quinta-feira, fevereiro 02, 2006
Sem óculos
Ficar sem a prótese deixou-me, de repente, à deriva. As palavras desapareceram, as fotografias desfocaram-se. Impressiona a desvalorização que fazemos do adquirido. É no momento em que falha que o sobrevalorizamos a ponto de deixar quase de ter preço, de passar a valer o que for preciso. É preciso olhar com atenção redobrada para o que nos faz mexer no dia a dia e se esfuma no tempo cheio de pressa em que se anda. Só damos conta dos dedos quando a ferida os afecta e começamos a tocar com eles nos objectos à volta. Aí percebemos toda a importância que têm apesar da desatenção que lhes votamos todos os dias. E a vida está muitas vezes e quase só aí, no que nos não apercebemos por andarmos distraídos a valorizar o que, afinal, nem será assim tão importante.
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