SÍNDROME DE ESTOCOLMO
Todos sabemos de pessoas a quem as relações não correram bem. Houve um tempo de paixão em que tudo iria dar certo, mas depois com a vida a andar surgiram as dificuldades, que, tornando-se insanáveis, levam a uma separação inevitável. Também conhecemos aquelas que depois dessa experiência, reincidem na escolha de alguém que lhes volta a parecer perfeito. Desta vez sentem a dificuldade de falhar de novo e sujeitam-se ao que nunca julgaram ser suportável, mas o receio de admitir isso, leva-as a um esforço ainda maior até aquele momento em que já não dá mais. Olham então para a sua vida e quase percebem que um caso e o outro eram, na verdade, parecidos e das duas vezes (acontece que podem ser muito mais do que duas) se tinham apaixonado não por alguém concreto, mas pela imagem que deles faziam e foi a vida que lhes revelou a realidade. O problema é a ilusão ou a vontade de se iludir com um sonho que se imaginou. Mas era apenas um sonho em momentos de paixão. Não basta o sonho nem a esperança de que mudem com o tempo. É assim, a natureza deles e sempre acaba a correr mal. Algumas pessoas, ao fim de umas tentativas de iteração no mesmo erro, desistem e abstêm-se, deixam de procurar, outras, mais curiosas e sábias, acabam por perceber a realidade e ajustam as escolhas, acertando por fim.. Afinal havia outra alternativa que permitia a vida.
Vivem num país onde após uma longa noite de solidões forçadas, nasceu o tempo em que passaram a poder escolher. Iludidas fizeram as escolhas que a imaginação lhes ditou como perfeitos e andam há quase 50 anos a escolher entre um e o outro, chegando sempre à conclusão que não era, afinal, aquilo que tinha imaginado, o seu ideal não corresponde nem de longe ao que a realidade lhes vem sempre a revelar. Eles, manhosos, mudam de cara, gerando novas ilusões, mas a sua natureza maligna permanece. Está na hora de mudar de sonho e, não caindo no desespero do mergulho na solidão de outros tempos porque para pior já basta assim, é necessário ousar pelos mal ditos, que já nos tempos de solidão eram os únicos diferentes e que levaram, com a sua forma de ser, a uma vida digna de ser vivida. Sim, podem fazer isso, quebrar as grilhetas. Ou persistirem na síndrome de Estocolmo.
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