sexta-feira, agosto 18, 2006

O centenário e o ditador

Já se começava a adivinhar no sábado passado no Expresso com as referências do Professor Marcelo ao seu colega. Durante a semana, continuou com o anúncio exaustivo da presença da filha do colega, na entervista com Judite de Sousa. O resto foi o que se viu, um magnífico pai de família, com as suas convicções certamente, um inultrapassável professor, um ser dotado de uma inteligência completamente fora do comum, só que com as suas convicções. Mas mais, cercado por uns maus, os ultras. Ele até mudou o nome das coisas e falou em família, ele era um anjo a quem prenderam as asas. Ele manteve Portugal com gente descalça, com analfabetismo, com uma mortalidade infantil e níveis de saúde miseráveis, com uma oligarquia dominante que fugiu com ele para Brasil em Abril de 74, com uma guerra colonial de opressão sobre outros povos, com presos políticos que lutavam por devolver a dignidade a um povo inteiro. Ele suportou com toda a sua inteligência um regime fora de tempo. Mas, terei ouvido mal, nem uma vez nesta semana do branqueamento a propósito do centenário foi chamado de ditador.
Na mesma Imprensa que alguns insistem em chamar livre, ditador é o outro, o que acabou com o prostíbulo americano que era a Ilha, que pôs fim ao analfabetismo dos cubanos e lhes deu saúde de forma universal, o que devolveu a dignidade a um povo que deixou para trás a miséria e continua a resistir apesar de selvaticamente bloqueado na sua Ilha. Ditador por ter presos políticos que desejariam impedir a libertação de um povo?
Parece que o branqueado achava que o sistema de partidos não era condição necessária para a democracia, que os partidos eram formas de impedir o bem-fazer dos dirigentes ao seu Povo, por se envolverem em lutas entre si com desejo de conquista de poder usando argumentos falsos e enganosos, como deixou escapar a sua filha. O homem até não pensaria sempre mal, mas na análise era pouco esclarecido. Por isso a sua ditadura foi estagnante e indigna, sem margem para perdão. Já na Ilha, o progresso social mostra como podem existir «ditaduras» libertadoras.

2 comentários:

Anónimo disse...

Concordo inteiramente consigo mas temos que admitir que o Ditador foi um excelente professor com um vasto legado no Direito Administrativo Português moderno (de sua autoria) e ainda hoje é mencionado em matérias de Ciência Política e Direito Constitucional. Um bom técnico não dá necessariamente um bom gestor...

Anónimo disse...

Considerar que os presos políticos "desejariam impedir a libertação de um povo" é um statement muuuiiiito arriscado... Podemos admitir, sem que o comunismo se torne um bicho, que as virtudes da "revolução" só são aplicáveis se silenciarmos aqueles que preferem um regime democrático. Não há regimes perfeitos e podemos reconhecê-lo, tal como Fidel não precisava de ter dito na 1a carta depois de ter sido internado que ficou doente por causa de todas as noites que ficou sem dormir em prol da revolução. Adoeceu pôxa! Todos adoecemos! Este empolamento, este culto da personalidade, é que me deixa descrente e me faz sentir que o discurso é farsola, que a propaganda contra o exterior está tecnicamente ao nível da propaganda do AJJ... Realmente não há outra forma de obrigar um povo a uma opção, sem direito de escolha, se não o mantivermos sedado. As pessoas nunca gostam do que têm e isso vê-se na alternância partidária de todos os países. Mas viver num regime comunista nunca poderá então ser uma livre escolha? O preço a pagar será sempre a desinformação comum a qualquer regime DITATORIAL?
Quanto ao progresso social na ilha... e às comparações com os países vizinhos também vítimas da ocupação americana e tão menos desenvolvidos... é preciso não esquecer que Cuba não cresceu sozinha, sem nenhuma mão por baixo... Fossem todos os países do mundo - nos anos 60, 70 e por aí - comunistas e com "vista" para os Estados Unidos... e não teria havido mão que chegasse para todos!
Uma vez mais sem tirar o mérito ao esforço interno, mas uma vez mais para que a mensagem não perca a credibilidade.
Um abraço!