Há momentos em que num breve instante se descobre toda a verdade sobre um problema complexo. A obesidade é um desses problemas. Na sua forma mais simples é uma questão de equilíbrio ou balanço, à maneira dos contabilistas, uma relação entre deve e haver. E sempre que o deve-gastar fica aquém do haver-comido, o monstro cresce. Mas a realidade é bem mais complexa.
Entra a senhora no consultório bamboleando os seus 135 kg. Senta-se, sorri, adivinhando que lhe não vou perguntar por que me consulta. O motivo é demasiado óbvio. Começa desde logo a explicar-me. Se está assim a culpa é do filho, coitadinho, andava nas drogas e morreu. O organismo não resistiu ao stresse e começou a engordar. (Costuma sempre haver um culpado externo nestas histórias, que nós somos bonzinhos.) Sim, gosta de comer e até de beber um copinho (mas não é como o marido, que esse embebeda-se mesmo). Mas não é isso, foi o stresse! Ainda balbucio a conversa do equilíbrio energético, sugerindo que reduza a ingestão, blá-blá. Conta-me então a história da vida. Noutros tempos, quando trabalhava numa quinta em Vialonga, até tinha passado fome. «Mas agora, senhor doutor, agora que até temos alguma coisinha, quer que não coma?»
Realmente, esta senhora sabe mais de obesidade que meia dúzia de reuniões científicas sobre o tema.
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