Para quem acha que vivemos num país inseguro e para todos os outros, porque a cultura geral e a informação boa nunca serão demais, é obrigatório ver Tropa de Elite. A sensação é de que não é um filme, mas um documentário. Estão lá a corrupção, os limites da acção em democracia, a hipocrisia de certa esquerda bem pensante e de certa direita benfeitora, os limites (ou a sua ausência) da guerra, mas sobretudo a revelação de que a luta de classes está viva. A realidade brasileira, com um gigantesco fosso entre ricos e pobres, emerge a cada instante. A insegurança é absoluta, a violência incontável. Este é, possivelmente, o fim da história do liberalismo se não lhe soubermos fazer frente. Será uma imensa imagem branca, silenciosa, como se vê no fim do filme.
Curiosamente, sendo de uma violência enorme nas imagens neo-realistas, parece-me menos violento que o massacre gratuito de violência, a rondar o pornográfico, da quase generalidade das séries mais ou menos policiais americanas que enxameiam as tardes e noites das televisões. A violência deste filme não é banal, ligeira, sabe a horror. Por isso não se impregna, rejeita-se.
Ao mesmo tempo, é um filme de dilemas pessoais, nomeadamente, o de se assegurar que o nosso posto de trabalho só acaba no dia em que alguém o puder desempenhar, sobre a responsabilidade ética de estar até esse momento.
Percebe-se que tenha sido premiado, que seja fonte de enorme discussão, que possivelmente nada diga, quer à senhora Pallin, quer, até, ao senhor Obama.
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