Um puzzle de queixas desconexas de aparecimento súbito e fica-se do lado de lá, do lado dos doentes. Nas mãos dos médicos, a experimentar as novas formas de diagnóstico. Agora, os diagnósticos fazem-se juntando pistas e não a história com a observação. Andamos demasiado depressa para falarmos com os doentes e temos tecnologia excessivamente acessível para perdermos tempo. De repente no meio da confusão, nos exames de um problema, algo aparece que tudo esclarece. É uma sorte! E depois, olhamos para trás e estava tudo na história. Tudo tem sentido fisiopatológico. Como nas histórias policiais, verificamos que as peças encaixam todas de forma muito perfeita. Era fácil, afinal. Difícil é imaginar o conjunto antes da evidência, com a tendência que vamos tendo para desconfiar das simulações excessivamente acreditadas. Deixamos de acreditar nos doentes, que, na verdade, com frequência simulam. Estimulados pelo mundo das imagens? Dão-nos imagens de dores imaginadas, hipertrofiadas para se ter importância. Pedro e o lobo.
Mas o drama dos doentes é real por terem de enfrentar dois obstáculos, esta dúvida e as dúvidas da hiperespecialização. Hiperespecialista vê a folha, um bocadinho da árvore, mas a floresta é-lhe inacessível. E os doentes são quase sempre uma floresta, quantas vezes mal cuidada e difícil de expugnar. Também é um drama dos médicos de hoje. Embrenhados no micro, divertidos na nossa superioridade de conhecedores do que os outros nem sonham, ficamos sem a visão global. E se caímos do outro lado, percebemos finalmente o drama. Teremos de viver a angústia da incerteza até surgir o tal momento de sorte. Deve ser um tempo longo em que nos passam pela cabeça todos os medos dos diagnósticos mais estranhos e se a sorte demora, o futuro deve ficar pequenino e talvez venha à cabeça a raiva do que não ficou feito na dúvida de já não ir haver tempo pela frente. Depois, a alegria do fim dos medos no alívio do puzzle acabado. Mas devemos ficar diferentes ou ficaremos de novo com tempo para tudo, donos da eternidade?
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