terça-feira, março 21, 2006

Doentes ou utentes

Olhando as palavras concluo que não é inocente chamarem-se os doentes de utentes. Chamá-los doentes implica de alguma forma sentir solidariedade com o seu azar, perceber que fazem esse papel sem gosto. Se os chamarmos utentes, pelo contrário, estamos primariamente a considerá-los consumidores de bens quase por um gozo primário que terão. E torna-se muito mais fácil falar do princípio do utilizador-pagador, sendo quase impossível aceitar-se como razoável o princípio do doente-pagador. Assim, me parece que as palavras que mudam o não fazem com toda a inocência. Também aqui, palavras diferentes, têm consequências distintas. E no fundo, doente só é utente, se alguma cultura de que é também vítima, o incentivar ao consumo. Ninguém, na verdade, gosta de ser doente e, por isso, quando é utente sem ser doente, alguma coisa o fez ser, alguém o estimulou a usar. Mas neste caso, o pagador deve ser quem estimula o uso e não a vítima. Em resumo, a saúde deve ser paga fundamentalmente pelos saudáveis e quase nunca pelos doentes.

1 comentário:

Anónimo disse...

Bem visto :p