Há um triste hábito, nesta terra de amadores, de pedir aos transeuntes opiniões, que aos profissionais deveriam ser colocadas. E como este povinho não é de se ficar, sempre sai opinião. O desportista de bancada, opina sobre a táctica da equipa, o pai da criança sobre a qualidade dos cuidados de saúde prestados e sobre estratégias de prevenção da doença, o cidadão comum, julga de imediato o crime sem esperar pela decisão da justiça, os médicos opinam sobre a organização dos cuidados de saúde e por aí adiante. Como somos amadores, geralmente não procuramos os pareceres dos profissionais. São demasiado técnicos, diz-se, e o que se quer são opiniões fáceis, ainda que, geralmente, erradas, quando as coisas são, realmente, complexas.
Mas não pode deixar de se ter em conta que, quando se opina fácil e de forma impreparada, geralmente, mais do que o fácil, o que sai é o que é mais cómodo, mais conveniente para o opinador, ou seja, o que mais favorece os seus interesses. Em vez de se formar opinião fundamentada, obtemos apenas manifestações de interesses, por vezes bem obscuros. E mesmo que não haja a expressão de um desejo consciente expressando e criando uma vantagem pessoal, o que mais se consegue obter é uma expressão de emoção, que ainda assim, lá no fundo, traduz a forma de conseguir a satisfação dos desejos que a essa vantagem conduzem.
As opiniões dos impreparados são rápidas e definitivas. Julgam sem oportunidade de recurso ou de dúvida. Às vezes têm origem onde menos se espera, num Ministro da Administração Interna, que, cedendo inconscientemente às pressões de uso de autoridade à maneira de Paulo Portas, loga veio elogiar o comportamento de uma polícia, mesmo sem ter lido o relatório do inquérito dessa acção. Quando não dá jeito, é necessário ler o relatório detalhadamente, quando parece dar jeito, sai opinião de imediato.
Estranha-se é que, quem estuda as coisas da comunicação, não tenha espaço para o editorial, para a reflexão técnica e se deixe levar pela obtenção desta opinião pública fácil. Tão fácil, quanto absolutamente inútil. Ou será que o Império desta opinião, que tão válida é quanto a sua contrária, facilita o descrédito na existência da solução melhor permitindo a melhor aceitação do erro sistemático do poder? Funciona, assim, como uma espécie de anestesia.
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