quarta-feira, junho 30, 2010

Cegos

A grande confusão que a desistência do Estado causa está à vista de quem quiser ver. Discutem-se pagamentos em estradas, porque são de uma entidade privada e não do Estado. As golden share, da mesma forma, também só são necessárias porque empresas estratégicas foram alienadas. Mas sempre há teimosos que, na cegueira, persistem no seu caminho de um beco sem saída. Façam boa viagem, mas não me levem.

terça-feira, junho 29, 2010

No futebol e não só

Conheço alguns que se acham líderes e sempre se manifestam satisfeitos e contentes com os resultados ainda que eles sejam a eliminação e a derrota. Dantes dizia-se que eram vitórias morais, mas nos tempos em que a moral não vende, afirmam o mesmo para ficarem melhor no retrato, para melhorarem a imagem que nem eles ao espelho conseguem ver. São líderes de plástico, sem programa, sem objectivo e sem estratégia que vá além da liderança a todo o custo. E existem também os liderados que no insucesso responsabilizam os líderes e só no sucesso dão a cara, na posição de desequilíbrio de estar em bicos de pés. Também sem outra preocupação que não seja a defesa a todo o custo da sua imagem.
Uns e outros me parecem perdidos e imagino que na solidão dos seus momentos mais reservados perceberão que a imagem nada lhes vale, porque o desrespeito por tais formas de acção é geral. São generais sem exército e soldados sem comando. Espera-os o esquecimento dos dias que virão, porque a obra exige a insatisfação permanente do seu estado de não terminada e o reconhecimento de quem lhe dá forma.
Tudo o resto é má educação e pouca felicidade tanto no futebol como em outras actividades, teoricamente, muito veneráveis.

segunda-feira, junho 28, 2010

Do tempo e do espaço



Não apreciei especialmente a depressão da reunião, onde as novidades foram poucas e as pessoas eram menos que noutros anos. Pouca alegria a que uma cidade entristecida também não ajudava a despertar. No Civic Center andam agora muitos mais a arrastar todos os seus bens em triciclos, uns silencioso outros praguejando sozinhos com olhar vago, alheado, espreitando coisa nenhuma, que a fé se acabou numa qualquer guerra onde os meteram e de onde voltaram gaseados. Mais abaixo, em Gaslamp a euforia de sempre das despedidas de solteiros a caminho das despedidas de casados uns tempos depois, que a vida não pode parar nunca.
Dois dias de estadia e tinha um sentimento de perda, uma longa viagem para tão pouca coisa. Sobretudo a perda de um sítio onde o tempo existe, onde o sol nasce e se põe todos os dias, numa sucessão de tempos e instantes quase perfeitos. Ao fim de todo um tempo, tenho agora o instante do sopro quente do vento a percorrer-me o corpo e o mundo à volta acaba nesse instante. Estranha esta sensação de a partir de um dos cantos da água todo o mundo visível me pertencer. E eu a ele. Finalmente, sou proprietário do tempo e do espaço. Tive sorte, apenas isso.

sexta-feira, junho 18, 2010

até sempre

em Filadélfia na espera do segundo avião o professor chegou-se subitamente e disse-me sabe morreu o saramago. pois afinal também morremos disse assim numa tomada de consciência repentina que sempre as mortes nos despertam. iludidos na vida julgamo-nos eternos até que as mortes nos acordam. mas na verdade o escritor não morreu apenas deixou de escrever. só morremos os outros que arrastamos a falta de obra connosco.

quarta-feira, junho 16, 2010

Os riscos dos números

Vivemos num tempo de observatórios que fazem diagnósticos rápidos sobre quantificação de tudo. Quantifica-se o tempo de espera de consultas no SNS e os números espantam por maus. É claro que é preferível ter números ainda que maus a não ter números nenhuns, porque de alguma forma geram discussão dos problemas. Contudo, uma boa análise das situações exige um cuidadoso estudo dos métodos, para que se não retirem dos dados conclusões mais ideológicas que científicas. Rapidamente, a jornalice nacional dominada pelos grupos económicos privados, terá tendência a crucificar o serviço público salientando as maravilhas do privado e mais uma vez clamará pelo desperdício que é pagar impostos e argumentos habituais, deixando à populaça a sugestão de que tivéssemos acesso livre (sem custos ou com custos suportados pelo Estado ou pelas Seguradoras) tudo estaria resolvido. Só que a realidade é diversa destas análises apressadas. Antes de mais há que ver o efeito racionalizador do custo pago pelo utilizador na procura das consultas, pois ir a um hospital público é acessível, mas ir a um hospital privado não será assim tanto. Isto faz toda a diferença e é necessário perceber até que ponto o pedido indiscriminado de consultas aos hospitais públicos não acaba por limitar o acesso a quem dele precisa em tempo útil. É fundamental, além dos números, perceber a sua qualidade.

terça-feira, junho 15, 2010

Sempre igual

Há 30 mil modos diferentes de passar pela crise, todas com apelos mais ou menos éticos, mas tentando preservar o essencial, que, pasme-se, acaba por ser a razão da crise. Não chega a imaginação a tentar descobrir outro meio de vida,embora se reconheça que este não é o ideal. Só que a cegueira não deixa enxergar mais adiante, porque se não ousam novos horizontes. Por preguiça? Não, apenas porque os modelos são feitos pelo poder. Aos sem-poder resta a alienação, as imagens e o mundo virtual. Assim, dói menos.
Sempre me intriga que haja tão poucos economistas disponíveis para dar lições sobre os nossos males. Contam-se pelos dedos das mãos os Bagões, Salgueiros, Ricardos e que tais. Sempre o mesmo discurso de quem tem agora todas as soluções depois de ter tanto contribuído para causa de tudo isto. Até parece ser a Economia uma ciência exacta, onde a ideologia não entra na definição das estratégias. É mentira, a luta de classes existe!

sábado, junho 12, 2010

Realidades virtuais

A educação da imagem chega para encher o olho de quem vê, mas não acrescenta à observação. Sentem-se os maiores por transmitirem uma boa imagem, depois tentam passar pelo desastre da inconsistência da sua realidade vazia, virtual. Ansiosamente criticam tudo e todos à volta, esquecendo o exercício elementar de olhar para dentro de si, pelo enorme incómodo que isso seria. Que bom é produzir um parafuso! Ainda que com a rosca meio defeituosa, será certamente mais útil que a crítica do parafuso produzido por outro. É necessária e urgente a produção palpável ou a crise será a única produção real porque, afinal, vivemos num mundo de matéria.

quinta-feira, junho 03, 2010

Disparate do século (ou irá continuar a verborreia?)

Na imensa circulação de mails idiotas, chegou-me um rotulado de a frase do século. Dizia o economista autor “Não sei para que é que querem gastar dinheiro no TGV se podem perfeitamente oferecer um Porsche a cada português gastando menos”. Enche o ego da populaça ouvir um ex-ministro dar assim uma no Governo maldito (é curioso que todos os governos são sempre malditos enquanto governam e uma esperança quando estão na oposição).
Mas o dito é de uma infelicidade imensa pois tal realização embora pudesse ser uma bênção para os alemães produtores da máquina, seria certamente um pesadelo para a economia, porque primeiro iam as divisas na aquisição dos míticos bólides, depois sairiam ainda mais na importação do combustível para alimentar os ditos. Haveria certamente ainda a lamentar uns milhares de mortos por acidentes de aviação. Em resumo, ainda bem que o cidadão já não é ministro.
É uma pena que o debate político seja reduzido a coisas destas, que eu gostaria de ser informado, em detalhe, das vantagens e desvantagens das opções concretas para ter um ideia da sua relativa justeza.
A despropósito fica a referência lida hoje da percentagem da dívida pública em relação ao PIB nos EUA: 88% (ou será 110%?)!! Em Portugal, em 2009, 76,8% (www.Pordata.pt).

quarta-feira, junho 02, 2010

Um dia a mais que ontem (ou o day after)

Há instantes que são meras formalidades e a que à partida pouco importância atribuo. Mas de repente, podem ser oportunidades de debate necessário. São as surpresas dos instantes, que os tornam, algumas vezes, notáveis.
O mais intolerável de tudo é o apagamento das personagens da história. Pior ainda quando para pôr na frente a sua imagem raspam da fotografia quem esteve no primeiro plano. A imagem que alguns são peritos em criar não consegue vencer a memória de quem esteve na história e, nessa altura, há uma obrigação ética de sobrepor a realidade à imagem. Doa a quem doer, tem de ser feito e fez-se.
Muitas vezes fica-me a dúvida se é por mera maldade ou por distorção do sentimento da realidade que usam a tesoura na fotografia. De uma ou outra forma é doentio e inútil a ilusão da importância que se atribuem, porque o verdadeiro significado dos nossos curriculla deverá, sempre e só, ser a análise que os outros deles fazem.
Estar em bicos dos pés é um um equilíbrio difícil e mesmo um primeiro passo para a queda. Não faltar muito para o tombo do esquecimento é, desde já, uma certeza e consolo e fica-se bem quando se reafirma a história bem contada, com realidade.
É isto que me fica neste um dia a mais que ontem. O resto é, provavelmente, secundário.

terça-feira, junho 01, 2010

Erros e segredos

Se o apoio do PS a Alegre pode ser fatal ainda não sabemos. O que já sabemos é que foi um disparate o apoio do PS a Mário Soares há uns anos atrás. Que bom seria conhecermos as razões ocultas de certos ditos. Esclarecê-los seria uma atitude nobre, mas possivelmente a força do oculto não o permite.