Deixem-me fazer um intervalo para me lembrar do descanso do fim-de-semana.
Soube bem na sexta-feira, zarpar pelo Alentejo abaixo com visões papoilas e arroxeados e ouvir alguém, já crescido, falar-me de vacas das antigas, daquelas que têm manchas pretas e brancas... Começava animado o fim-de-semana.
Depois de chegados à quietude do Alvito, o encontro feliz com a funcionária do Turismo local. A D. Dina mantém a porta do posto de Turismo aberta, até fora de horas se preciso e fala entusiasmada do Alentejo que descobriu há 3 anos e mostra-nos a rota do fresco, o percurso manuelino, a gastronomia, aumentando-nos o apetite para descobrir o Alvito que pensávamos ser apenas um sítio de estar de papo para o ar. Subitamente, ficamos com a ideia que o fim-de-semana não vai chegar. Algum fundamentalista diria que a senhora não é funcionária pública e que o Turismo do Alvito foi tomado por alguma empresa privada. Enganam-se, precisamos de encher esta terra de Donas Dinas.
Depois o ar pousado e sabido do senhor Alfredo que nos mostra a igreja de São Sebastião, os anjos músicos e nos passa de seguida para a esposa que nos leva a ver as grutas de Alvito de onde saíram as mós que fizeram o pão durante séculos. Pararam no século XV e só o senhor Alfredo sabe porquê. Quem quiser saber que vá lá ver. Mais não digo, mas ele sabe o que outros nem imaginam...
No sábado, Vila Nova da Baronia e sua igreja fechada. Mas as portas abrem-se que o senhor Otávio da loja ao pé da Caixa Agrícola tem a chave e a filha lá nos leva a visitar a igreja. Nas ruas, conversa-se calmamente, indiferentemente aos casamentos de Princesas, que a vida do povo não discute cores de vestidos nem decotes.
Bom foi ver mais tarde a melhoria das ruínas de São Cucufate. Agora com centro de acolhimento como qualquer Visitor Centre americano (excepto o pobrezinho parque de estacionamento). Per deu-se a descrição castiça do Senhor Pé Curto, mas ganhou-se a informação mais fundamentada do novo Ranger... Sente-se que o IPAR, existe e realiza e isso foi surpresa neste país de desencanto informativo.
Vou aqui deixar a referência ao Vila Velha na Vidigueira, um espaço agradável para provar açorda de beldroegas e migas de espargos acompanhadas pelo tinto local. A Vidigueira ficou por ver, mas depois do almoço, o principal estava feito, creio eu. E ficou por explorar porque queríamos voltar ao Alvito a tempo de estar na visita guiada à Igreja Matriz, às 15h. Afinal, houve atraso no almoço e só para 18 seria a visita que não fizemos. Melhor, fomos à barragem de Odivelas e encontrámos a Markadia, espaço alentejano recuperado por holandeses, onde a visão da barragem retempera do calor. Fica-me a ideia de uma semana em perspectiva, lá mais para a frente.
Domingo, foi dia de esperar pelo sol na beira da piscina, enquanto os pavões gritavam ao desafio com os vendedores da feira do tudo a um euro.
Uma passeata a ver as portas e janelas manuelinas em circuito bem desenhado no folheto que a D Dina nos deu na véspera, antes de largarmos estrada abaixo a caminho de Beja.
Beja parecia adormecida à hora do almoço, quase deserta. Os restaurantes fechados, que domingo foi feito para se descansar. Lá encontramos um de nome Floresta, onde a sopa de cação cheirava ao Alentejo todo.
Foi assim antes de rumar até às ruínas de Pisões. Uma nuvem negra espreitava antes da visita, deitado já alguns salpicos. Mas lá fomos que não somos turistas de desistir. Avançamos com o guia pela casa dentro, mirando os mosaicos enquanto a nuvem não desistia. O polícromo começava a ficar cada vez menos nítido com a distracção da chuva, que cada vez mais me ocupava. Em crescendo. Mas tivemos uma retirada digna sem precipitações (excepto a da água que nos ensopou as T-shirts). Que seria destas visitas sem incidentes destes? Que contaríamos depois, que nos ficaria na memória? Que resta das palavras dos guias ditas em catadupa sobre nós?
Pelo caminho para Lisboa imaginei-me noutro planeta. O da confiança, do progresso, do melhor dos mundos e fiquei a saber que se alguma coisa não correr bem daqui em diante, os culpados estão bem identificados. São, como ontem, os mesmos desestabilizadores de sempre. Vermelhos anacrónicos, que ainda se não renderam à história que o Imperador nos conta tão candidamente.
E só me faltava ontem ouvir aquela anedota da penalização do SLB. Mas anda tudo doido?
Anda! O Imperador vai destruir a prisão do Grau, Graih, Gralh, isso! Com essa destruição que pensa ele que destrói? A nossa memória persistirá, contudo e com tudo.
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