Insondável é a razão por que a excepção sempre é notícia. Neste caso a apontar-nos que a proximidade da eternidade sempre é possível. E daí? apetece perguntar. Será a contagem dos anos assim um valor a perseguir? Para que serve a colecção de anos, se nisso só houver pouco sonho e corte patético de fatias de bolo a cada 365 dias? Pior ainda, quando a vida se evita para lhe dar anos, quando os medos se sobrepõem impedindo a própria vida. O vazio da sobrevivência é o risco de muitas vidas, ainda que longas, em que se vive para estar e não se está para viver, para se sentir o sentido de estar. Porque deve haver um sentido, um programa e um destino em tudo isto, diferente de uma vida tão eterna quanto incerta. Deixar algo que perdure e ajude a vida dos vivos nesta tarefa colectiva em que se está.
Mais do que contar os anos de vida, importa contar a vida que esteve nos anos passados, perceber a inutilidade da anestesia que, curando a dor do quotidiano, apenas prolonga a sobrevivência. Necessário é evitar a paralisia dos medos e ganhar tempo ao tempo. Uma sobrevivência longa é curiosidade justificando uns minutos de notícia, uma vida curta pode ser a persistência da notícia, que dá sentido aos vivos durante gerações. Que o digam Mozart ou Guevara, que falharão o Guiness dos anos, mas terão sempre lugar no da Vida.
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