Há muito que foram abandonados os argumentos programáticos e, agora, todo o cerne das campanhas surge cheio de atribuições morais, sobretudo a denúncia da imoralidade dos adversários. É o paga-não-paga impostos, o tem-não-tem acções e PPRs que enche as notícias, ficando os programas, as soluções sem debate ou discussão. Atribuir a falta de moralidade ao inimigo é o único argumento, sobretudo quando as diferenças de programa até são de difícil enumeração. O debate das ideias não dará votos, concluíram.
E os receptores da mensagem estão, efectivamente, cansados de conteúdo. Cada vez mais, mesmo nas conversas banais do dia-a-dia, o debate das ideias é incómodo, chegando a sentir-se ser o debate político, politicamente incorrecto. O país fica cheio de moralistas, críticos de todos sem excepção, parecendo a multidão que critica um conjunto de virgens impolutas. Todos bons pagadores de impostos, todos trabalhadores cuidadosos na satisfação do próximo, impecáveis pais e mães de família, sem ponta de egoísmo ou ganância nas suas acções. Uma coisa os une, a vontade exclusiva de conversar sobre o tempo que faz, o futebol os mexericos cor-de-rosa. Tudo o mais é tabú neste mundo social asfixiado pelas conveniências de classe. O mais angustiante vazio neste ar que se respira.
Sem comentários:
Enviar um comentário