Até agora, tinhamos o direito à greve (bem regulamentado não possibilitando aos piquetes impedir de trabalhar quem o quer fazer e com serviços mínimos obrigatórios bem definidos) e o direito de manifestação, devidamente autorizado pelos respectivos Governos Civis. Tínhamos também a proibição do lockout. A partir de agora, temos o «direito» à paralisia, instituído por pequenos empresários donos de empresas familiares ou de si próprios com o negócio em apuros.
Há uma diferença importante entre greve e uma paralisia. A primeira é feita por quem trabalha para outrém, vulgo patrão; geralmente, são tipos razoavelmente bem instalados na vida, sem iniciativa própria, fazem greve por mau feitio e só para maçar a generalidade das pessoas. O Estado regulador vai-lhes ao pelo, estabelece serviços mínimos, limita a acção dos piquetes, recentemente até tentou identificar grevistas nominalmente. Por definição não têm razão nem necessidade para protestar e fazem-no apenas para glorificar o Partido e por reaccionarismo.
Os empresários em nome individual( uma classe sempre pronta a reivindicar a redução dos impostos e pronta a reduzi-los objectivamente evitando passar recibos sempre que pode, defensores do fim do Estado e da livre concorrência) não fazem greve, paralisam. São tratados com as cautelas devidas pelo Governo, com todo o respeito, como pessoas de bem, subitamente, sem esperança de sobrevivência. Serviços mínimos não há, porque não é uma greve. Autorização dos governos Civis não é necessária, porque não se manifestam. Aliás, não está prevista tal autorização para actividades como apedrejamento ou perfuração de tanques de gasóleo. Há sempre uma lei que falta! Por acaso, eles só estão nas estradas a dar bons conselhos do género, deves poupar gasóleo e encostar, a bem do Ambiente, mas tu é que sabes, podes continuar e ali à frente levas umas pedradas de alguém que pode estar mais exaltado do que eu. No fundo, a serenidade do Governo no meio desta crise apenas traduz a preocupação comum com a paz e a defesa do Ambiente. Estão do mesmo lado da barricada.
Este é um conflito incómodo para direita, porque o grupo em luta é uma das suas bases de apoio, mas a forma como está a actuar pode dar ideias a outros. Vai daí, a nova dama de ferro, Manuela Ferreira Leite, foi tratar do neto por estes dias e ninguém a ouve. É incómodo para a esquerda, porque a forma de luta lhes é simpática, mas os votos que dali lhes virão são poucos.
E desta forma, a paralização empresarial tuga acompanha a paralisia governamental. É a Economia, estúpido!
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