quinta-feira, fevereiro 16, 2006
Negligência
Cada vez mais assisto a uma cultura de crítica, de pesquisa fanática do erro para obtenção de lucro, procurando má intenção no erro, agora geralmente chamado negligência. O árbitro erra e pede-se a cabeça. Antes de mais, foi comprado. O médico engana-se, pede-se indemnização, prisão até. Crime, grita-se. Há uma fogueira ateada para onde se querem atirar todos os que ainda vão tomando decisões, o primeiro passo para se poder errar. O motivo é muitas vezes bem mesquinho e não ultrapassa a vingança em relação ao que se pensa ser poder, algo em que vivem os frustrados famintos de sangue. Corrigir erros com penas, não os vai evitar no futuro, porque ninguém erra por querer errar. O erro maior é a admissão da infalibilidade, a fé numa ciência exacta. É essa fé um produto vendido a cada esquina, uma mentira repetida incessantemente, para nos atirar uns contra os outros num caldo de intolerância fundamentalista. Enquanto nos vergastarmos, outros assistem ao espectáculo na pacatez dos seus palácios, em orgias de poder sem fim. O verdadeiro poder precisa desta diversão para continuar a reinar. Esta é uma realidade que, muitas vezes, nos escapa e não o entender pode ser negligência.
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