a sua imposição como realidade. Se assim não fosse, seria difícil justificar as outras diferenças que dão acesso ao poder de mandar nos que são simplesmente iguais.
Felizmente, como no Astérix, há sempre quem resista às certezas do Império e continue a pensar que o mundo é feito de pessoas empenhadas num precurso comum. É por isso, que vão a casa de quem vive só, conversar um pouco ou comprar um pacote de manteiga ou, simplesmente, permitir que a mulher saia da prisão que é a casa onde se vive com alguém dependente, preso com o receio de que possa acontecer alguma coisa. Esta gente sabe a palavra proibida, marginal, que, ainda não há muito, era propaganda: solidariedade. São eles que aprenderam (e me ensinaram) que a televisão não é companhia para esta gente idosa. Realmente, tanta exuberância, riso e felicidade, só os isola mais, só os humilha, mostrando-lhes um mundo a que, definitivamente, não pertencem e que os domina.

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