Sou sempre mais tentado pela visão do mar que pela visão dos lagos. O mar tem o conflito das ondas com a areia da praia gerando uma renovação constante e surpreende-me quando, a cada vez, vejo a sua construção diferente dos areais. Nos lagos reflectem-se narcisicamente as paisagens e, se falta uma brisa ligeira, nada de novo acontece além de uma cópia precisa. Na estagnação não há novidade, apenas rotina e, por vezes, mesmo algum mau cheiro.
Esta é uma das desgraças dos tempos actuais onde o politicamente correcto varreu o conflito do dia-a-dia e normaliza, cada vez mais, a nossa acção. Tudo se faz de acordo com directrizes ditadas por deuses e segundo a sua vontade. Pensar, gizar o conflito é ou mal visto, ou rotulado de ingenuidade, numa altura em que o fácil impera e o caminho mais rápido para o sucesso é a anuência acrítica. Os homens são também espelhos imóveis das imagens que neles projectam. Pouco a pouco, há uma verdade única que se instala, restando a alguns poucos, cada vez menos(?), sussurrar que fascismo, nunca mais. Mas até nesse rumor há, quantas vezes, apenas o reflexo de outras vontades e não um genuíno desejo reflectido.
Descrente nos homens talvez, mas como negar a evidência?
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