sábado, dezembro 31, 2005
sexta-feira, dezembro 30, 2005
Lapsos
A Crise
O PSI 20 subiu 13% no ano corrente. O Eurostoxx muito mais.
A economia está em crise. Qual? A da especulação financeira não será, certamente. A crise é sempre dos mesmos, dos que não têm iniciativa... Não dos trabalhadores na Bolsa.
Cinquenta por cento dos operários da construção civil não estão inscritos na Segurança Social. De quem é a culpa? Quem ganha com isso? Que ricos empresários!
Está explicada a enxurrada dos Colombos, a corrida aos Multibancos, o bom momento dos hotéis no fim do ano. Crise? Qual crise? A crise é sempre dos mesmos, porque quem nos governa são sempre os mesmos. Há 30 anos... E eu que não tenho nada a ver com isto, tenho de os aturar!
O chefe do Governo, continua a deslizar... nada de interromper as férias, depois do dói-dói no joelho. Ter um PM que faz esqui é chique! Ficamos contentes...
Ontem queixavam-se que os combustíveis iam subir. Curioso foi ver os entrevistados a referirem que já estavam habituados, bem fadistas. No mesmo TJ vi a notícia do fim da siesta em Espanha. Os entrevistados espanhóis diziam, simples, nem pensar! As atitudes são diferentes, os destinos também. Espanhóis e portugueses são diferentes. Uns levantam a cabeça, outros põem-se de cócoras ou em posição do alemão que perdeu a guerra.
Agora um bom tipo diz que no ano novo temos de olhar mais para cima (para Deus) e menos para nós próprios... Esta malta quando olha para cima fica ofuscada pela Luz. Depois não se queixem.
quinta-feira, dezembro 29, 2005
Fotografia
Como andar à caça. Ir ao terreno, apontar a arma, disparar. Apanhar o instante do tempo. Depois é na bancada que se observam as diferenças entre o que se viu e o que se apanhou. Finalmente, há a possibilidade de cozinhar para descobrir novos paladares. O gosto transfigurado, aparentemente, mais apelativo. Saciados, fica-se com vontade de novos tiros, novos olhares sobre os instantes. E escasseia o tempo de apanhar estes segundos. Inútil? Possivelmente, seguindo os critérios de utilidade do sistema.
quarta-feira, dezembro 28, 2005
Dias
terça-feira, dezembro 27, 2005
Falou!
No Jornal de Notícias hoje:
Problema grave é o da deslocalização de empresas estrangeiras. Nessa matéria, o presidente pode ajudar?
Há uma coisa que pode ser feita em Portugal, que eu sei que já foi feita noutros países. Podia existir um responsável do Governo que fizesse a lista de todas as empresas estrangeiras em Portugal e, de vez em quando, fosse falar com cada uma delas para tentar indagar sobre problemas com que se deparam e para antecipar algum desejo dessas empresas se irem embora, para assim o Governo tentar ajudá-las a inverter essas motivações. Tem de ser um acompanhamento com algum pormenor que deveria ser feito por um secretário de Estado especialmente dedicado a essa tarefa.
Vai propor isso ao Governo?
Já o estou a propor aqui.
Onde é que isso foi feito?
Na Áustria, em relação a empresas que queriam mudar para outras paragens. Mas também noutros países, tenho a lista completa. Por outro lado, o investimento estrangeiro em Portugal está muito bloqueado. O presidente não pode fazer alguma coisa para ajudar a desbloquear? Se ajudar a aumentar o clima de confiança já faz alguma coisa. Esta é a fase em que Portugal devia concentrar o investimento estrangeiro nas chamadas médias empresas e internacionalizar.
O professor falou, finalmente. O professor propõe que se façam listas. A lista completa dos países ele já tem. Depois, o PR, segundo ele, nomeará um Secretário de Estado, que lhe irá fazer a lista das empresas. Feita a lista, adivinha-se o que se segue:
Pela madrugada, entram camiões TIR na empresa e sacam as máquinas. Na manhã seguinte, o Secretário consulta a lista e vai ao local. Está tudo vazio, o secretário confirma o nome da empresa, vai batendo à porta da Administração, mas só o silêncio lhe responde. Volta à tarde cabisbaixo e vai a Belém comunicar que eles já tinham deslocalizado. Vai ser uma lufa-lufa a fazer risquinhos na lista. Então criar-se-á a lista dos deslocalizados e põe-se nos jornais?
E assim seria este país se este professor fosse para Presidente. Primeiro, uma longa conversa com o PM, depois elaboração de listas sem fim e ordens do que se deve fazer. Melhor, vai dizer nos jornais (que ele não lia quando era PM) o que deve o Governo fazer. Na mesma entrevista, explica também que a equipa é boa, mas que ele será melhor treinador (raramente se engana) que o actual PR. É Cavaco no seu melhor! Claro como a água.
É disto que é preciso, que o professor fale para nos relembrar como é. Realmente. Será que o vão deixar dar mais entrevistas?
segunda-feira, dezembro 26, 2005
Mail aberto
agora que os papéis amarrotados se acumulam ao lado dos contentores de reciclagem, chegou a hora de mostrar às gentes que um homem não se rende. Falta já menos de um mês para o prolongamento necessário, mas só se vai ao tempo extra, se soubermos estar ao ataque. Afinal, temos o público do nosso lado. À volta do quadrado, a Esquerda é maior que a Direita e como na Catedral é quando se joga para a frente, que as bancadas enchem, a malta vibra e os golos surgem, nem que seja no último minuto. Vai ser preciso fazê-los entender isso, estamos a jogar em casa, somos mais. Precisamos que percebam que um homem que se não rende, tanto mais que isso seria falta de educação, é o jogador que faz a diferença. É preciso afirmar a simpatia pelo Jerónimo e pelo Louçã e ao mesmo tempo mostrar a inutilidade de participar na sondagem que ambos procuram fazer para saber qual dos dois é maior. A sondagem é inútil e muita gente já entendeu que é você a alternativa de vitória frente ao adversário da Direita. Já agora, não o critique, pois este é daqueles que basta recordar. É preciso, relembrar 1995 às pessoas, o desemprego, a corrupção nos ministérios, os bloqueios na Ponte. Em 1996, na eleição para Presidente, elas ainda se lembravam, agora estão mais esquecidas, mas mostrem-se bem esses tempos que a memória se lhes avivará. Afinal, as pessoas não mudam assim tanto e este ainda nem fez qualquer acto de contrição do seu passado, continua homem das convicções que sempre teve e, só tacticamente, lerá jornais e admitirá que algumas vezes se engana. Pergunte-lhe cara a cara, que erros tem o governo Sócrates cometido, em que discorda ele e conclua que ele é o candidato desta política e do aprofundamento do neoliberalismo e afirme-se como óbvia alternativa a esse caminho. Deixe-nos acompanhá-lo no quadrado.
Jogue mais aberto e mais ao ataque, que o nosso problema não é a defesa. Aí estamos nós e bastará atacar forte para esta maioria o levar à vitória.
domingo, dezembro 25, 2005
Intervalo, pretensamente, lúcido
Não se questiona, quase por pudor, a intervenção no controlo das doenças geradas pelo ambiente perseguindo-se exaustivamente o controlo do tabagismo, das dislipidemias, da hipertensão arterial, da obesidade e da diabetes. Em nome desses combates, suprime-se muitas vezes boa parte da vida ou pelo menos alguma da parte boa que pode ter. Gastam-se fortunas a investigar neste campo, quase se esquecendo que o controlo destes males, é, afinal, a geração de outros mais silenciosos e devastadores.
Quatro acidentes depois, que o tempo está de chuva, cheguei, finalmente, a casa.
sábado, dezembro 24, 2005
Um dia especial
sexta-feira, dezembro 23, 2005
Bet and win
O problema é que isto é realmente um jogo e não é proibindo o jogo formal que o real se esvai. Porque há muito que de jogo se trata, havia quem se dispusesse a fazer apostas. Ninguém se indigna realmente com a realidade deste jogo, por isso há quem se disponha a jogá-lo. Agora nem essa oportunidade lúdica nos resta. O jogo vai continuar e nós nem podemos brincar.
Estares
Ignorância e mitos
Mas é preciso acautelar-nos quando explicamos a outros aquilo que sabemos. Ensinar, provavelmente, mais não será do que trazê-los ao lado de cá onde estamos, fazer-lhes dar o salto.
terça-feira, dezembro 20, 2005
Momento
segunda-feira, dezembro 19, 2005
A mudar
Um estudo comparativo realizado pelo STE, com base em dados do Banco de Portugal, sobre a evolução salarial nos sectores público e privado, permite concluir que nos últimos cinco anos os trabalhadores da administração pública perderam 7,74% do seu poder de compra face aos seus congéneres do sector privado.
Este é um dos resultados de estarmos reduzidos a uma minoria de 10% de votos de quem pensa que se pode fazer uma outra história diferente. Diferente da história única que o Império nos quer ditar.
As duas faces da mesma moeda que nos governa (?) mostram desta forma a sua incompetência de gestão do país e perseguem na caminhada de destruir todo o Estado, abdicando de tudo o que pudesse ser administração do que dá lucro, abdicando de tudo isso em favor do interesse privado. Dessa forma, contudo, também perderãop, elews próprios, o significado de existir. Ficaremos cada vez mais entregues a nós próprios, sem esperança e sem rumo. Morto o Estado, jogaremos cada um para seu lado, o caos manifestar-se-á. É por aí que os cegos avançam em manada. Ou o pesadelo terminará um destes dias.
Como aconteceu há uns tempos na Noruega, lendo os nossos jornais, ontem não terá havido eleições na Bolívia. Mas, na verdade, algures, o soldadito boliviano Che Guevara olha-nos com aquele sorriso doce. Há qualquer coisa a mudar, na verdade.
domingo, dezembro 18, 2005
Será?
Publicado no Expresso só estranho que o Jerónimo ainda esteja à frente do Louçã. Por que se passa de cerca de 60% para a minoria? Foi o choque Sócrates, é óbvio. A dificuldade é perceber, porque será que os 4 tipos da esquerda (ao menos eles, que os jornalistas são o que são e se calhar nem têm que se meter no assunto) não perguntam ao da direita, quais as medidas em que discorda da Socrática política. No seu estilo PR-PM, vai reduzir de novo a idade da reforma, reisntituir os direitos perdiso pelos professores, magistrados, militares? Se agora fosse já PR teria impedido essas leis? Perecebe-se a dificuldade de Soares, que está nesta coisa nem se percebe bem porquê e ficava-lhe mal atacar o «amigo» que o promoveu a candidato. Alegre ainda não se decidiu a pôr em causa os «camaradas» porque acha que não está certo fazê-lo, ainda tem noções de honradez de outros tempos. Jerónimo e Louçã andam nisto para contar espingardas, uma espécie de segunda divisão, sem apuramento à vista.
A continuar a coisa ainda vamos ter primeira dama a tratar dos netos ou a corrigir os pontos dos alunos enquanto o PR está a oferecer jaquinzinhos de jantar à Rainha de Inglaterra e a comer bolo rei de boca cheia... e Sócrates, livra-se dos Soares (mais do filho que do pai) e do Alegre. PSD e CDS estão de férias até dia 22 de Janeiro à noite?
A origem das coisas
quinta-feira, dezembro 15, 2005
Mais um dia
Como todos os dias tem sol e às vezes chuva ou frio ou calor consoante a região em que se está. No fundo, é o clima que condiciona o aspecto dos nossos dias. E também a forma como os sentimos. Depois os dias terminam sempre da mesma forma, com o sol a despedir-se até depois e ficamos na esperança de outro dia a mais que hoje. Nem se sabe ao certo para que o quereremos, mas temos uma esperança inata de que haja algures um dia diferente, que realmente nos surpreenda. Depois, logo pensaremos, para que o quereremos.
Nalguns dias olhamos talvez mais para nós, logo pela manhã, ao espelho. OK, estás com bom aspecto, ainda só mais crescido…
sábado, dezembro 10, 2005
Férias
No aeroporto ao fim da tarde chegam aos balcões de check-in carregados com volumes de televisões, altas-fidelidades, micro-ondas, embrulhados em cartão sobre o que escreveram em letras negras, como eles, o destino. Voltam à terra transportando os bens de lá (cá). Alguns por lá ficarão, outros voltarão para novos regressos com novas cargas.
Ao vê-los imaginei o caminho errado por que optaram (eles ou quem?), o caminho da viagem de vai-vem, consequências de independências não se sabe bem de quem. Percebo a ideia infeliz do nacionalismo, este desejo que não entendo de pertencer a uma terra com arame à volta e não de um mundo sem cancelas. Seria lindo naquele dia de reinício de trabalhos nas Nações Unidas, ver o Secretário-Geral embaraçado no discurso dizer, «comunico à Assembleia o pedido de não independência destes países africanos e asiáticos» apresentando de seguida uma lista infinita de países a exigirem a integração de pleno direito no bem-estar que fabricam para o hemisfério norte.
Alguns dos tiranetes que os dominam tentariam ainda um movimento de resistência apoiado pelos fabricantes de material de guerra, mas não seria longa a luta.
Foi neste clima de irrealidade que iniciei a viagem até Cabo Verde. Um jantar TAP e uma audição de Carmina Burana depois começava a descer para uma ilha que não via. Eram quase 3 da madrugada.
Na rua o ar era morno e seco, mas a camisola vestida não incomodava. Seca foi a espera até tudo estar pronto para a partida para o hotel. Logo seguida pela surpresa de um percurso asfaltado e em auto-estrada. Pouco africano. O começo do Sal sem sal. À hora a que chegamos o hotel na Ponta Negra era um poiso desejado e já entrevisto na Net uns dias antes. No dia seguinte, sob o sol, já parecia estar em Marraquexe sem montanhas. Funana no deserto da ilha do Sal.
Está-se bem. Areia à Algarve, praia longa como a minha (mesmo sem falésia), Primavera em Dezembro no morno do ar que continua todo o ano e uma brisa ligeira, condições de convite à leitura do fim de Budapeste do Chico e depois do Quadrado do Manuel Alegre. Estirado nas esteiras nos intervalos de comer a comida europeia do tudo incluído. Sem o sal da lagosta nem da cachupa. Uma surpresa boa foi o fim do linguarejar em português, substituído pelo som do alemão e do italiano, tanto mais apropriado quanto estava a ler o Chico. Sabe-me sempre a férias este deixar de ouvir o linguarejado nacional. Para a irrealidade da localização contribuiu também a ausência do falar português dos locais que sempre me trataram inicialmente como se fosse italiano ou alemão nas saudações que faziam. Jambo! apetecia-me responder-lhes, mas afinal estava noutro local e sempre dizia bom-dia! Depois falavam em português claro, mas era como se português ali fosse raridade e era. Entre grogues e ponche e intervalos de estiramento os dias passam e percebo quanto me apetecia estar assim em férias sem a alvorada das 7 horas na visita a qualquer coisa. E perto das 6 da tarde, chega o pôr do sol, mais ou menos pintado destas zonas.
Depois do jantar, o «espectáculo» de musicol com meninas e meninos a dar à perna sob um som americanoide mais do Norte ou mais Central. Só na véspera de voltar um tocador de rabeca tocou em Caboverdês. Mas as mornas andam por outros lados na voz de Cesária, em tourné internacional.
E o tempo passa, por vezes à beira mar, outras na piscina embrenhado em leitura ou audição da Paixão de São Mateus. E acabados os livrinhos e na intermitência obrigatória da leitura das Intermitências da Morte a que a Ana me obrigou (um desconforto confortável), acabo por dar comigo a ler o Confessor de um tal Daniel Silva. Mais uma história pouco lisonjeira para a Santa Madre Igreja Católica e Romana. E fico a meditar na coincidência do êxito dos Dan Browns e companhia, sempre este malhar no Vaticano. Eu que não acredito em coincidências, deliro na possibilidade de uma campanha subreptícia anti-Vaticano induzida pelos senhores do Império, descontentes com a desaprovação de algumas das suas iniciativas a favor do «Bem». Por estes dias, lá longe, Harold Pinter faz uma alocução notável na recepção do Nobel. Sabe bem ler quem, mesmo nas circunstâncias de vida em que está, se recusa a deixar de pensar. E tantos vivos-mortos por aí se arrastam em vidas de nada!
Este far niente de brisa e morno foi interrompido, sem grande agitação pela volta à ilha com passagem por salinas de onde quase já não sai mais sal, banhos em água hipersalgada, visões de miragens e de lugares de nome (imagem de Buracona no início) de dificil leitura antes do horário nocturno. Por toda a ilha a presença constante do Benfica (Tud Po Benfica), aparentemente a grande marca de domínio colonial destas paragens.
Bom também a visão de crianças a vir da escola, promessa de futuro melhor, vestidos de igual numa imagem de pioneiros que já não serão, mas ainda lembrando Amílcar Cabral ou imagens da outra ilha onde o povo é gente mais que número de estatística de miséria.
Agradável tempo de intervalo em início de férias que vão durar ainda mais uma semana, mesmo sem a possibilidade de audição do resto da Paixão à beira-mar, que ficou guardada numa caixinha pequena algures num banco de avião.
E o tempo decorre na imortalização dos tempos decorridos. Ontem foi a visão dos tempos de há quinze anos, quando o cinema começou cá em casa. Hoje olho muitos centímetros de caixinhas de fitas enroladas, cheias de memórias e o difícil é perceber por onde começar a gravar os tempos que foram, mas que voltam quando faço estas coisas. É óptimo estar de férias, mesmo com o remorso do trabalho que falta fazer.