Naquele tempo a euforia era tão grande que até o grande economista teve um dia que vir dizer que as árvores não cresciam até ao céu. Mas os homens às vezes são surdos ou simplesmente descrentes, que isto de encher o bolso na bolsa era coisa divertida. Que bom que era ganhar sem produzir! A Bolsa, dizia-se naquele tempo, traduzia a saúde da santa Economia. E todos andavam felizes. Já naquele tempo havia uns desgraçados que não viam os seus ordenados a acompanhar os aumentos dos ganhos percentuais do DJ e que tais. Antes pelo contrário, nesse tempo, diziam os santos economistas que era preciso não criar tensões inflacionistas, não perturbar o crescimento da Sua Santidade, a Economia. Uns mais esclarecidos, ganhavam com a coisa, outros, coitados, esperavam e mantinham a coisa a crescer. Lá à frente a cenoura acenava ao burro, sempre no futuro, que de há muito se sabe que a salvação não é coisa deste mundo, mas do outro, sendo que é a esperança que nos salva e, dos que aqui sofrem, a vida eterna.
Desde há algum tempo, a borrasca instalou-se no Templo de Wall Street. Nesses dias nasceu a crise e o desnorte apoderou-se dos esclarecidos. Subitamente, a riqueza começou a evaporar-se nos electrões da Internet. Uma coisa má instalou-se nas cabeças dos que então só conseguiam dizer, Vende! E ninguém comprava, porque Nada era o que se vendia, tudo imaterial, electrónico e impalpável. O problema é que esta imaterialidade, algures criou matéria: propriedade, casas, iates e muitas coisas mais, tendo todas ficado na posse dos mais esclarecidos. É esta transformação da química da ausência da matéria que, nos nossos dias, tem de começar a ser corrigida. Isto é, partindo do princípio que nada se perdeu, tudo se transformou, é agora necessário detectar onde foi parar, redistribuir e dar de novo, acabando com o jogo viciado da matéria virtual. Não se pode, porque não é justo, é pedir aos que já ontem suportaram a ascensão, que sejam agora os primeiros a cair ainda mais, para que os mais esclarecidos se mantenham e possam voltar ao seu jogo fantástico procedendo como faziam naquele tempo.
Uma vez mais é de leste, de França que sopra o vento. Que se transforme em furacão!
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