segunda-feira, maio 31, 2004

Oportunidade de quem? Eu não sou construtor civil, desculpe!

Sua Exª o Ministro Adjunto do Primeiro Ministro (com a tutela do Euro 2004), escreveu-me uma carta... Recebi no correio de hoje uma carta deste senhor a dizer-me que «estamos a poucos dias do início da fase final do euro 2004 (não foi novidade)... uma oportunidade única de projecção internacional do nosso país... mais de 8500 jornalistas.... 200 estações de televisão (uau!!!!!!!)... que descupemos os incómodos eventuais de toda a confusão que um evento desta dimensão possa causar...mas é uma festa muito especial que o País está a viver (está?) e depois recomenda que sejamos hospitaleiros (será que me acha hooligan, sua Exa?) E diz-me que estou convocado...» Eu? convocado para quê? Saiba, Vossa Exª que costumo ser normalmente bem educado, trato bem as pessoas e que, portanto, pelo que me diz respeito, bem dispenso que ande a gastar o dinheiro dos impostos que pago, a fazer propaganda ao seu Governo. Ou será que foi inspirado por certos comentários que certos jovens próximos da sua coligação, andam para aí a fazer sobre os candidatos opositores e pensa que somos da mesma laia? Esteja descansado, na sua maioria este país é uma terra de gente educada (com excepções, claro!)
Pobre país que tais oportunidades tem! Fossem outras as razões da projecção.

domingo, maio 30, 2004

Marcha lenta e triste

Na praia, há agora uma marcha lenta, uma marcha triste, pirosa mesmo. As vedetas futebolísticas do momento estão no hotel. Então, avançam devagar os automóveis no passeio de domingo, na volta dos tristes e quase param à entrada do sítio «onde eles estão». Não estão nada, que o Scolari deu-lhes folga, hoje! Decepcionados, lá seguem. Pode ser que noutro dia a sorte os proteja... Desistem, com mais uma fantasia frustrada.
Que identificação absurda esta. A nossa selecção? Ou a selecção daqueles rectangulosinhos de cores variadas que aparecem sempre por tras quando um dos tais craques fala? Isto é business e com isso, desulparão, mas não me identifico. Não aceito a convocatória.
E espero que isto passe rápido, que a tranquilidade da Praia d'el Rey é uma das coisas boas desta vida.

sábado, maio 29, 2004

Em pleno voo

Trata-se de um grupo de doentes, que busca frequentemente ganhos secundários com a sua situação de azar transitório. Muitas vezes, queixam-se na esperança de obterem das suas seguradoras mais algum benefício. Haverá que ser muito rigoroso e ter bons instrumentos de medida. Um desafio considerável.
O financiador da reunião pensa provavelmente ter encontrado, um novo e amplo mercado. E agora, o seu produto não terá de depender da aprovação de reembolso pelos Estados e será simplesmente, mais uma despesa a assacar às companhias de seguros. Negócio quase garantido. Uma despesa adicional para as seguradoras que rapidamente aumentarão aos prémios das apólices que cobrem estes tipos de acidentes. Lá vão subir uma vez mais os seguros...
No meio destes temas voo para Lisboa.

Estados de espírito

No meio do entusiasmo não poderei deixar de continuar lúcido. Se me transportam de limo, me instalam em hotel de luxo e me dão de comer requintadamente, isso não se deve aos meus lindos olhos!
É complexo este relacionamento com a indústria farmacêutica. Vamos investigar um assunto, somos apoiados pelo potencial vendedor do medicamento que com o nosso trabalho encontra uma nova indicação terapêutica. É necessária muita lucidez para seguirmos independentemente nos projectos, não nos deixarmos manipular pelos interesses da companhia. Essa é agora uma preocupação que me acompanhará. A lucidez é fundamental! Tudo correrá bem, se os resultados aparecerem. Mas se, pelo contrário, não corresponderem ao que eles esperam, então teremos de ser intransigentes com os factos e terão investido nos cavalos errados...

sexta-feira, maio 28, 2004

Work and some cognac too

Atenas vista do ar tem aquele ar de desconsolo pálido de que me lembrava de há uns anos atrás. Não a vi mais ao perto, porque fui para Vouliagmeni, uma pequena cidade vizinha, ao que me disseram, tipo Cascais. O percurso do aeroporto até lá é feito por estradas em ampliação, em conversão para 4 faixas, que os Jogos Olímpicos, estão aí quase a estalar. Fica a dúvida se estarão prontas, mas parecem optimistas.
A tal Cascais, de custo de vida elevado, é o Algarve mais seco e feioso que se possa imaginar. Tem uma praia de areia escura e um hotel a tender para o Luxo, Divani Appolon Palace, onde acabei por passardois dias fechado em trabalho. Quem se terá lembrado de pôr num sítio destes este hotel?
Desta vez, foi mesmo trabalho. Até as refeições estavam incluídas no programa...
A história é recente, nasceu há 3 anos e tudo começou quando o pai de um doente perguntou ao neurocirurgíão que cuidava do traumatismo craniano do filho, acha que as hormonas do meu filho estão bem? Há quem tenha os doentes certos no lugar certo... Depois, foi pesquisar sem grande entusiasmo, o que se passa na hipófise de quem bateu com a cabeça e o resultado surpreendente de haver efectivamente alterações, que até podem ser tratáveis e talvez estejam relacionadas com algumas das dificuldades que estes doentes sentem e que, até agora, se pensava não terem uma causa tratável. (Se teve um traumatismo craniano e esteve internado por isso e se sente, agora, com problemas de fadiga, alterações da memória, dificuldade em concentrar-se, deprimido, ansioso, irritável ou com dificuldade em dormir, pode enviar-me um mail!)
E ali estivemos, dois dias fechados, a debater este tipo de coisas, a criar normas de actuação. O artigo ficou pronto para publicar...e os contactos feitos para continuarmos a cooperação nos diversos países. Tudo isto feito em mangas de camisa, sem reverências patetas. Era assim que gostava de trabalhar todos os dias, com humor e rendimento.

quinta-feira, maio 27, 2004

Overbooking!

Para isto aparecer direitinho, vou escrever com as datas em que aconteceram, embora esteja a escrever hoje dia 31 de Maio.
O dia depois ainda se sentia em Frankfurt, onde exibiam, orgulhosos, os cachecóis azuis e brancos. Deambulavam pelas lojas do aeroporto enquanto esperavam pelos voos. Sossegados, sem euforia. Valha-nos isso!
Nada mais a lembrar-me mais esta passagem por este aeroporto a não ser uma evidente falta de respeito da Lufthansa pelos passageiros. Mas ao que imagino o que se passou nem será uma raridade, mais uma rotina, talvez.
Aconteceu que por razões mal explicadas, tinham 10 passageiros sem lugar. ISTO É OVERBOOKING! Referiam que tinham surgido 10 passageiros gregos com grande urgência em chegar a Atenas... Acho que ainda gozam connosco. E o problema foi resolvido da forma habitual: oferta de 300 euros a quem se disponibilizasse a ir no voo seguinte! Houve ofertas suficientes e a coisa traduziu-se num atraso de 45 minutos na partida para os cerca de 200 passageiros. É claro que a prática é bem conhecida. Mas, fica-me este desconforto desta actividade de livre concorrência. É que não estamos, passageiros e companhia de aviação, em condições iguais de negociação. Eles são o poder, nós os dependentes. São assim as relações equitativas do mundo da livre concorrência, disto a que nos querem fazer necessariamente aderir. Por mim, tentarei nunca aceitar estes leilões, só para ver se algum dia, todos os passageiros se abstêem, só pelo gozo de ver como isto se resolve. Será que haverá sempre quem ceda? Os génios da gestão até isso devem ter estudado...

quarta-feira, maio 26, 2004

Bibóporto

Ele saltou que nem atleta a acabar de ter marcado. Naquele momento, sentiu-se compensado do Louçã e do Carvalhas. Sim, temos pelo menos uma semana de festa longe do desemprego, da participação em guerras dúbias, de problemaqs de segurança. Naquele momento o DB ficou azul de gozo e deu graças ao Porto. Estou safo, pensou. E lembrou-se inquietado, onde estará o Rui Rio?
Até domingo, que na Grécia a Internet deve ficar à porta dos hotéis...

terça-feira, maio 25, 2004

Revisões

Deixem-me fazer um intervalo para me lembrar do descanso do fim-de-semana.
Soube bem na sexta-feira, zarpar pelo Alentejo abaixo com visões papoilas e arroxeados e ouvir alguém, já crescido, falar-me de vacas das antigas, daquelas que têm manchas pretas e brancas... Começava animado o fim-de-semana.
Depois de chegados à quietude do Alvito, o encontro feliz com a funcionária do Turismo local. A D. Dina mantém a porta do posto de Turismo aberta, até fora de horas se preciso e fala entusiasmada do Alentejo que descobriu há 3 anos e mostra-nos a rota do fresco, o percurso manuelino, a gastronomia, aumentando-nos o apetite para descobrir o Alvito que pensávamos ser apenas um sítio de estar de papo para o ar. Subitamente, ficamos com a ideia que o fim-de-semana não vai chegar. Algum fundamentalista diria que a senhora não é funcionária pública e que o Turismo do Alvito foi tomado por alguma empresa privada. Enganam-se, precisamos de encher esta terra de Donas Dinas.
Depois o ar pousado e sabido do senhor Alfredo que nos mostra a igreja de São Sebastião, os anjos músicos e nos passa de seguida para a esposa que nos leva a ver as grutas de Alvito de onde saíram as mós que fizeram o pão durante séculos. Pararam no século XV e só o senhor Alfredo sabe porquê. Quem quiser saber que vá lá ver. Mais não digo, mas ele sabe o que outros nem imaginam...
No sábado, Vila Nova da Baronia e sua igreja fechada. Mas as portas abrem-se que o senhor Otávio da loja ao pé da Caixa Agrícola tem a chave e a filha lá nos leva a visitar a igreja. Nas ruas, conversa-se calmamente, indiferentemente aos casamentos de Princesas, que a vida do povo não discute cores de vestidos nem decotes.
Bom foi ver mais tarde a melhoria das ruínas de São Cucufate. Agora com centro de acolhimento como qualquer Visitor Centre americano (excepto o pobrezinho parque de estacionamento). Per deu-se a descrição castiça do Senhor Pé Curto, mas ganhou-se a informação mais fundamentada do novo Ranger... Sente-se que o IPAR, existe e realiza e isso foi surpresa neste país de desencanto informativo.
Vou aqui deixar a referência ao Vila Velha na Vidigueira, um espaço agradável para provar açorda de beldroegas e migas de espargos acompanhadas pelo tinto local. A Vidigueira ficou por ver, mas depois do almoço, o principal estava feito, creio eu. E ficou por explorar porque queríamos voltar ao Alvito a tempo de estar na visita guiada à Igreja Matriz, às 15h. Afinal, houve atraso no almoço e só para 18 seria a visita que não fizemos. Melhor, fomos à barragem de Odivelas e encontrámos a Markadia, espaço alentejano recuperado por holandeses, onde a visão da barragem retempera do calor. Fica-me a ideia de uma semana em perspectiva, lá mais para a frente.
Domingo, foi dia de esperar pelo sol na beira da piscina, enquanto os pavões gritavam ao desafio com os vendedores da feira do tudo a um euro.
Uma passeata a ver as portas e janelas manuelinas em circuito bem desenhado no folheto que a D Dina nos deu na véspera, antes de largarmos estrada abaixo a caminho de Beja.
Beja parecia adormecida à hora do almoço, quase deserta. Os restaurantes fechados, que domingo foi feito para se descansar. Lá encontramos um de nome Floresta, onde a sopa de cação cheirava ao Alentejo todo.
Foi assim antes de rumar até às ruínas de Pisões. Uma nuvem negra espreitava antes da visita, deitado já alguns salpicos. Mas lá fomos que não somos turistas de desistir. Avançamos com o guia pela casa dentro, mirando os mosaicos enquanto a nuvem não desistia. O polícromo começava a ficar cada vez menos nítido com a distracção da chuva, que cada vez mais me ocupava. Em crescendo. Mas tivemos uma retirada digna sem precipitações (excepto a da água que nos ensopou as T-shirts). Que seria destas visitas sem incidentes destes? Que contaríamos depois, que nos ficaria na memória? Que resta das palavras dos guias ditas em catadupa sobre nós?
Pelo caminho para Lisboa imaginei-me noutro planeta. O da confiança, do progresso, do melhor dos mundos e fiquei a saber que se alguma coisa não correr bem daqui em diante, os culpados estão bem identificados. São, como ontem, os mesmos desestabilizadores de sempre. Vermelhos anacrónicos, que ainda se não renderam à história que o Imperador nos conta tão candidamente.
E só me faltava ontem ouvir aquela anedota da penalização do SLB. Mas anda tudo doido?
Anda! O Imperador vai destruir a prisão do Grau, Graih, Gralh, isso! Com essa destruição que pensa ele que destrói? A nossa memória persistirá, contudo e com tudo.

sexta-feira, maio 21, 2004

Eles não sabem, nem vêem

O ministro não adere à greve. E está no seu pleno direito.
Uma realidade é a sangria de médicos jovens (que são quem põe as unidades de saúde a funcionar) dos principais hospitais onde são formados. Pessoas com grandes capacidades, promissores, são desterrados para hospitais regionais ditos carenciados, enquanto que as vagas dos hospitais onde fizeram a sua formação estão fechadas saberá alguém a razão de tal realidade. Pessoas em quem se investiu, a quem se deu formação em técnicas que só nestes hospitais podem fazer-se. Técnicas que deixarão de se fazer porque eles eram os únicos que as dominavam.
É claro que nalguns casos será completamente impossível ao fim de tantos anos de estabelecimento num sítio, zarpar para outras terras. A família constitui-se, os consultórios organizaram-se, a vida está feita aqui. É uma aposta forte no seu abandono do sector público. São menos encargos para o Estado e potencial de mão de obra mais barata para os próximos hospitais das Seguradoras. Isto a mim parece-me tão óbvio, que às vezes me espanto.
Será o caminho mais indicado ir à concorrência, ao sector privado, buscar gestores para as decisões públicas?

quinta-feira, maio 20, 2004

Gestores

Curiosa esta inquietação jornalística com os vencimentos dos gestores públicos. Nunca há a mínima preocupação com o que ganham os privados. Parece que se parte da ideia que os públicos devem ser necessariamente mal pagos porque, na lógica entendida da imprensa privada, tudo o que é público não presta, logo deve ser mal pago. Se calhar é em gestores do público com qualidade que precisaremos de investir para pormos fim à pouca vergonha que vai pelo privado e pelo público. De uns sabemos quanto ganham, dos outros nada sabemos e o que sabemos é que o que ganham ninguém sabe, nem a DGCI!
Mas neste caso, a coisa parece-me complicada. Que tendência esta para se ir buscar ao poder financeiro, gente para este Governo! Com que dependências se vai para um lugar político? Será possível ser-se independente com os patrões de ontem ou ter-se-á que garantir eventualmente o futuro? Também aqui o contrato devia ser por objectivos, directamente proporcional à redução do montante da fuga ao fisco.

Bimbos!

Às voltas pelo Continente até passsar por um escaparate onde vislumbro pão sem côdea!!!!!
Laranjas sem caroços, peixe sem espinhas, carne sem ossos. Vida sem dificuldades? Bimbos!

terça-feira, maio 18, 2004

Deserto

Realmente, não é notícia que alguns ilustres fiquem molhados nos testes de canhões de água, nem importa quem foi seleccionado para o Euro. Quanto ao banho foi generosidade em dia de calor, quanto ao Euro não importa quem lá vai. Importante, sim é que venham depressa de volta, logo na primeira eliminatória, para podermos assistir mais descansados a outras jogadas preparadas para Junho, por exemplo, a decisão de privatização da Galp. Mas ou muito me engano ou o entertenimento está garantido, se ganharem festejaremos a vitória, se perderem comentaremos mais umas destruições de balneários e umas quantas agressões a árbitros que estes moços já têm bom curriculo de campeões. E tudo o resto, ficará escondido debaixo do pó dessas discussões fundamentais.
A ver vamos. Está calor e o ar condicionado da triagem deste hospital continua sem funcionar. É como nas enfermarias e nas consultas. Na Administração parece funcionar sem problemas.

segunda-feira, maio 17, 2004

A água a quem a bebe!

Vêm-me à memória histórias de agressões e mortes ouvidas na infância sempre relacionadas com águas mal divididas e roubadas. Na minha ingenuidade, não percebia a razão por que a água teria de ter dono. Para mim, bastava-me a das chuvas que corria pelos regos junto às casas e me permitia fazer barragens onde punha barcos de papel. Mas ouvia histórias de vingança pela propriedade da água.
Lembrei-me agora por ter sabido que este bem que é de todos e cai do céu também vai ser vendido a retalho para tapar o défice, em nome da eficiência. No princípio do mundo, provavelmente e as conservatórias do registo Predial me confirmarão, era de todos a terra, a água e o ar. Os homens fizeram o fogo e assaltaram a terra que mal dividiram entre si, agora vai também a água e no futuro? Será que vamos ter a propriedade privada do ar ou faremos fogo suficiente para já nem isso ter razão de ser?

domingo, maio 16, 2004

Foi lindo!


Foi lindo, carago! Posted by Hello

Os três de Mourinho

Bastante cedo, o dragão ficou atordoado. E foi bonito de ver aquela imagem do Mourinho, três dedos definitivos a prenunciarem a festa. O imbatível, o tal que não perde torneios nem jogos entre os grandes, mostrava ao mundo os três dedos, reconhecendo o que estava a contecer. Como era possível, meu Deus? Em dias normais já seriam 3-0...
Ao intervalo ganhava. Dentro da obediência aos conselhos de fazedores de imagem ia dizendo que o resultado certo seriam 3-2 para o Benfica. Fica bem aos vencedores serem magnânimos.
Mas depois foi-se o verniz. No fim berrava que tudo isto é uma farsa.
Tem razão, Mourinho, há farsas nisto tudo e saber perder é bonito. Não ficar com ar furibundo de mau perdedor é ser desportista. A imagem do ganhador que não perde, confunde-se com a de certos exércitos esmagadores, com a imagem do medo. Não têm sequer felicidade quando ganham, mantêm o mesmo ar agressivo de sempre. Bonita era a imagem do Eusébio a chorar em 66 depois do jogo... Simples como quando ganhava, sem o olhar vingador dos humilhadores. Acima de tudo gosto de vencedores felizes e solidários com os que perdem. Isto é tão simples...

sábado, maio 15, 2004

Cuidado que nem todos os sábados há sol

Muito importante é a gestão do tempo que temos. Nos últimos anos, tenho verificado uma solicitação crescente do tempo para reuniões que consomem imenso tempo e onde nada mais se faz do que um encontro no mesmo espaço e à mesma hora de pessoas que pouco têm que ver umas com as outras e que até nem gozam significativamente com o encontro (antes pelo contrário, muitas vezes). Fico frequentemente com a impressão de que no fim foi tempo perdido.
Hoje, depois de mais um destes episódios, decidi que irei ter mais cuidado com estas cerimónias de exibição de pseudoprotagonismos. Não encontro, realmente, interesse em qualquer construção colectiva, mas apenas sinais de auto-afirmação e a habitual lamentação da falta de tempo para fazer o que quer que seja, sempre com a insinuação de que estamos a produzir muitíssimo. Neste país, as pessoas não têm tempo para preencher uma simples base de dados. Em Londres vi muitas vezes consultores de endocrinologia ficarem horas ao fim das consultas a fazê-lo. Por isso uns têm, outros lamentam não ter.

sexta-feira, maio 14, 2004

Entramos como penetras, mas se a segurança da festa quiser, nós saímos...

Olhem só o resultado de se entrar sem convite. Estes também têm falta de boas maneiras. Hoje na SIC:
”Se o Governo interino [o órgão que ficará encarregue de governar o Iraque a partir de 30 de Junho] nos pedir para sair, nós sairemos, embora eu não acredite que o faça”, declarou hoje Paul Bremer durante um encontro com o governador e os responsáveis da província de Diyala, a norte de Bagdade. Eu também não acredito. Se fosse membro desse Governo, exigia que ficassem... para reconstruírem tudo o que estragaram.
”Evidentemente, não é possível ficar num país onde não somos bem vindo”, acrescentou este responsável norte-americano. Curiosamente, foi possível entrarem sem terem sido convidados, o que também não são muito boas maneiras

Paul Bremer sublinhou, no entanto, que ”a extinção da Autoridade Provisória da Coligação a 30 de Junho não significa que os Estados Unidos abandonem o Iraque”. Aliás, se forem embora a coisa está garantida: Figueiredo Lopes vai enviar a GNR

A claque dos dragodeputados

Depois não vão querer que os levemos a sério. Um dia depois de não terem conseguido votar uma lei que parece que era fundamental, porque não havia quorum, saem-se com esta de ir uma representação da Assembleia da República à final da Champions League. Tinha ideia que os deputados eram representantes dos cidadãos que os elegeram. Sendo o FCP que está a representar o País nesta situação, não entendo a necessidade de uma dupla representação. A claque dos dragões não deve precisar de reforços. Estão a imaginar, os senhores deputados a fazerem aquele grito quando o guarda-redes do Mónaco repuser a bola em jogo?
Uns mais avisados dizem que só pode haver uma representação depois de ter sido feito algum convite. Parece fazer sentido. Mas, neste caso, a coisa ainda é mais grave. Dada a cronologia dos acontecimentos, chegamos à conclusão que alguém se está a fazer convidado, o que sempre me disseram ser deselegante. Fica o dilema, se não houver convite, lá vão os nossos impostos pagar os bilhetes, os hotéis (cinco estrelas) e as viagens (em executiva)? È que se é representação, os senhores não irão seguramente pagar do seu bolso estas despesas.
Vá lá Pinto da Costa, diga que já tinha feito o convite aos moços que gostam do futebol. Desta vez ninguém vai acusá-lo de oferecer nada a ninguém. Uma sugestão, contacte aqueles seus amigos da Cosmos que já lhe têm organizado outras viagens para outros seus convidados.

quinta-feira, maio 13, 2004

Diz lá o que disseste

Depois de mais de 25 doentes numa manhã e a visão felliniana da consulta de obesidade no início da tarde, só a escuta das notícias me anima e diverte.
Este é um governo onde o Ministro Figueiredo Lopes decide e o Primeiro Ministro discute. Eu acho que eles só fazem isto para nos distraírem. Ou então, o Ministro já não faz parte do governo e anda para aí a decidir coisas sozinho ou a lançar boatos. O pior é que o homem não se cala e agora diz-nos com aquele ar categórico de sempre que o país não vai arder este Verão. Veremos, mas se ele o diz, cuidado!

quarta-feira, maio 12, 2004

A superioridade das ordens


Esta imagem é a de um robot a arrastar um prisioneiro iraquiano. A coisa que parece uma mulher, não é. Hoje, Lyndee England (a perfeição tecnológica dos americanos faz com que os robots tenham nome)numa audiência (os robots americanos falam tal é a superioridade tecnológica admirável daqule país)do seu julgamento (eles até julgam os robots que criam)disse que cumpria ordens superiores. É assim a cultura do exército de robots a que os americanos chamam exército libertador. Posted by Hello

O nosso fado: Futebol e Fátima

As notícias falavam-me dos peregrinos em marcha sobre Fátima. Todos os anos desde o anúncio do fim do Comunismo assim acontece. Com todo o sofrimento, avançam os pagadores de promessas feitas em altura de desespero. Gostei particularmente de ouvir a jovem que pagava a promessa pela sobrevivência do namorado que entretanto se casou com outra. Tudo se paga nesta vida e há males que virão por bem.
Quando saí para a rua, a fila tinha mais de 500 metros. Ar de esperança nos rostos a colorir de mais vermelho, se possível, os cachecóis que aqueciam os pescoços. Esperança grande para domingo. A festa só é possível se o Benfica ganhar. No caso do Porto vencer, teremos não festa, mas rotina. As imagens do ganhador Mourinho frente a mais uns espezinhados.
O dia começou assim num misto de desespero e de esperança. O meu país quase completo, só faltou o fado.

terça-feira, maio 11, 2004

De repente, deixei de saber se existo (urgência interna)

Algo de estranho se passou. Subitamente, este blog deixou de existir ou só existe post a post. Provavelmente coisas do novo blogger, não?

Crystal Clear

É quase sempre bom ler Chomsky. Para que permaneça, transcrevo (mesmo sem a autorização do autor):
May 10, 2004
Rwanda and Abu Ghraib
The past month was the 10th anniversary of the massacres in Rwanda, and there was much soul-searching about our failure to do anything about them. So headlines read "To Say `Never Again' and Mean it; the 1994 Rwandan genocide should have taught us about the consequences of doing nothing" (Richard Holbrooke, Washington Post); "Learn from Rwanda" (Bill Clinton, Washington Post). So what did we learn?

In Rwanda, for 100 days people were being killed at the rate of about 8000 a day, and we did nothing. Fast forward to today. In Africa, about 10,000 children a day are dying from easily treatable diseases, and we are doing nothing to save them. That's not just 100 days, it's every day, year after year, killing at the Rwanda rate. And far easier to stop then Rwanda: it just means pennies to bribe drug companies to produce remedies. But we do nothing.

Which raises another question: what kind of socioeconomic system can be so savage and insane that to stop Rwanda-scale killings among children going on year after year it's necessary to bribe the most profitable industry that ever existed? That's carrying socioeconomic lunacy beyond the bounds that even the craziest maniac could imagine? But we do nothing.

So what was learned from Rwanda. And why isn't it a story? I think the reason is clear. It's too hard to look into the mirror. In the case of Abu Ghraib, we can say someone else is responsible.

Noam Chomsky

segunda-feira, maio 10, 2004

Peço desculpa, mas isto não pode ficar assim

Blair pede desculpa. Bush pede desculpa. Rumsfeld pede desculpa.
A ponte caiu. Jorge Coelho devia ter pedido desculpa. A filha tentou dar o golpe. Martins da Cruz devia ter pedido desculpa. Os negócios não correram tão bem como previsto. Vale e Azevedo devia ter pedido desculpa.
Desculpem qualquer coisinha...
Mas já alguém aceitou as desculpas e disse estão perdoados? Nesse caso por que esperam para assumirem a punição merecida. A propósito já pediram desculpa por terem enganado meio mundo com a história das armas de destruição maciça? E tu DB, por que esperas?


domingo, maio 09, 2004

American soldier

O retrato do soldado americano no Iraque:
"He is armed to the teeth and has a massive body," Khalil said. "But his head is small to make him look empty." Uma obra de arte entre outras citadas no yahoo.com


Igualdade

Champallimaud morreu como todos. A morte é o único momento em que todos somos iguais, o fim de todos os privilégios. Pena é que, depois dessa experiência de igualdade, se não possa fazer um post a dizer se sentimos ter valido a pena tudo o que fizemos pela desigualdade do mundo.

sábado, maio 08, 2004

Sorte

Da mesma forma que não espero que me deem a resposta na volta do correio quando me dirijo a alguém nesta terra, espero que demore apenas umas horas a ter a resposta a uma mensagem de correio electrónico quando envio alguma para os Estados Unidos. Tenho mesmo a impressão, muitas vezes, de que lá as pessoas estão permanentemente ligadas e assim que o meile chega, isso implica um resposta quase imediata como se fosse um telefone que toca.
Desta vez a resposta da reserva de um hotel em NY demorou cerca de 24 horas. Uma eternidade depois de ver o débito lançado no cartão de crédito. Mas, mais uma vez, tudo correu bem. É um tempo de eleição este em que vivémos. Onde podemos planear, fazer reservas, quase ver as nossas férias antes de as termos visitando os locais aonde vamos. Ter a possibilidade de estar no início desta era, acompanhar e viver esta história da Internet quase desde o início é um imenso privilégio. Sorte de homem do hemisfério Norte.

sexta-feira, maio 07, 2004

Experiência

Mesmo reconhecendo que a ameaça era remota e inverosímil, invadiu-me um desconforto estranho. A partir de agora, terei mais cautela quando me apetecer dizer aos doentes que a probabilidade de neoplasia não vai além de 5%. Na verdade, nestas circunstâncias, a epidemiologia pode mesmo ser ofensiva, porque cada doente é um possível candidato a um desses cinco por cento. E vai sê-lo todos os dias até saber o resultado da biopsia.

quinta-feira, maio 06, 2004

Homem nu com trela

Título para um quadro a negro inspirado na formação humanista dos autores. As escolas de virtudes das Academias Militares produzem estes criadores. Mas não devem esquecer-se neste momento as imagens de exibição de caça, que foram divulgadas na altura da prisão do Saddam. Não terão estes, agora, seguido apenas a arte do Mestre Bush?
A guerra é sempre um espectáculo feio, muito feio mesmo. De uma forma geral, tentam os Homens apagar das suas memórias as imagens que viveram. Curiosamente, estes soldados deleitaram-se a registá-las para mais tarde recordar. Quanto ódio não foi instilado nas suas cabeças? Quanto primitivismo sub-humano é necessário para suportar uma guerra sem sentido, de forma acrítica, sem recuar um instante?

quarta-feira, maio 05, 2004

Doutrina

Gostaria de poder considerar verdadeira esta notícia, mas efectivamente tal não é possível. Na segunda-feira, o que se comemorou foi a véspera do dia em que o FCP ia jogar na Corunha, ontem a vitória do FCP na Corunha, hoje a festa dos adeptos do FCP que às duas da manhã os esperavam no Porto. Não é para menos, ganharam por dezenas de golos a fazer fé nos relatos da TSF com golo do Ninja de meia em meia hora...
A liberdade de imprensa, possivelmente, devido a alguns contrangimentos de que o autor da notícia fala, resume-se a isto. E é para isto que temos a chamada liberdade de imprensa com os tais constrangimentos. Liberdade de doutrinação?
Para terminar, congratulo-me com o riso do Mourinho no fim do jogo. O Mister quando ganha, sabe rir. Essa foi a melhor imagem do jogo. Afinal, o homem não será tão amargurado quanto parece.

terça-feira, maio 04, 2004

Relações

O maior poder é ficar com a sensação de que se não usa todo para que o outro possa ter o seu, mesmo quando o nosso é bastante maior que o dele. O doente sempre está nesta relação na posição de baixo. O saber, pretensamente, no médico, dá-lhe poderes. Dosear este poder e transformar a relação em confiança, é o que se deve exigir a quem domina. Exigir ao doente que assine uma declaração a dizer que se responsabiliza pelo não internamento é muitas vezes fruto de uma realção episódica, em que não houve tempo suficiente para se criarem laços de confiança. Creio que ninguém gostará de o fazer e só numa sociedade de intolerância tal será possível. O risco partilhado, porque de um e outro lado há bons motivos para assumir as atitudes que se tomam, é a solução mais gratificante e responsabiliza ambas as partes. A sensação que dá é que o doente vai para casa mais bem tratado do que ficaria se fosse internado. Mais não seja porque não foi violentada a sua vontade com a prepotência do poder do médico. Nesses momentos, a relação assume uma dimensão de grandeza que satisfaz, não angustia.
E fica a ausência de remorsos por se não ter condenado à fome o cão sozinho em casa. Aconteceu-me hoje, pela segunda vez, uma doente não poder ser internada por ter um cão sozinho em casa. Amor com amor se paga.

domingo, maio 02, 2004

Um momento de alienação

A hora é de unidade. Depois das emoções fortes de hoje, podemos ainda ter, em conjunto, um momento da nossa alegria possível: festejar a vitória na final contra o FCP. Todos juntos contra o sistema!

sábado, maio 01, 2004

Estive fora, mas li e chateei-me

Para os novos ricos da democracia, gostava de lembrar que naquele tempo nem tudo era desaproveitável. O Totas era o reitor do Camões, uma figura sinistra meio padre, meio pide. Mas teria sido boa escola para alguns ministros do estado a que isto chegou. O Totas era implacável. Quem mascasse pastilha elástica na aula era posto na rua. Bons exemplos que se perderam.
Além de intriga mal educada, que produziu até hoje tal personagem? Que dívida terá o país a pagar a gentinha desta?

Foi diferente nessa altura

Foi há 30 anos. O primeiro dos Primeiros de Maio. As ruas de Lisboa alagadas de gente renascida. O povo unido jamais será vencido! A pele arerpia-se ainda hoje, quando a memória reaparece. Naquele tempo havia uma fúria de vida. Não, não era evolução que queríamos naquele dia. Era um grito que exigia mais. O grito do fim do medo. Era a certeza de que unidos venceríamos. Mas a evolução nos dividiu. O meu Primeiro de Maio foi este ano em Itália há uns dias atrás.