sexta-feira, janeiro 30, 2009

Prenúncio

Este hospital está cada dia mais bonito. Não tendo a arquitectura japónica do da Luz, fica à noite raiado de luzes pela fachada. De dia, é invadido por jardins. Por dentro, aparece agora pintado, não só até onde a vista do Ministro alcança nas visitas. Limpo, asséptico. Bem vestido.
No entanto, quando o olho sou sempre assaltado pela dúvida: será que chega o fato Armani para tornar saudável um doente preenchido de metástases? Se não tratarmos o cancro, o futuro é previsível. Para a cova descerá um morto elegante. Não negando a necessidade do marketing, é importante que se tratem as metástases. O apego à história passada e ao auto-elogio muitas vezes geradora de uma inércia funcional reinante traduzida, por exemplo, por falta de um processo clínico electrónico geral por doente, a persistência em directores que não dirigem e a saída de células de protecção imunitária que combateriam a apoptose são algumas das metástases que lhe corroem o corpo e o matarão por muito bem vestido que se apresente. A auto-satisfação das inaugurações é anestésica, coloca-o num nirvana virtual e ser-lhe-á fatal. A cegueira da quantidade, sem a luz da qualidade comprometerá definitivamente o futuro. E já não falta muito tempo até se atingir o ponto de não retorno.

quinta-feira, janeiro 29, 2009

Sermão do dia de hoje

Naquele tempo a euforia era tão grande que até o grande economista teve um dia que vir dizer que as árvores não cresciam até ao céu. Mas os homens às vezes são surdos ou simplesmente descrentes, que isto de encher o bolso na bolsa era coisa divertida. Que bom que era ganhar sem produzir! A Bolsa, dizia-se naquele tempo, traduzia a saúde da santa Economia. E todos andavam felizes. Já naquele tempo havia uns desgraçados que não viam os seus ordenados a acompanhar os aumentos dos ganhos percentuais do DJ e que tais. Antes pelo contrário, nesse tempo, diziam os santos economistas que era preciso não criar tensões inflacionistas, não perturbar o crescimento da Sua Santidade, a Economia. Uns mais esclarecidos, ganhavam com a coisa, outros, coitados, esperavam e mantinham a coisa a crescer. Lá à frente a cenoura acenava ao burro, sempre no futuro, que de há muito se sabe que a salvação não é coisa deste mundo, mas do outro, sendo que é a esperança que nos salva e, dos que aqui sofrem, a vida eterna.
Desde há algum tempo, a borrasca instalou-se no Templo de Wall Street. Nesses dias nasceu a crise e o desnorte apoderou-se dos esclarecidos. Subitamente, a riqueza começou a evaporar-se nos electrões da Internet. Uma coisa má instalou-se nas cabeças dos que então só conseguiam dizer, Vende! E ninguém comprava, porque Nada era o que se vendia, tudo imaterial, electrónico e impalpável. O problema é que esta imaterialidade, algures criou matéria: propriedade, casas, iates e muitas coisas mais, tendo todas ficado na posse dos mais esclarecidos. É esta transformação da química da ausência da matéria que, nos nossos dias, tem de começar a ser corrigida. Isto é, partindo do princípio que nada se perdeu, tudo se transformou, é agora necessário detectar onde foi parar, redistribuir e dar de novo, acabando com o jogo viciado da matéria virtual. Não se pode, porque não é justo, é pedir aos que já ontem suportaram a ascensão, que sejam agora os primeiros a cair ainda mais, para que os mais esclarecidos se mantenham e possam voltar ao seu jogo fantástico procedendo como faziam naquele tempo.
Uma vez mais é de leste, de França que sopra o vento. Que se transforme em furacão!

quarta-feira, janeiro 28, 2009

Dúvidas de futuro desempregado

“Sentia-me um pouco perdido no modelo de gestão. Não tinha tarefas concretamente definidas. Não tinha cargo e a 19 Abril reuni-me com o doutor António Marta”, na altura vice-governador do Banco de Portugal.

“Disse-lhe: eu estou na SLN, um grupo sujeito à supervisão do Banco de Portugal, e queria dizer-lhe que o modelo de gestão é este. Sinto-me um pouco intranquilo e penso que o Banco de Portugal deveria estar atento”, relatou.

Confessou Dias Loureiro. Bem, é a confissão de intranquilidade de um homem que não tendo cargo, não tendo tarefas bem definidas no emprego, se sentia na iminência do desemprego e, por isso, foi tentar garanti-lo junto da entidade reguladora. São os dramas do pré-desemprego. Quanto ganharia (ou recusou também os vencimentos?) pela sua inactividade na organização?

terça-feira, janeiro 27, 2009

Zeitgeist (Espírito da Época)

"There will be, in the next generation or so, a pharmacological method of making people love their servitude, and producing dictatorship without tears, so to speak, producing a kind of painless concentration camp for entire societies, so that people will in fact have their liberties taken away from them, but will rather enjoy it, because they will be distracted from any desire to rebel by propaganda or brainwashing, or brainwashing enhanced by pharmacological methods. And this seems to be the final revolution." - Aldous Huxley, Tavistock Group, California Medical School, 1961

Toda a atenção é pouca e estar alertado é o caminho. Afinal não são os homens que subitamente entraram em crise, porque os homens são os mesmos, sabem o que sabiam há 2 ou mais anos, têm a sua capacidade de trabalho mantida, não foram eles que falharam. Foi a sua organização ou sistema liberal de vida que aqui nos conduziu, fazendo entretanto a fortuna de uns quantos. Identificar os beneficiários da crise é a tarefa do momento para lhes apresentarmos a conta devida. Não se atribua aos mesmos de sempre a tarefa de pagar a crise. Como dantes se dizia, os enriquecidos com ela, que a paguem.
Porque, possivelmente, não irá estar nunca «brevemente num cinema perto de si», deixo um link para duas fitas importantes neste contexto: zeitgeist.

domingo, janeiro 25, 2009

Cenário

E se Sócrates, dramaticamente, por uma questão de princípio, ousasse a demissão face à dúvida criada e provocasse eleições antecipadas?

A ver almirantes

Mais almirantes que navios, e daí? Pobres são ao países que têm escassez de líderes. Aqui há liderança, bolas! Não, os nossos almirantes não andam por aí a ver navios. Temos uma marinha de tipo novo, em que os navios têm mais que um almirante, possivelmente porque é necessário muito conhecimento para os manter à tona de água dado a presumível ferrugem pelo peso dos anos e a tecnologia de antigamente só conhecida pelos velhos almirantes.

sábado, janeiro 24, 2009

Muito e já!

Li há dias escrito pelo Professor Carmona da Mota que, noutros tempos, os delegados de propaganda médica eram geralmente ex-estudantes de Medicina que não tinham terminado o curso e, em alternativa, visitavam os que seriam seus futuros colegas, mostrando-lhes as últimas novidades produzidas pela indústria farmacêutica. Os tempos mudaram. Nesta reunião a que assisti, chamada Congresso de Endocrinologia, os temas foram escolhidos segundo a lógica de apresentação das últimas drogas lançadas no mercado. Os oradores, os novos delegados de propaganda, são agora não ex-estudantes, mas professores de Medicina e seus colaboradores. Estamos num outro nível de informação. Curioso foi, desta vez, ver não a fundamentação baseada na evidência, mas antes na adivinhação do que a evidência futura, provavelmente, virá a demonstrar. Assim, alguns cautelosos que escreveram recentemente um consenso sobre tratamento da diabetes em que realçam as provas dadas e não as potenciais, passaram a ser tratados como se de um bando de ignorantes se tratasse. Obviamente, querem mais, é preciso adivinhar o futuro. Por isso, começam a tratar-se medicamente as pré-doenças e de preferência a usarem-se as drogas que no futuro irão dar os melhores resultados. São visionários e todos já viram, repetidamente, a saída de cena de fármacos «óptimos» no passado. A falta de prudência e a ganância levaram ao desastre noutros campos, mas nem isso os inspira. O grande objectivo é criar picos de vendas, bater records logo após o lançamento, antes que venha algum efeito colateral estragar a droga. Esta é a lógica de um sistema onde os doentes não são a prioridade.

quarta-feira, janeiro 21, 2009

Estado de esperança



My fellow citizens:

I stand here today humbled by the task before us, grateful for the trust you have bestowed, mindful of the sacrifices borne by our ancestors. I thank President Bush for his service to our nation, as well as the generosity and co-operation he has shown throughout this transition.

Key words used by President Barack Obama in his inaugural address.

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Forty-four Americans have now taken the presidential oath. The words have been spoken during rising tides of prosperity and the still waters of peace. Yet, every so often the oath is taken amidst gathering clouds and raging storms.

At these moments, America has carried on not simply because of the skill or vision of those in high office, but because we, the people, have remained faithful to the ideals of our forbearers, and true to our founding documents.

So it has been. So it must be with this generation of Americans.

Serious challenges

That we are in the midst of crisis is now well understood. Our nation is at war, against a far-reaching network of violence and hatred. Our economy is badly weakened, a consequence of greed and irresponsibility on the part of some, but also our collective failure to make hard choices and prepare the nation for a new age. Homes have been lost; jobs shed; businesses shuttered. Our health care is too costly; our schools fail too many; and each day brings further evidence that the ways we use energy strengthen our adversaries and threaten our planet.

We have chosen hope over fear, unity of purpose over conflict and discord

These are the indicators of crisis, subject to data and statistics. Less measurable but no less profound is a sapping of confidence across our land - a nagging fear that America's decline is inevitable, and that the next generation must lower its sights.

Today I say to you that the challenges we face are real. They are serious and they are many. They will not be met easily or in a short span of time. But know this, America - they will be met.

On this day, we gather because we have chosen hope over fear, unity of purpose over conflict and discord.

On this day, we come to proclaim an end to the petty grievances and false promises, the recriminations and worn out dogmas, that for far too long have strangled our politics.

Nation of 'risk-takers'

We remain a young nation, but in the words of scripture, the time has come to set aside childish things. The time has come to reaffirm our enduring spirit; to choose our better history; to carry forward that precious gift, that noble idea, passed on from generation to generation: the God-given promise that all are equal, all are free, and all deserve a chance to pursue their full measure of happiness.

In reaffirming the greatness of our nation, we understand that greatness is never a given. It must be earned. Our journey has never been one of short-cuts or settling for less. It has not been the path for the faint-hearted - for those who prefer leisure over work, or seek only the pleasures of riches and fame. Rather, it has been the risk-takers, the doers, the makers of things - some celebrated but more often men and women obscure in their labour, who have carried us up the long, rugged path towards prosperity and freedom.

For us, they packed up their few worldly possessions and travelled across oceans in search of a new life.

For us, they toiled in sweatshops and settled the West; endured the lash of the whip and ploughed the hard earth.

For us, they fought and died, in places like Concord and Gettysburg; Normandy and Khe Sahn.

'Remaking America'

Time and again these men and women struggled and sacrificed and worked till their hands were raw so that we might live a better life. They saw America as bigger than the sum of our individual ambitions; greater than all the differences of birth or wealth or faction.

The state of the economy calls for action, bold and swift

This is the journey we continue today. We remain the most prosperous, powerful nation on earth. Our workers are no less productive than when this crisis began. Our minds are no less inventive, our goods and services no less needed than they were last week or last month or last year. Our capacity remains undiminished. But our time of standing pat, of protecting narrow interests and putting off unpleasant decisions - that time has surely passed. Starting today, we must pick ourselves up, dust ourselves off, and begin again the work of remaking America.

For everywhere we look, there is work to be done. The state of the economy calls for action, bold and swift, and we will act - not only to create new jobs, but to lay a new foundation for growth. We will build the roads and bridges, the electric grids and digital lines that feed our commerce and bind us together. We will restore science to its rightful place, and wield technology's wonders to raise health care's quality and lower its cost. We will harness the sun and the winds and the soil to fuel our cars and run our factories. And we will transform our schools and colleges and universities to meet the demands of a new age. All this we can do. All this we will do.

Restoring trust

Now, there are some who question the scale of our ambitions - who suggest that our system cannot tolerate too many big plans. Their memories are short. For they have forgotten what this country has already done; what free men and women can achieve when imagination is joined to common purpose, and necessity to courage.

We reject as false the choice between our safety and our ideals

What the cynics fail to understand is that the ground has shifted beneath them - that the stale political arguments that have consumed us for so long no longer apply.

The question we ask today is not whether our government is too big or too small, but whether it works - whether it helps families find jobs at a decent wage, care they can afford, a retirement that is dignified. Where the answer is yes, we intend to move forward. Where the answer is no, programs will end. And those of us who manage the public's dollars will be held to account - to spend wisely, reform bad habits, and do our business in the light of day - because only then can we restore the vital trust between a people and their government.

Nor is the question before us whether the market is a force for good or ill. Its power to generate wealth and expand freedom is unmatched, but this crisis has reminded us that without a watchful eye, the market can spin out of control - that a nation cannot prosper long when it favours only the prosperous. The success of our economy has always depended not just on the size of our gross domestic product, but on the reach of our prosperity; on the ability to extend opportunity to every willing heart - not out of charity, but because it is the surest route to our common good.

'Ready to lead'

As for our common defence, we reject as false the choice between our safety and our ideals. Our founding fathers, faced with perils we can scarcely imagine, drafted a charter to assure the rule of law and the rights of man, a charter expanded by the blood of generations. Those ideals still light the world, and we will not give them up for expedience's sake. And so to all other peoples and governments who are watching today, from the grandest capitals to the small village where my father was born: know that America is a friend of each nation and every man, woman, and child who seeks a future of peace and dignity, and we are ready to lead once more.

We will not apologise for our way of life, nor will we waver in its defence

Recall that earlier generations faced down fascism and communism not just with missiles and tanks, but with the sturdy alliances and enduring convictions. They understood that our power alone cannot protect us, nor does it entitle us to do as we please. Instead, they knew that our power grows through its prudent use; our security emanates from the justness of our cause, the force of our example, the tempering qualities of humility and restraint.

We are the keepers of this legacy. Guided by these principles once more, we can meet those new threats that demand even greater effort - even greater cooperation and understanding between nations. We will begin to responsibly leave Iraq to its people, and forge a hard-earned peace in Afghanistan. With old friends and former foes, we will work tirelessly to lessen the nuclear threat, and roll back the spectre of a warming planet. We will not apologise for our way of life, nor will we waver in its defence, and for those who seek to advance their aims by inducing terror and slaughtering innocents, we say to you now that our spirit is stronger and cannot be broken; you cannot outlast us, and we will defeat you.

'Era of peace'

For we know that our patchwork heritage is a strength, not a weakness. We are a nation of Christians and Muslims, Jews and Hindus - and non-believers. We are shaped by every language and culture, drawn from every end of this earth; and because we have tasted the bitter swill of civil war and segregation, and emerged from that dark chapter stronger and more united, we cannot help but believe that the old hatreds shall someday pass; that the lines of tribe shall soon dissolve; that as the world grows smaller, our common humanity shall reveal itself; and that America must play its role in ushering in a new era of peace.

To the Muslim world, we seek a new way forward, based on mutual interest and mutual respect. To those leaders around the globe who seek to sow conflict, or blame their society's ills on the West - know that your people will judge you on what you can build, not what you destroy. To those who cling to power through corruption and deceit and the silencing of dissent, know that you are on the wrong side of history; but that we will extend a hand if you are willing to unclench your fist.

To the people of poor nations, we pledge to work alongside you to make your farms flourish and let clean waters flow; to nourish starved bodies and feed hungry minds. And to those nations like ours that enjoy relative plenty, we say we can no longer afford indifference to suffering outside our borders; nor can we consume the world's resources without regard to effect. For the world has changed, and we must change with it.

'Duties'

As we consider the road that unfolds before us, we remember with humble gratitude those brave Americans who, at this very hour, patrol far-off deserts and distant mountains. They have something to tell us, just as the fallen heroes who lie in Arlington whisper through the ages. We honour them not only because they are guardians of our liberty, but because they embody the spirit of service; a willingness to find meaning in something greater than themselves. And yet, at this moment - a moment that will define a generation - it is precisely this spirit that must inhabit us all.

What is required of us now is a new era of responsibility

For as much as government can do and must do, it is ultimately the faith and determination of the American people upon which this nation relies. It is the kindness to take in a stranger when the levees break, the selflessness of workers who would rather cut their hours than see a friend lose their job which sees us through our darkest hours. It is the firefighter's courage to storm a stairway filled with smoke, but also a parent's willingness to nurture a child, that finally decides our fate.

Our challenges may be new. The instruments with which we meet them may be new. But those values upon which our success depends - honesty and hard work, courage and fair play, tolerance and curiosity, loyalty and patriotism - these things are old. These things are true. They have been the quiet force of progress throughout our history. What is demanded then is a return to these truths.

What is required of us now is a new era of responsibility - a recognition, on the part of every American, that we have duties to ourselves, our nation, and the world, duties that we do not grudgingly accept but rather seize gladly, firm in the knowledge that there is nothing so satisfying to the spirit, so defining of our character, than giving our all to a difficult task.

'Gift of freedom'

This is the price and the promise of citizenship.

This is the source of our confidence - the knowledge that God calls on us to shape an uncertain destiny.

This is the meaning of our liberty and our creed - why men and women and children of every race and every faith can join in celebration across this magnificent mall, and why a man whose father less than 60 years ago might not have been served at a local restaurant can now stand before you to take a most sacred oath.

So let us mark this day with remembrance, of who we are and how far we have travelled. In the year of America's birth, in the coldest of months, a small band of patriots huddled by dying campfires on the shores of an icy river. The capital was abandoned. The enemy was advancing. The snow was stained with blood. At a moment when the outcome of our revolution was most in doubt, the father of our nation ordered these words be read to the people:

"Let it be told to the future world... that in the depth of winter, when nothing but hope and virtue could survive... that the city and the country, alarmed at one common danger, came forth to meet [it]."

America. In the face of our common dangers, in this winter of our hardship, let us remember these timeless words. With hope and virtue, let us brave once more the icy currents, and endure what storms may come. Let it be said by our children's children that when we were tested we refused to let this journey end, that we did not turn back nor did we falter; and with eyes fixed on the horizon and God's grace upon us, we carried forth that great gift of freedom and delivered it safely to future generations.

Thank you. God bless you. And God bless the United States of America.


Ficou o mundo em estado de esperança, quando ouviu alguém que parece estar mais perto de nós, que faz um discurso que tem preocupações quase parecidas com as nossas, as da gente normal. Apesar das dúvidas, pressentem-se diferenças entre este homem e esta mulher e sobretudo aqueles que hoje foram apeados. Simbolicamente Cheney nem saiu a pé, mas de cadeira de rodas, traduzindo alegoricamente a impotência e fragilidade da governação cessante. Bush tinha um olhar vago de quem está aliviado e pronto para alguma boémia texana. Que a História lhe não seja leve.
Mas vamos lá a ver se o estado de esperança, um dia chegará a estado de bem-estar. Tenho dúvidas, mas eu sou um céptico.

segunda-feira, janeiro 19, 2009

Embrulhados

Mais do que a prenda, o importante é o papel em que se embrulha. Foi fiel a este conceito que o PM nos serviu a última prenda de suplemento de orçamento. Embrulhou-a sabiamente com a questão dos ditos casamentos homossexuais e pronto ficou tudo a falar do papel. Genial, uma vez mais. Desta vez nem os bloquistas do costume abriram a boca, sensibilizados que ficaram com o embrulho, também estes esqueceram a prenda. No resto, a D. Manuela vai dando umas ajudas com mais umas gafes. Porreiro, pá!

sexta-feira, janeiro 16, 2009

Requiem

Não fosse a viagem de comboio feita ao amanhecer, a espreitar as árvores despidas no meio das brumas e estas reuniões da Ordem seriam ainda mais deprimentes. Assim, enquanto desenrolam os argumentos corporativos, eu lembro-me dos encantos do nevoeiro que nos faz perceber melhor a realidade e vou apreciando melhor a fita que descrevem. Por momentos acontece que tudo fica muito transparente e o rei desfila nu, sem que alguém ouse afirmá-lo. Cheguei a um estado de sabedoria em que a distracção me salva e tranquiliza. Ao fim e ao cabo também não hão-de piorar muito as coisas. A eficácia deles é nula. Tudo não passa de fingimento, fitas.
Esta organização morreu.

quinta-feira, janeiro 15, 2009

Oração

Queria só, a propósito, e de uma forma mais abrangente recomendar a tod(o)as a(o)s jovens, que pensem bem nos sarilhos em que se podem meter se pensarem em casar-se com judeus, católicos e outras vítimas de qualquer fanatismo religioso. Digo-o por caridade cristã e para que, nesta altura, os árabes se sintam mais acompanhados. Ámen.

quarta-feira, janeiro 14, 2009

Santa ignorância

Ouvi há dias que 96% das pessoas (ou seriam portugueses? Não importa, devem ser iguais aos outros) não apreciaria saber com antecedência a altura da sua morte. Há uma sensível vantagem na ignorância de se não saber o tempo que se tem, não pela geração do desejo de não deixar para amanhã o que se pode fazer hoje, mas porque permite esperar pelo último instante, que é sempre o que há-de vir. É a manifestação de uma esperança que o conhecimento antecipado inevitavelmente nos roubaria, sem ganho notório. E a privação da esperança é algo inaceitável. Na verdade, mesmo que algo deixemos por fazer, por alguma surpresa acontecida, pouco se perderá e a vida continuará a ser como dantes para os restantes. Por tudo isso, (uma vez na vida!) estou com a maioria.

terça-feira, janeiro 13, 2009

Inbox

Não admira que num país assim emerjam cavalgaduras, que chegam ao topo, dizendo ter formação, que nunca adquiriram, que usem dinheiros públicos (fortunas escandalosas) para se promoverem pessoalmente face a um público acrítico, burro e embrutecido.

Este é um país em que a Câmara Municipal de Lisboa, desde o 25 de Abril distribui casas de RENDA ECONÓMICA - mas não de construção económica - aos seus altos funcionários e jornalistas, em que estes últimos, em atitude de gratidão, passaram a esconder as verdadeiras notícias e passaram a "prostituir-se" na sua dignidade profissional, a troco de participar nos roubos de dinheiros públicos, destinados a gente carenciada, mas mais honesta que estes bandalhos.

Em dado momento a actividade do jornalismo constituiu-se como O VERDADEIRO PODER. Só pela sua acção se sabia a verdade sobre os podres forjados pelos políticos e pelo poder judicial. Agora contínua a ser o VERDADEIRO PODER mas senta-se à mesa dos corruptos e com eles partilha os despojos, rapando os ossos ao esqueleto deste povo burro e embrutecido. Para garantir que vai continuar burro o grande cavallia (que em português significa cavalgadura) desferiu o golpe de morte ao ensino público e coroou a acção com a criação das Novas Oportunidades.

Gente assim mal formada vai aceitar tudo e o país será o pátio de recreio dos mafiosos.

A justiça portuguesa não é apenas cega. É surda, muda, coxa e marreca.

Portugal tem um défice de responsabilidade civil, criminal e moral muito maior do que o seu défice financeiro, e nenhum português se preocupa com isso, apesar de pagar os custos da morosidade, do secretismo, do encobrimento, do compadrio e da corrupção. Os portugueses, na sua infinita e pacata desordem existencial, acham tudo "normal" e encolhem os ombros. Por uma vez gostava que em Portugal alguma coisa tivesse um fim, ponto final, assunto arrumado. Não se fala mais nisso. Vivemos no país mais inconclusivo do mundo, em permanente agitação sobre tudo e sem concluir nada.

Desde os Templários e as obras de Santa Engrácia, que se sabe que, nada acaba em Portugal, nada é levado às últimas Consequências, nada é definitivo e tudo é improvisado, temporário, desenrascado.

Da morte de Francisco Sá Carneiro e do eterno mistério que a rodeia, foi crime, não foi crime, ao desaparecimento de Madeleine McCann ou ao caso Casa Pia, sabemos de antemão que nunca saberemos o fim destas histórias, nem o que verdadeiramente se passou, nem quem são os criminosos ou quantos crimes houve.

Tudo a que temos direito são informações caídas a conta-gotas, pedaços de enigma, peças do quebra-cabeças. E habituámo-nos a prescindir de apurar a verdade porque intimamente achamos que não saber o final da história é uma coisa normal em Portugal, e que este é um país onde as coisas importantes são "abafadas", como se vivêssemos ainda em ditadura.

E os novos códigos Penal e de Processo Penal em nada vão mudar este estado de coisas. Apesar dos jornais e das televisões, dos blogs, dos computadores e da Internet, apesar de termos acesso em tempo real ao maior número de notícias de sempre, continuamos sem saber nada, e esperando nunca vir a saber com toda a naturalidade.

Do caso Portucale à Operação Furacão, da compra dos submarinos às escutas ao primeiro-ministro, do caso da Universidade Independente ao caso da Universidade Moderna, do Futebol Clube do Porto ao Sport Lisboa Benfica, da corrupção dos árbitros à corrupção dos autarcas, de Fátima Felgueiras a Isaltino Morais, da Braga Parques ao grande empresário Bibi, das queixas tardias de Catalina Pestana às de João Cravinho, há por aí alguém quem acredite que algum destes secretos arquivos e seus possíveis e alegados, muitos alegados crimes, acabem por ser investigados, julgados e devidamente punidos?

Vale e Azevedo pagou por todos?

Quem se lembra dos doentes infectados por acidente e negligência de Leonor Beleza com o vírus da sida?

Quem se lembra do miúdo electrocutado no semáforo e do outro afogado num parque aquático?

Quem se lembra das crianças assassinadas na Madeira e do mistério dos crimes imputados ao padre Frederico?

Quem se lembra que um dos raros condenados em Portugal, o mesmo padre Frederico, acabou a passear no Calçadão de Copacabana?

Quem se lembra do autarca alentejano queimado no seu carro e cuja cabeça foi roubada do Instituto de Medicina Legal?

Em todos estes casos, e muitos outros, menos falados e tão sombrios e enrodilhados como estes, a verdade a que tivemos direito foi nenhuma.

No caso McCann, cujos desenvolvimentos vão do escabroso ao incrível, alguém acredita que se venha a descobrir o corpo da criança ou a condenar alguém?

As últimas notícias dizem que Gerry McCann não seria pai biológico da criança, contribuindo para a confusão desta investigação em que a Polícia espalha rumores e indícios que não têm substância.

E a miúda desaparecida em Figueira? O que lhe aconteceu? E todas as crianças desaparecida antes delas, quem as procurou?

E o processo do Parque, onde tantos clientes buscavam prostitutos, alguns menores, onde tanta gente "importante" estava envolvida, o que aconteceu?

Arranjou-se um bode expiatório, foi o que aconteceu.

E as famosas fotografias de Teresa Costa Macedo? Aquelas em que ela reconheceu imensa gente "importante", jogadores de futebol, milionários, políticos, onde estão? Foram destruídas? Quem as destruiu e porquê?

E os crimes de evasão fiscal de Artur Albarran mais os negócios escuros do grupo Carlyle do senhor Carlucci em Portugal, onde é que isso pára?

O mesmo grupo Carlyle onde labora o ex-ministro Martins da Cruz, apeado por causa de um pequeno crime sem importância, o da cunha para a sua filha.

E aquele médico do Hospital de Santa Maria, suspeito de ter assassinado doentes por negligência? Exerce medicina?

E os que sobram e todos os dias vão praticando os seus crimes de colarinho branco sabendo que a justiça portuguesa não é apenas cega, é surda, muda, coxa e marreca.

Passado o prazo da intriga e do sensacionalismo, todos estes casos são arquivados nas gavetas das nossas consciências e condenados ao esquecimento.

Ninguém quer saber a verdade. Ou, pelo menos, tentar saber a verdade.

Nunca saberemos a verdade sobre o caso Casa Pia, nem saberemos quem eram as redes e os "senhores importantes" que abusaram, abusam e abusarão de crianças em Portugal, sejam rapazes ou raparigas, visto que os abusos sobre meninas ficaram sempre na sombra.

Existe em Portugal uma camada subterrânea de segredos e injustiças , de protecções e lavagens , de corporações e famílias , de eminências e reputações, de dinheiros e negociações que impede a escavação da verdade.

Este é o maior fracasso da democracia portuguesa

Clara Ferreira Alves - "Expresso"


Estranho sempre este gáudio pacóvio que faz proliferar este tipo de mensagens pelas nossas inboxes. É como se nada disto fosse, também, responsabilidade nossa. Toda a culpa do que nos rodeia é sempre dos outros, dos que fazem este país onde a nossa missão parece estar reduzida a assistir, sem nada fazer. Uma confissão de impotência que envergonha e que, pelo menos, devia causar algum remorso. Continua-se, tranquila e criticamente, à espera que façam melhor, eles, mas nunca nós. Eles, continuam a ser tolerados como actores, por aqueles que críticos nunca se assumem como mais do que espectadores. Futebolistas de bancada. Intelectuais à espera.

segunda-feira, janeiro 12, 2009

Que se lixe a taça

Está em festa a pátria lusa depois de saber que mais «um de nós» é o melhor do mundo. A parte que me cabe da receita de tão enorme feito está, desde já, à venda e a preço zero. A ilusão da grandeza não me afecta, muito menos os êxitos desta dita indústria nacional que é o futebol. Deixo gostosamente o sabor destas vitórias a todos os Albertos Joões e títeres associados, para celebração da sua consistência ideológica.
Curiosamente, até nesta indústria, a emigração é necessidade para o triunfo. Por cá, ficam os foras de jogo e as penalidades por assinalar ou demasiado assinaladas, na eterna discussão das incompetências. Tudo é mentira desportiva ou não, que isto de desporto até me parece ter bem pouco. Ainda permaneço fiel à antiga designação que a isto tudo se dava: alienação.
Por humanidade, espero que, ainda assim, possa servir esta honraria ao tal melhor para reflectir um pouco mais, antes de desaparecer volatilizado nalgum embate mais violento ainda, contra uma qualquer protecção de estrada.

domingo, janeiro 04, 2009

Deuses

(retirado de http://www.monde-magouilles.com/photos_guerre/gaza3.jpg)

Tantos deuses os homens criaram para afastar os seu medos. Tantos medos têm agora por causa dos deuses criados. E se os deuses afinal fossem inocentes?
Demónios que me perseguem durante a visita a deuses das Ásias no Museu Do Oriente.

sábado, janeiro 03, 2009

O Guiness dos anos

Insondável é a razão por que a excepção sempre é notícia. Neste caso a apontar-nos que a proximidade da eternidade sempre é possível. E daí? apetece perguntar. Será a contagem dos anos assim um valor a perseguir? Para que serve a colecção de anos, se nisso só houver pouco sonho e corte patético de fatias de bolo a cada 365 dias? Pior ainda, quando a vida se evita para lhe dar anos, quando os medos se sobrepõem impedindo a própria vida. O vazio da sobrevivência é o risco de muitas vidas, ainda que longas, em que se vive para estar e não se está para viver, para se sentir o sentido de estar. Porque deve haver um sentido, um programa e um destino em tudo isto, diferente de uma vida tão eterna quanto incerta. Deixar algo que perdure e ajude a vida dos vivos nesta tarefa colectiva em que se está.
Mais do que contar os anos de vida, importa contar a vida que esteve nos anos passados, perceber a inutilidade da anestesia que, curando a dor do quotidiano, apenas prolonga a sobrevivência. Necessário é evitar a paralisia dos medos e ganhar tempo ao tempo. Uma sobrevivência longa é curiosidade justificando uns minutos de notícia, uma vida curta pode ser a persistência da notícia, que dá sentido aos vivos durante gerações. Que o digam Mozart ou Guevara, que falharão o Guiness dos anos, mas terão sempre lugar no da Vida.

quinta-feira, janeiro 01, 2009


Os anos começam em qualquer dia e seguem a sucessão dos dias acontecendo sempre de forma idêntica. Cada momento com os seus encantos.
Há dias que encantam mais: os passados com os amigos.