segunda-feira, fevereiro 12, 2024

 A DEBACLE DOS DEBATES

Ontem começou o circo da chamada democracia. Em números de 25 minutos os gladiadores das palavras despejam mensagens nervosas e sorrisos de escárnio sobre o parceiro, disfarçando o nervosismo do embate. Não é propriamente uma tentativa de esclarecimento do que pensam e do que se propõem fazer, mas causar uma boa impressão em quem ouve (?) o que dizem que ali os leva. Nesta atividade são acicatados por um imperador que não busca as ideias deles, mas antes encostá-los às cordas para ver como se conseguem safar. Acontece que esta «moderação» é geralmente feita por papagaios que têm discursos identificados com o patrão que lhes compra a alpista e agem para ser bons profissionais com o objetivo de aumentar a audiência. A audiência, imagino que delire perante estas lutas a ver quem ganha. Já assim era nas arenas em Roma ou nas fogueiras da Inquisição que diziam ser santa. No fim do jogo, vêm as sumidades explicar ao maralhal o que eles estiveram para ali a dizer e levantar o braço do vencedor, que foi o mais assertivo, o que correspondeu mais às expectativas, mostrou estar mais seguro, usou a gravata mais condizente, teve o melhor sorriso e piscou mais ou menos os olhos. Estas sumidades são alegadamente independentes, mas a ouvi-los percebe-se que também têm um patrão a quem têm de agradar e as suas opiniões, necessariamente, são ajustadas ao interesse dele.
E é assim que se forma a opinião do público, afastado de pensar o que quer que seja sobre o que se ouviu, domado pela sapiência dos comentadores. E é assim o público que já na escola preferia ler o resumo dos Maias em vez de ler o livro e se formou a responder aos testes de escolha múltipla em vez de estudar a matéria, porque o importante era o resultado. Sempre que possível copiava-se pelos parceiros, agora basta saber-se o resultado das sondagens, como se sabem feitas por entidades independentes e seguindo a melhor metodologia científica (a da varinha de oliveira na busca da água subterrânea, que, às vezes, até acerta).
A democracia é isto: há uma maioria, com a barriga cheia desta liberdade, que tem o que merece e algum tempo depois diz que não teve nada a ver com o que está a acontecer, que a culpa foi de quem votou neles e uma minoria que estrebucha, de incrédulos no circo, que também tem o que não merece, mas que sente, ao menos, o conforto de não se ter deixado enganar, porque não há machado que corte a raiz ao pensamento.
O que chateia é estar-se a perder a oportunidade de fazer coisas mais bonitas.
Mas, siga a dança.

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