Certas expressões têm ressonâncias contrárias ao seu som. Contêm subentendido o verdadeiro sentido, mostrando uma capa do contrário. Acho que uma delas é o chamado «acordo de cavalheiros». Sempre que a ouço, percebo que estamos em presença de um acordo que tem algo de oculto, a que só os ditos cavalheiros (nobres) têm acesso. Há geralmente marosca na coisa ou seria simplesmente um acordo sem a necessidade de evocar atributos de garantia, neste caso, de nobreza.
Nos serviços de saúde, havia até agora um «acordo de cavalheiros» sobre o cumprimentop de horários. Com a introdução do ponto digital, deixou de haver necessidade do dito acordo, o processo ganhou transparência, clarificou-se. Não quer isto dizer que haja qualquer evidência de melhoria objectiva de produtividade decorrente da inovação. Pode ou não concordar-se com a medida, mas, uma coisa é certa, deixou de haver a necessidade do «acordo de cavalheiros». Ganha-se, pelo menos, em verdade.
Mas a verdade não é valor para a felicidade. O verdadeiro gozo anda mais pela artimanha conseguida, nada parece satisfazer mais do que a capacidade que se tem de ludibriar o próximo. É a cócega da emoção, que salga e adoça a vida.
Sem comentários:
Enviar um comentário