segunda-feira, fevereiro 12, 2024

 NÃO É QUE NÃO SEJA NECESSÁRIO

Há uma distância grande entre o que se sonhou e o que se vê feito e em cada dia que passa se sente a falta de tempo para acrescentar o que se quis. Depois, olha-se em redor e estranha-se a quase ausência de caminhos nos que ficam, perdidos e desistentes. Não têm noção do que foi e de como era difícil, de como foi necessário até emigrar, fugir a uma guerra estúpida ou ainda mais estúpida do que todas as outras. É preciso falhar para se encontrar o caminho e aprender com os erros. Se assim se não fizer, fica-se convencido de certezas ilusórias. Há uma acomodação à vitimização que rende.
Mas agora há cada vez menos paciência para mudar. Está como está e sente-se que, por mais cético que se seja, ficou melhor. Comodamente apetece desfrutar do que se tem. Devem conservar-se as energias para o combate contra a indigência exigente que pode querer vir a pôr em causa o resultado a que se chegou. Não é preciso provar as castas todas, basta saboreá-las com gosto e chegar a um ponto em que se sente que se teve bastante.
Há outro caminho alternativo, mas possivelmente só lá se chegará no futuro. Às vezes é preciso errar para avançar. O problema maior é não perceber por que se erra.

 A ARTE DA MENTIRA

Nestas coisas muitas vezes as certezas são antes desejos e a realidade é mais incerta do que parece ser. Fui feito em tempos maus e, adolescente, apreciava os que retratavam esses tempos e outros, possivelmente ainda piores, mais antigos. Percebe-se que os meus heróis de então fossem o Soeiro Pereira Gomes, o Alves Redol, o Aquilino e até o Vergílio Ferreira, mais até do que o Eça e nunca o Camilo ou o Júlio Dinis, que denunciavam o país feio em que eu vivia. Na ânsia de os ler, escaparam-me romances onde houvesse mais sonho e beleza. Arranjei aliados para o combate à custa da ausência de argumentos que fizessem sonhar e amolecessem a vida de quem os lê. Endureci.
Hoje, numa visita ao Museu do neo-realismo em Vila Franca, fui assaltado pela ideia de se não seria esta arte um pouco reacionária, se não terá a arte antes o papel de fazer sonhar, mesmo que o sonhado não passe disso e seja uma espécie de antidepressivo que faça tolerar a realidade sem a mudar. A realidade está à vista, a sua representação é um documento histórico, a fotografia de um tempo e, ainda que doa, alerta e não anestesia quem a vê. Há instantes em que a dor é melhor do que o sono, reacionário é o que não desperta.
Hoje, perante algumas adversidades, os jovens não querem que elas lhes sejam mostradas, preferem as visões dos sonhos e também não precisam de aliados para o combate, porque já têm as armas todas ao alcance de um click e o inimigo não é brutal como noutros tempos. Amolecidos de mimos, vitimizam-se com o mundo que lhes prepararam, muitas vezes considerando-se que estão por cá para serem um luxo dos pais e ficam à espera que aconteça em vez de fazerem acontecer. Desde pequenos ostracizaram a leitura e, maiores, consideram inúteis a história e a filosofia, isto é, não sabem de onde vêm nem adquiriram os instrumentos para pensar. A geografia, informa-os de uns sítios onde poderão ir passear um dia. Escolarizados, aprenderam a falar inglês para poderem entender os donos e a fazer segundo as suas normas. São a geração mais bem preparada para servir o sistema, onde criarão valor para os donos. Estão sozinhos, mergulhados nos sonhos dos ecrãs, falta-lhes a energia e aguardam que alguém lhes sirva o mundo dos seus sonhos. Idolatram a barulheira do rock e a gritaria à sua volta, adoram quem grita mais alto e culpabilizam sem piedade os que lhes deram o mundo em que estão. Toda a ruindade do mundo é culpa da peste grisalha, mas, finalmente, chegou o pastor que os vem salvar, cheio de soluções para todos os seus problemas. Nem percebem que o rebanho está a ser levado no caminho do matadouro. (Resta a esperança que, no dia decisivo, fiquem a dormir.)
Estamos no tempo da arte da mentira, mas, reacionário, permanecerei no tempo da realidade.

 SÍNDROME DE ESTOCOLMO

Todos sabemos de pessoas a quem as relações não correram bem. Houve um tempo de paixão em que tudo iria dar certo, mas depois com a vida a andar surgiram as dificuldades, que, tornando-se insanáveis, levam a uma separação inevitável. Também conhecemos aquelas que depois dessa experiência, reincidem na escolha de alguém que lhes volta a parecer perfeito. Desta vez sentem a dificuldade de falhar de novo e sujeitam-se ao que nunca julgaram ser suportável, mas o receio de admitir isso, leva-as a um esforço ainda maior até aquele momento em que já não dá mais. Olham então para a sua vida e quase percebem que um caso e o outro eram, na verdade, parecidos e das duas vezes (acontece que podem ser muito mais do que duas) se tinham apaixonado não por alguém concreto, mas pela imagem que deles faziam e foi a vida que lhes revelou a realidade. O problema é a ilusão ou a vontade de se iludir com um sonho que se imaginou. Mas era apenas um sonho em momentos de paixão. Não basta o sonho nem a esperança de que mudem com o tempo. É assim, a natureza deles e sempre acaba a correr mal. Algumas pessoas, ao fim de umas tentativas de iteração no mesmo erro, desistem e abstêm-se, deixam de procurar, outras, mais curiosas e sábias, acabam por perceber a realidade e ajustam as escolhas, acertando por fim.. Afinal havia outra alternativa que permitia a vida.
Vivem num país onde após uma longa noite de solidões forçadas, nasceu o tempo em que passaram a poder escolher. Iludidas fizeram as escolhas que a imaginação lhes ditou como perfeitos e andam há quase 50 anos a escolher entre um e o outro, chegando sempre à conclusão que não era, afinal, aquilo que tinha imaginado, o seu ideal não corresponde nem de longe ao que a realidade lhes vem sempre a revelar. Eles, manhosos, mudam de cara, gerando novas ilusões, mas a sua natureza maligna permanece. Está na hora de mudar de sonho e, não caindo no desespero do mergulho na solidão de outros tempos porque para pior já basta assim, é necessário ousar pelos mal ditos, que já nos tempos de solidão eram os únicos diferentes e que levaram, com a sua forma de ser, a uma vida digna de ser vivida. Sim, podem fazer isso, quebrar as grilhetas. Ou persistirem na síndrome de Estocolmo.

 SEM PRESSA TEM-SE A CERTEZA

Com o passar dos anos, chegou a um estado de arrogância tranquila. Ainda não frágil, a sua forma de sorrir era cada vez mais segura. Quem o visse e o não conhecesse, achá-lo-ia talvez desinteressante. A verdade é que isso, que noutro tempo o teria preocupado, agora lhe não interessava nada. Enchia-o de gozo sentir-se invisível, e ter, finalmente, acedido aquele estado de mosca que dantes lhe ocorria ao espírito em momentos de agudização da curiosidade. Como gostava de ser mosca, lembrava-se de o ter pensado. Agora podia olhar o mundo agitado a partir da sua calma, porque ninguém lhe daria muita importância e isso enchia-o de uma certeza (que não queria impor a ninguém, porque talvez ninguém a merecesse) de que tempos houve em que a solidez da realidade era bem mais segura do que a volatilidade da virtualidade pouco virtuosa. Havia como que uma degenerescência geracional. Lembrava-se dos professores de antes que eram mestres e comparava-os com os aprendizes de agora, inseguros e a tentarem ter piada. Sim, quem não se dá ao respeito, acaba desrespeitado. Era fatal. Não havia também comparação entre os políticos de antes e os atuais que lhe pareciam jovens de uma qualquer RGA daquelas em que tinha participado na faculdade, a gritarem inseguranças e truques para impressionarem quem os ouve. Nunca o penteado, a barba ou a cor da gravata tinham tido qualquer relevância e nem era preciso dizer a mensagem em 30 segundos no tempo em que havia tempo. A fotografia de um olhar sempre lhe parecera mais forte do que a mobilidade do olhar visto no cinema. Mas também já nem sequer tinha tempo para lamentar a falta do tempo ou a correria que aí ia. Olhava com uma terna saudade o tempo que tinha passado na Paulistana, ali perto do Saldanha, em conversas durante a tarde, depois da bica já tomada. Confortava-o e sorria ao lembrar-se da esperança que tinha nesses tempos que, mais do que isso, era uma certeza, de que melhores tempos teriam de chegar. E chegaram naquela quinta-feira que agora se pode reviver nas fotografias do Alfredo Cunha ou do Gageiro. Sim, isso foram registos cautelosamente feitos porque os rolos tinham limite de disparos ao contrário dos clicks de agora, feitos automaticamente, sem necessidades especiais de pensar o que se está a fazer, acabando por se acumular doses gigantescas de lixo que a inércia não apagará das memórias e quase sempre lá morrerão invisíveis porque não precisam ser reveladas e materializadas em papel fotográfico. Empanturrados de todas as farturas, tinha por eles uma ternura condescendente. Eram fruto do tempo de involução da história como sempre tem acontecido em certos períodos. Sabia que não há mal que sempre dure e isso gerava nele a esperança e a certeza de um dia os netos terem, de novo, tempos de progresso. Nem que fossem os netos dos seus netos. Seria só uma questão de tempo. Afinal, já quando gastava as tardes no café essa era a certeza que o tranquilizava. Como nas ondas da praia também na história, há um vaivém, que, na fotografia, gera um arrasto revelador da beleza sossegada que o tempo de abertura permite ver. É só preciso reduzir a velocidade e ver durante mais tempo, descongelar a realidade instantânea

 A DEBACLE DOS DEBATES

Ontem começou o circo da chamada democracia. Em números de 25 minutos os gladiadores das palavras despejam mensagens nervosas e sorrisos de escárnio sobre o parceiro, disfarçando o nervosismo do embate. Não é propriamente uma tentativa de esclarecimento do que pensam e do que se propõem fazer, mas causar uma boa impressão em quem ouve (?) o que dizem que ali os leva. Nesta atividade são acicatados por um imperador que não busca as ideias deles, mas antes encostá-los às cordas para ver como se conseguem safar. Acontece que esta «moderação» é geralmente feita por papagaios que têm discursos identificados com o patrão que lhes compra a alpista e agem para ser bons profissionais com o objetivo de aumentar a audiência. A audiência, imagino que delire perante estas lutas a ver quem ganha. Já assim era nas arenas em Roma ou nas fogueiras da Inquisição que diziam ser santa. No fim do jogo, vêm as sumidades explicar ao maralhal o que eles estiveram para ali a dizer e levantar o braço do vencedor, que foi o mais assertivo, o que correspondeu mais às expectativas, mostrou estar mais seguro, usou a gravata mais condizente, teve o melhor sorriso e piscou mais ou menos os olhos. Estas sumidades são alegadamente independentes, mas a ouvi-los percebe-se que também têm um patrão a quem têm de agradar e as suas opiniões, necessariamente, são ajustadas ao interesse dele.
E é assim que se forma a opinião do público, afastado de pensar o que quer que seja sobre o que se ouviu, domado pela sapiência dos comentadores. E é assim o público que já na escola preferia ler o resumo dos Maias em vez de ler o livro e se formou a responder aos testes de escolha múltipla em vez de estudar a matéria, porque o importante era o resultado. Sempre que possível copiava-se pelos parceiros, agora basta saber-se o resultado das sondagens, como se sabem feitas por entidades independentes e seguindo a melhor metodologia científica (a da varinha de oliveira na busca da água subterrânea, que, às vezes, até acerta).
A democracia é isto: há uma maioria, com a barriga cheia desta liberdade, que tem o que merece e algum tempo depois diz que não teve nada a ver com o que está a acontecer, que a culpa foi de quem votou neles e uma minoria que estrebucha, de incrédulos no circo, que também tem o que não merece, mas que sente, ao menos, o conforto de não se ter deixado enganar, porque não há machado que corte a raiz ao pensamento.
O que chateia é estar-se a perder a oportunidade de fazer coisas mais bonitas.
Mas, siga a dança.

 VENHAM MAIS

Ainda há coisas raras que vêm por bem como receber um telefonema de um número desconhecido a meio da tarde. O número era desconhecido, mas logo houve uma sonoridade familiar na voz do outro lado. Sim, não estava à espera, claro que não, a gente não pensa, ouvir assim de repente, alguém que já não ouvimos há mais de 40 anos, porque seguimos caminhos diferentes e os contatos que tínhamos se perderam também como as visões matinais quando o nevoeiro fica cerrado. Mas o nevoeiro geralmente levanta. E, mesmo tendo o hábito de ter chamadas telefónicas muito curtas, ali ficámos durante largos minutos numa tentativa bisbilhoteira de recuperar as novidades de 40 anos, tanto foi o que se passou desde o tempo em que os projetos nos uniram, quando delineámos estratégias para o que seria o futuro, e cada um em seu lado, depois, fomos vendo o desmoronar de quase todos os nossos objetivos. Como percebo o teu desconforto pela surpresa da morte do nosso amigo, mas é assim a vida e, hoje em dia, corremos sempre o risco de telefonarmos para alguém que já não está do outro lado da linha ou darmos os parabéns nos aniversários que já não existem a quem deixou o Facebook aberto. É arriscado andarmos distraídos. Salvaram-se as histórias pessoais, os romances e amores, os filhos e os netos que agora temos. De certa forma, são eles que vão acrescentar futuro ao nosso passado. Percebemos que estamos meio conformados com a vida. Nós até nos safámos nestes caminhos do tempo passado, mas agora percebemos que há uma reta final e há um tempo meio urgente de nos revermos, agora que é mais fácil por já termos meios de contacto atualizados. Ainda vai haver tempo para continuarmos a conversa e vermos até onde nos transformámos no tempo que passou e o que fizemos aos sonhos. Estaremos assim tão diferentes? Para já, vais enviar-me o teu livro para te rever um pouco. Olhei agora para a prenda que me deste aos 23 anos.
Fico grato à amizade, esse mistério que pode hibernar durante mais de 40 anos e tem mesmo assim esta potencialidade de renascer. As surpresas tem o encanto de matar as rotinas, mas é muito desconfortável estar muito tempo longe dos amigos. E quantas vezes isso acontece só por uma questão de rotina? Incomoda esta forma distraída de aqui andar.

 AGORA É QUE FOI

Bateu-se no fundo, foi afetado o normal funcionamento da principal instituição do país. Até pode andar toda a gente aos berros que isso pouca importância tem e de tão habitual pode até deixar de ser notícia. Desiludam-se os médicos, os enfermeiros, os professores, os agricultores (não confundir com os lavradores da lavoura), os jornalistas (não confundir com os papagaios) e aceitem a vossa insignificância. Há, finalmente, aqui alguém que atacou os fundamentos do sistema e nos consciencializa da necessidade da mudança. E foi por uma coincidência daquelas que tão raramente acontecem. Subitamente, algures na terra, grassa uma epidemia entre os polícias e um a um dos destacados para o evento ficam debruçados nas sanitas com vómitos incoercíveis, ou nelas sentados a borrarem-se até à desidratação na antecâmara da fatalidade. A OMS, que já tinha alertado para o problema das epidemias, irá com urgência estudar este problema e encontrar o novo vírus ou lá o que for a causa desta maleita que nos põe a todos à beira do abismo. Podemos estar sem médicos, sem enfermeiros, sem professores, com os agricultores a passearem na autoestrada de trator, os jornalistas calados, podemos até estar sem governos no continente ou nas ilhas e sem perspetivas de os virmos a ter, podemos até estar sem país, mas não sobreviverá à falta do futebol. E o pior é que já não se pode chamar a polícia para resolver o problema, porque estão doentes, sem possibilidade de internamento devido às condições caóticas dos hospitais, deseducados pelo desastre da escola pública, famintos porque os campos estão abandonados. E a população já habituada e capaz de resistir a toda a doença, à ignorância, à fome e à desinformação não vai resistir sem poder discutir acaloradamente se houve ou não fora de jogo ou havia lugar à marcação da grande penalidade.
E tudo começou quando o parágrafo ditou o ponto final, dispensando o travessão na outra linha. O diálogo acabou nessa altura.

quinta-feira, fevereiro 01, 2024

 S GAVETAS CHEIAS DE QUASE NADA

Olhou para o móvel de gavetas e contou-as. Ainda se lembrava do comprimento vezes altura e não precisou de ir uma a uma para contar até 60. Se as estivesse a contar, o mais provável era que algo o distraísse a meio e tivesse de voltar ao início. Podia contar de 10 em 10, por exemplo, mas daí a nada já tinham passado 30 ou seriam 40 e teria de recomeçar. Assim, foi mais fácil 10 de largura e seis de altura, eram 60. Sessenta gavetas, castanhas, ornamentadas com um puxador metálico bronzeado pelo tempo, cada um com um pequeno retângulo metálico por baixo, para se lá colocar um papel branco com o conteúdo suposto da gaveta. Tinha chegado a uma fase em que se tinha tornado crente e lhe bastava ler o rótulo sem nunca ter a necessidade de abrir a gaveta para confirmar o que lé estaria dentro. Mesmo não tendo sido ele o autor da catalogação, nem de alguma forma ter contribuído para isso, acreditava piamente nos rótulos sem ter curiosidade pelo conteúdo. Aliás, verificar o que ia dentro de cada uma das 60 gavetas, seria uma tarefa demasiado cansativa e, ainda que estivesse numa fase de desconfiança relativamente a tudo e a todos, era-lhe mais cómodo ir pelos rótulos, acreditando cegamente no que eles lhe diziam. Adorava aquele móvel gaveteiro, com aqueles anúncios do que continha cada gaveta. Aquilo simplificava-lhe a vida e as escolhas. Cada anúncio era uma verdade que lhe dava uma imensa sensação de tranquilidade. Tinha havido tempos em que, descrente, precisava verificar todos os conteúdos, mas depois veio a facilidade dos rótulos e converteu-se aquela fé. Ultimamente, estava a parecer-lhe, que havia um número crescente de gavetas rotuladas com a palavra corrupto. Eram já várias em que surgia depois dessa palavra um número romano. Alguém, supostamente independente, andava a encher as gavetas de supostos corruptos. Sentia uma tendência crescente para que, dentro de algum tempo, o número romano chegasse ao LX. Não sabia exatamente quanto tempo iria demorar, mas essa era a sua principal curiosidade atual. Nessa altura, mais nada haveria dentro do móvel, a fazer fé nas etiquetas dos retângulos metálicos, por baixo dos puxadores bronzeados. Seria o momento de pegar fogo aquele móvel de cerejeira a ponto de nada lhe sobreviver. Foi então, que decidiu, num último esforço, abrir uma gaveta e viu que, apesar do rótulo, estava vazia. Com espanto, abriu mais algumas, quase sempre com o mesmo resultado. Seria possível que os autores das etiquetas das gavetas, maldosamente, o andassem a enganar e o móvel só tivesse gavetas vazias? Desconfiado, percebeu o seu erro de acreditar em tudo, sem tirar a limpo o que dizem os rótulos. Concluiu que era preciso não se ficar pelos anúncios e escrutinar os conteúdos. Era imprescindível fazer uma limpeza dos rótulos e de quem os andava a pôr ou ainda o haviam de engavetar. Assim foi feito e foi, dessa forma, que o móvel se salvou da fogueira anunciada.