quarta-feira, junho 30, 2004

A vitória da Holanda

Holanda vs Portugal, respectivamente:
Taxa mortalidade infantil 4,31/1000 vs 5,84/1000
Esperança de vida 78,58 vs 76,14
Não analfabetos 99% vs 87%
PIB/capita 26900 dólares vs 18000 dólares
Taxa de desemprego 3% vs 4,7%
(in Factbook da CIA)

Bibó 2-1 pipipipópópó do contentamento nacional!

terça-feira, junho 29, 2004

O cherne fugiu!

O homem tem sorte e sabe fazê-las. Tanto mais que tinha a experiência anterior do engenheiro Guterres, que tendo tido, como ele tem agora, o pássaro na mão, o deixou fugir. E antes de ter de saltar do pântano onde cada vez mais nadava numa asfixia lenta, eis que o cherne vai procurar outras águas. Boa viagem, só tenho pena do que isso representa para a Europa. A continuar assim, ainda me torno eurocéptico. Mas reconheço que a Europa da direita, encontrou um bom funcionário da política norte-americana. O Bush teve razão uam vez na vida, quando há uns tempos disse que o Jose Manuel era um guy muito promissor! Pensando nos comentários que fez quando o Zapatero ganhou em Espanha, divertido será ouvir o Jose Manuel quando o Bush perder as próximas eleições.
Está engraçado este país das bandeirinhas. Estas discussões sobre o que o Presidente deve fazer são delirantes. Há uns tempos os portugueses foram enganados pelas promessas do PSD e agora estão-se nas tintas para a lógica do sistema. Com efeito, as eleições não elegem Primeiros Ministros, mas deputados que têm de votar favoravelmente um programa de Governo escolhido por um PM, nomeado pelo PR. Assim, parece-me que o natural depois da saída de um PM, seria a nomeação de outro pelo PR e logo veríamos o que os senhores deputados teriam a dizer. Sinceramente, acho que o PR devia castigar o PSD com uma opção deste tipo. Que gozo era ver os (tu)Barões aos saltos, o PP a pensar quem deveria convidar para mais uma sopinha.
Convocar eleições antecipadas é vitimizar a direita, o que acaba sempre por render. Em vez de os deixar afundar completamente, esta opção funcionará como um fornecimento de oxigénio que não merecem.

segunda-feira, junho 28, 2004

Estive de férias!

Um intervalo de 20 dias. Fui de férias, terei de dizer aos mais de 200 contactos que aqui vieram procurar-me. E souberam-me bem. As férias sabem quase sempre bem. Os Estados Unidos são um bom sítio para ir de férias. Aquilo é tão grande que é difícil ser monótono tem sempre algo novo para encontrar. É nisso que gosto de passar as férias, a encontrar novas coisas. Sou um viciado em viagens. Disso, irei dar notícia, logo que acabe a descrição do passeio pelo Louisiana. Será um próximo post, longo, com a viagem dia a dia para eu mais tarde recordar.
Mas os States não são só paisagem. Os americanos e a sua televisão são uma atracção fatal. Vale a pena gastar uma parte (pequena) das férias a ver TV.
A primeira semana foi a visão longa da morte do Reagan, um aproveitamento grosseiro dos republicanos deste seu herói. Só lhes saíu mal a entrevista do filho, que disse estar disposto a votar em tudo o que aparecesse capaz de derrotar o Bush. Depois, a vida do Clinton em livro e mais uma semanita de entrevistas e reacções e Clinton por todo o lado. Por fim, as teorizações sobre a F-word. Sim, o vice-presidente, aconselhou um democrata do Senado a ir-se F. A partir desse momento, jornalistas, analistas, teóricos da língua, todos se envolveram em entrevistas e debates sobre a legitimidade ou não de o vice-presidente fazer tal recomendação a um senador. Será recomendação? Será interjeição? Será um conselho? Será uma subliminar acusação de homossexualidade? Uma diversão sem fim. Ao pé disto, os Romanos foram o povo com mais juízo que alguma vez existiu.
Claro, que as telenovelas dos noticiários com a descrição dos julgamentos continuam (e duram desde o ano passado!).
Depois, tem também uma coisa óptima, Portugal fica muito pequenino, muito longe, muito inexistente. Da verdadeira dimensão que tem, afinal. Essa distância sabe-me bem. É como a terra vista do ar, tem-se mais a dimensão do mundo e da importância relativa das coisas que afinal são tão pouco importantes.
Mas foi bom estar 20 dias sem o Euro! Lá a receita, é basebol e basquetebol. Isso é que cumpre a missão do Euro cá da terra. Isso, os faz continuarem a agir sem reflectir, a encherem copos de coca-cola com gelo, para depois lhes porem apenas algumas do líquido, pagando água ao preço de coca-cola. E felizes, engordam, engordam até rebentar. Vão no bom caminho! Olhar para eles, é a satisfação de sentir a superioridade da Europa.
Também isso torna agradável a passagem pelos States.

quarta-feira, junho 09, 2004

Que viva Sousa Franco

Estou a imaginá-los, aos meninos nazis, a esta hora, a celebrar o desempenho. Ontem ululavam com o insulto físico, a deficiência do adversário e hoje que dirão? Certamente, qualquer coisa do tipo, o velho estava podre, e sorrirão com aquele ar de cães de fila, sempre prontos a morder em tudo o que não é da sua laia, em tudo o que pensa, que sabe o significado da solidariedade e que despreza básicos critérios de rentabilidade. Esses critérios que têm tornado este mundo mais assimétrico e gerado o ódio.
Ofereceu-se e morreu. Descanse em paz, senhor Professor. Que ao menos alguns apreendam a sua última lição: a vida pouco vale se não for repartida com os outros e sobretudo com os mais fracos, os que mais precisam.

Mais uma abstenção

Como ninguém defende a minha Europa, vou até aos States.
O meu programa europeu é feito de coisas simples como ensino simultâneo desde a primária da língua materna e do inglês para que nós e os polacos nos possamos entender; criação de uma cultura de trabalho e não de facilidade e da habilidade desde pequeninos; existência de um parlamento europeu, que decida o que cada um faz na sua terra (já chega de erros de gestão ao longo de séculos); o meu peso nas decisões europeias ser igual ao de qualquer alemão; haver uma estratégia de defesa europeia comum e impostos europeus que todos paguem em vez dos nacionais que só alguns pagam. Em resumo, quero viver nos Estados Unidos da Europa e depois ponho uma bandeirinha cheia de estrelinhas no quintal. Nessa altura, poderemos bater o pé aos States dominantes.
Quem vota num programa simples como este? Obviamente, podem optar por ser nacionais e começar a insultar-me... é o costume.

terça-feira, junho 08, 2004

Tráfico de Vénus (ou talvez de Marte)

Por que será que é nas farmácias que se vendem os óculos para olhar para o sol? Será que a partir de agora também teremos de procurar ver a luz através da visão que as farmácias nos fornecem?
As farmácias são a actividade comercial (a palavra foi escolhida de propósito) mais curiosa deste país. A bem da chamada saúde, criou-se um esquema de proteccionismo medieval, contra todas as regras da livre concorrência, em que o Estado se proibe de entrar, limitando-se, desde há muito, a simplesmente pagar a conta. Só tem farmácia quem pode e quem pode estabelece um perímetro onde ninguém mais pode fazer-lhe concorrência. Deste modo ficam garantidas as vendas de perfumes e de óculos para nos proteger a saúde.
Que seria de nós se comprássemos uma aspirina no supermercado? Uma hemorragia digestiva pela certa! O que nos vale são, desde há muito tempo, os sempre sábios comentários dos técnicos de farmácia para dizerem aos doentes como devem ser tomados os medicamentos. E ultimamente também para medirem a glicemia, o colesterol e a tensão arterial. E algumas vezes «salvarem a vida» dos doentes enviando-os às urgências dos hospitais porque têm 235 de açúcar no sangue ou uma TA de 175/105.
Que tal se usássemos óculos menos escuros para vermos o que se passa com as farmácias em vez de ficarmos com ar de idiotas a olhar para o ar?

segunda-feira, junho 07, 2004

Portugolo

Pela rua vou vendo pequenas bandeiras nos táxis e uma também pendurada na janela. Não, não é o 10 de Junho que se aproxima. É o rectângulo à beira-mar plantado, relvado às riscas, em estado de Euro (dizia a Visão há dias). Daqui para a frente vive-se em PORTUGOLO, a menos que os golos não venham e então teremos um país em estado de (n)Euro. Uma imensa dicussão sobre as causas do desastre. Será que alguém irá saber o resultado das eleições de domingo se no sábado os pupilos do Scolari se virem gregos? Assim, passará despercebido qualquer desastre eleitoral...

domingo, junho 06, 2004

Dia D

A analogia não funciona. Os libertadores de ontem podem muito bem ser os opressores de hoje. Só porque ontem libertaram, isso não lhes dá créditos de eternos libertadores.
O agradecimento de atitudes do passado não implica pagamentos no presente, apenas a memória e o reconhecimento.
Em vão pode passear-se o Imperador pela Europa. A identidade de dominação que apresenta é muito mais semelhante aos que humilharam do que ao seu antecessor libertador. Por isso a Europa lhe não está grata, mas agradecida deve estar aos americanos. Os líderes são transitórios, os povos eternos (embora se enganem por vezes, ou sejam enganados).

sábado, junho 05, 2004

Cidade

A Vida Vazia da Cidade

Instalámo-nos, portanto, na cidade. Aí toda a vida é suportável para as pessoas infelizes. Um homem pode viver cem anos na cidade, sem dar por que morreu e apodreceu há muito. Falta tempo para o exame de consciência. As ocupações, os negócios, os contactos sociais, a saúde, as doenças e a educação das crianças preenchem-nos o tempo. Tão depressa se tem de receber visitas e retribuí-las, como se tem de ir a um espectáculo, a uma exposição ou a uma conferência.
De facto, na cidade aparece a todo o momento uma celebridade, duas ou três ao mesmo tempo que não se pode deixar de perder. Tão depressa se tem de seguir um regime, tratar disto ou daquilo, como se tem de falar com os professores, os explicadores, as governantas. A vida torna-se assim completamente vazia.

Leon Tolstoi, in 'Sonata a Kreutzer'

Lido no Citador

Acompanhamo-nos cada vez mais, de mais objectos. Os mesmo filmes vão e vêem connosco nestas idas de fim-de-semana. E não encontram espaço no pouco tempo que temos. Ficam prisioneiros nas caixinhas onde guardamos as antologias. Dantes, eram grandes bobinas, ocupavam espaço, difíceis de transportar, projectavam-se em grandes écrãs, demoradamente, com intervalos onde calmamente bebíamos chá e conversávamos. Tínhamos até tempo, antes de os vermos, para assistirmos ao noticiário no cinema. Agora, compactados em DVD, numa caixinha mínima fica quase toda a obra de Hitchcock. Mas os pássaros estão trancados dentro da rodinha, sem tempo para saírem. Temos um sentimento de posse, de domínio, mas continuamos sem dominar a dimensão maior do tempo.
Estabelecer prioridades, é fundamental para nos não deixarmos ir pelo tempo dentro.

sexta-feira, junho 04, 2004

Memória somos


 Posted by Hello
Dei agora uma volta aos textos que aqui tenho desabafado desde há quase um ano e sorri lembrando-me que daqui a alguns anos, possivelmente, o gozo será ainda maior. É um exercício de narcisismo, certamente, mas negá-lo em nome de quê?

quinta-feira, junho 03, 2004

Deixem as mulheres em paz, senhores doutores

A guerra dos sexos? Quero manifestar aqui o meu vivo repúdio por quotas sexuais, sejam elas para deputados, sejam para entrada em qualquer curso, nomeadamente, o de Medicina. Simplesmente, patético!
Certamente, que alguns dos citados pelo Público são excepção e outros médicos andarão preocupados com a não entrada dos rebentos masculinos em Medicina, mas para a generalidade dos médicos este problema não existe. E a miragem de feminismo, de vitória sobre os homens, que isto possa conter para algumas mulheres, deve ser moderada. Contava-me há dias um colega espanhol que lá na terra dele o curso de Medicina era dos menos pretendido. Pois, aqui trabalha-se bastante e o rendimento não é o que por aí se diz. Pois não é, ou não será muito em breve. A Medicina está a sofrer uma evolução desgraçada e em breve, o(a)s médico(a)s serão uma espécie de novos farmacêuticos a vender perfumes aos balcões não de farmácias, mas de hospitais de seguradoras, isto é, funcionários assalariados do poder financeiro, que entretanto comprou os hospitais e vende seguros. Nesse regime de trabalho, irão ter a capacidade de decisão diagnóstica e terapêutica completamente controlada por critérios de rentabilidade gestionária. Se não se modificarem as coisas, ou me engano muito ou esta vitória das mulheres vai ser muito transitória. Sorte irão ter os miúdos que não abdicaram da farra e acabaram a optar por cursos de Gestão ou de Economia e irão futuramente estar nos hospitais a dizer às doutoras o que podem ou não fazer! Este parece-me ser o verdadeiro problema tanto para os médicos, como para as médicas e sobretudo ainda mais para toda a população, para os do costume: os doentes.

quarta-feira, junho 02, 2004

A quem possa interessar

Há duas formas para viver a sua vida:
Uma é acreditar que não existe milagre.
A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre
.

Albert Einstein

terça-feira, junho 01, 2004

Despedida

Continuavas a ser uma criança. Encontrámo-nos ao fim de teres vencido uma batalha importante. O neurocirurgião tinha-te tirado o tumor e agora, que tinhas 12 ou 13 anos, era altura de vires tomar as hormonas para cresceres. De baixinha recuperaste bem e ficaste crescidota, sempre gordinha. Lutavas contra a tua vontade de coisas doces e gostavas de comer. Tirando isso, estavas bem. Tiveste, como agora todos os jovens têm, dificuldades de arranjar um emprego. Fizeste formação profissional e tinhas sempre um sorriso nas consultas. Ainda me lembro do teu bordado de ponto cruz que me ofereceste pelo Natal. Por estares habituada a médicos e hospitais desde pequenina, vivias os problemas dos doentes. Foste daquelas que explicaram aos outros, que as injecções da hormona não doíam nada. Admiravas tudo o que se fazia na saúde. Um dia, já nem me lembro a que propósito, disseste-me que quando morresses gostarias de dar-te em órgãos para que outros pudessem viver. Sempre foste assim, sorridente e generosa. E hoje, depois daquela cefaleia súbita e muito intensa que tiveste, chegou o momento de mais uma vez, mesmo na morte, continuares generosa.
É uma sacanice que a bruxa negra faz de vez em quando, esta de nos levar gente bonita. Logo hoje, dia 1 de Junho, não se faz. Afinal ainda eras uma criança.
Adeus, T., descansa!