Houve na Grécia antiga filósofos e atletas, certamente celebrados distintamente pelos gregos de então. Ambos terão contribuído para alguma felicidade dos seus contemporâneos. O atletismo e a filosofia continuam hoje a ser actividades praticadas. Por que sabemos quem foram os filósofos e esquecemos o nome dos homens das proezas atléticas?
A literatura, a música, a pintura permitem-nos uma compreensão, uma reflexão sobre o mundo e, por isso, de alguma forma, são-nos úteis para a nossa forma de estar, melhorando a nossa sensação de felicidade pelo que nelas aprendemos a interagir com o que nos rodeia. A felicidade que nos dá uma vitória desportiva é imediata e não persiste no tempo. Pouco se aprende com o golo do Nuno Gomes, de calcanhar, a baralhar a defesa adversária. É lindo, manifesta inteligência, reflexos, mas acaba naquele instante. Por muito orgástico, catártico que seja não nos melhora a relação com os outros, não nos ajuda a compreender aqueles com quem lidamos, não nos ajuda a ser mais eficazes nos sentimentos da vida.
Mas as reflexões sobre o amor e o poder, sob a forma de tragédia ou de comédia, de alguma forma armam-nos para a vida. Essa a razão de Mozart persistir mais que Zatopek, da eternidade de Picasso e da efemeridade de todos os morangos por muito açúcar que lhes ponham. No momento, a dose de felicidade causada até pode ser a favor dos fenómenos mais instantâneos. Mas com o tempo, só os outros vão continuar, geração após geração, a ser fonte de felicidade.
A sociedade do imediatismo pode meter tudo no mesmo saco. Se o parâmetro de avaliação for o rendimento imediato dos fenómenos, até podem ganhar os reality shows de todos os dias. Mas o mundo não acaba hoje, há mais tempos além do instante e, por isso, as lebres se cansam e as tartarugas continuarão a vencer.
Na verdade, o que mais importa nem é tanto o valor das felicidades que se possam ter, mas muito mais a felicidade que os valores nos dão.
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