sábado, janeiro 24, 2009
Muito e já!
Li há dias escrito pelo Professor Carmona da Mota que, noutros tempos, os delegados de propaganda médica eram geralmente ex-estudantes de Medicina que não tinham terminado o curso e, em alternativa, visitavam os que seriam seus futuros colegas, mostrando-lhes as últimas novidades produzidas pela indústria farmacêutica. Os tempos mudaram. Nesta reunião a que assisti, chamada Congresso de Endocrinologia, os temas foram escolhidos segundo a lógica de apresentação das últimas drogas lançadas no mercado. Os oradores, os novos delegados de propaganda, são agora não ex-estudantes, mas professores de Medicina e seus colaboradores. Estamos num outro nível de informação. Curioso foi, desta vez, ver não a fundamentação baseada na evidência, mas antes na adivinhação do que a evidência futura, provavelmente, virá a demonstrar. Assim, alguns cautelosos que escreveram recentemente um consenso sobre tratamento da diabetes em que realçam as provas dadas e não as potenciais, passaram a ser tratados como se de um bando de ignorantes se tratasse. Obviamente, querem mais, é preciso adivinhar o futuro. Por isso, começam a tratar-se medicamente as pré-doenças e de preferência a usarem-se as drogas que no futuro irão dar os melhores resultados. São visionários e todos já viram, repetidamente, a saída de cena de fármacos «óptimos» no passado. A falta de prudência e a ganância levaram ao desastre noutros campos, mas nem isso os inspira. O grande objectivo é criar picos de vendas, bater records logo após o lançamento, antes que venha algum efeito colateral estragar a droga. Esta é a lógica de um sistema onde os doentes não são a prioridade.
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