terça-feira, fevereiro 27, 2007

Anti-notícia

Tivesse o debate sobre as urgências acabado com o trambolhão do Ministro e hoje todos os noticiários teriam começado da mesma forma. Só que não foi assim. Com clareza foi demonstrada a justeza da medida, o rigor de quem planeou a nova rede de urgência que potencialmente irá melhorar a assistência médica no país. Logo, não havendo político em quem arrear, a coisa deixou de interessar aos espertos da notícia. As boas notícias não o são. Mais vale encher as páginas e os telejornais com as notícias das Esmeraldas e dos ladrões das Universidades independentes e privadas.
Muito gosta a nossa imprensa livre de bater ora nuns, ora noutros, para que tudo fique na mesma. Enquanto bate, o povão dorme e tem sonhos de grandeza.

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Será que não perceberam ou antes pelo contrário?

Os académicos não brincam em serviço e Babel teve aquilo que seria de esperar, um óscar pela música. Havia ali uma linguagem que eles não entendem, nem quererm ouvir falar. Para o filme, melhor assim, que certas coisas, embora rendendo algum, acabam por manchar.

sábado, fevereiro 24, 2007

Espinheiro


No meio da planície, iluminado, quase mágico quando se chega. O silêncio ouve-se e o resto já aprendi a contornar.

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Um direito universal e tendencialmente gratuito

Ao considerar-se a Saúde como mercadoria, isto é, como um valor trocável, sujeito à compra e venda de acordo com as leis de oferta e da procura em Sociedade de Mercado, esquece-se uma especificidade fundamental da sua natureza: ao contrário da maioria das outras mercadorias, esta, naturalmente, ninguém a quer consumir, todos dispensariam gastar dinheiro na sua aquisição, impõe-se-nos o consumo sem a pressão do marketing. Por isso, alarmamo-nos quando nos anunciam o fecho de urgências, quando nos colocam o posto de recurso a mais alguns quilómetros, mesmo que toda a racionalidade e eficiência justifiquem essas medidas.
A Saúde surge-nos como uma necessidade e um direito, não como um luxo de consumo. No entanto, cada vez mais a pressão liberal desvirtua a realidade do que se sente naturalmente. Hoje existe um marketing potente de estímulo ao consumo da Saúde, aproveitando o conhecimento do sentimento do direito que a ela temos. Essa pressão exige um combate sério e aplicado. A pressão tecnológica que faz disparar as despesas exige uma atitude responsável dos agentes, responsabilizadora de quem lhes pagam e igualmente a auto-responsabilização dos beneficiários, os utentes. Não parece decente assistir-se com serenidade à realidade de uma sociedade que induz ao consumo, que gera patologia e ao mesmo tempo à proliferação dos meios de diagnóstico e tratamento que visam atenuar e corrigir o que primariamente seria evitável. Evitável pela organização social menos indutora de consumos desnecessários e pela atitude responsável dos consumidores. Concretizando, que justificação para todos pagarem as despesas com o cancro do pulmão, quando é bem sabido que se não combatem eficazmente as tabaqueiras e os fumadores não tomam uma atitude responsável de prevenção? Ou as despesas do politraumatizado que conduz sob efeitos de álcool ou de drogas? Ou dos diabéticos, que se alimentam de forma desregrada, quem sabe por se não combaterem as cadeias de comida rápida ou os pré-cozinhados ou os estilos de vida que roubam todo o tempo para se cozinhar tranquilamente e comer bem e de forma saudável? Ou, ou, ou (um infinito de possibilidades).
O direito à saúde deve ser universal, por isso ao Estado compete actuar de forma eficaz na prevenção da doença criando as condições para que os cidadãos vivam saudáveis. A estes compete também serem responsáveis nas suas escolhas, pois só dessa forma a gratuitidade será justificável.

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Consulta

De seguida. Primeiro veio a pastora de cajado na mão curvada pela osteoporose, uma caricatura bíblica ambulante. Vinha porque o médico a mandou, que ela só tinha dores nas costas e no joelho, só que ele lhe disse que tinha tiróide. Coisa estranha deve ser esta coisa da tiróide, que tanta gente tem! Afinal era só a T4 elevada, tudo o resto era normal, mas o fígado agredido pelo vinho faz destas coisas.
Depois, veio a jovem de 18 anos, com os pais muito busy, separados na vida, que se encontram para trazer a filha ao médico e aproveitam enquanto estão no consultório para delegarem competências, mostrarem disponibilidades politicamente correctas, pôr a escrita em dia da família. Ainda bem que há estas idas ao médico para se encontrarem pelo meio das tarefas em que andam, sempre ocupados, a gerar valor.
Dois instantes de dois tempos e lugares, a Idade Média e a América do Norte aqui tão perto, nesta tarde de consulta externa.

terça-feira, fevereiro 20, 2007

Vertigem

O ser é uma vertigem. Nem sequer o resultado de um desejo. Apenas o acaso fortuito de um encontro caótico. Depois, somos. E atribuimo-nos um significado ímpar. Afinal, um acaso, apenas.
Tanta importância a tão pouca coisa.
Mas a verdade é que não é possível deixar de dar importância aos resultados que encontramos e vemos crescer.

domingo, fevereiro 11, 2007

Às mulheres e homens do NÃO


O caso não é para ficarem tristes. Terão apenas de reencaminhar essa vossa vontade de defender a vida. Um pouco mais à frente, estes e mais alguns milhões de outros já tiveram a vida que existe naqueles que tanto disseram defender. Alguma coisa estranha, alguma força do mal, os não deixa viver. E estão aí, à mão de semear, prontos para a vossa militância. É a vossa grande oportunidade de pugnar pelo direito à vida. São, realmente, os mais frágeis, os indefesos do mundo, não os deixem liquidar. Indignem-se como são capazes de se indignar, quando vêem a vida não respeitada. Ou não conseguem ver vida aqui, vós que tão bem sabieis adivinha-la nos ecógrafos? Estes têm sistema nervoso funcionante, doi-lhes a vossa ignorância, emocionam-se quando lhes dão de comer, choram e riem apesar de tudo. Há um grande combate a fazer contra todas as forças do mal que lhes não permitem o cabal desenvolvimento de tudo do que são feitos, do seu real potencial de desenvolvimento. Até poderiam ir à escola, aprender, ficarem seres humanos verdadeiramente desenvolvidos e vivos. Têm direito à vida. Não são 20000, são muitos mais. Temos a obrigação de lhes criarmos condições de vida e a vossa energia combativa deve continuar a funcionar e reforçar-se porque este combate é bem mais vasto do que aquele em que estiveram envolvidos. A luta pela vida pode continuar! Espero que a vossa ausência de militância neste combate não vá continuar, que não achem esta ausência de Vida natural, quiçà, determinada pela vontade do vosso Deus.

sábado, fevereiro 10, 2007

Reflexão

Porque hoje é dia de reflexão, não posso falar do assunto tabu. Deixo apenas à reflexão umas linhas de Natália Correia:

"O acto sexual é para fazer filhos"

(afirmação no Parlamento de João Morgadao, deputado do CDS.)

«Já que o coito - diz o Morgado -
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca;
temos na procriação
prova que houve truca-truca.
Sendo pai de um só rebento,
lógica é a conclusão
de que viril instrumento
só usou - parca ração! -
uma vez. E se a função
faz o órgão - diz o ditado -
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.»

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Acordai!

Al Gore (será árabe com este duvidoso AL no nome, nunca se sabe)passou por aí para falar com uns amigos e arrecadar uns cobres. Isto da ecologia também pode gerar valor (a 175000 euros a conferência) e parece que a ameaça climática é bem mais significativa do que a do terrorismo.

Por mim, já estou por tudo. Num telejornal da noite, atiraram-me de seguida com notícias de tiros, roubos, fraudes e mais corrupção, que por momentos pensei que estava a morar em Bagdad. Se desse 5% de valor aos medos que a Imprensa nos revela, já estava escondido bem longe, num qualquer bunker. A primeira confusão que por aí anda a intoxicar-nos a vida, é a ideia de que a vida se mede em tempo. Para a prolongarmos, procura-se fazer tudo, inclusivamente deixar de viver, optando-se apenas pela sobrevivência. Realmente, tudo o que é demais cheira mal e não será descabido procurar-se algum perfume na vida.
Será que já acabaram e, por isso não são notícia, os comportamentos daqueles heróis românticos que, de preferência sem armas, corajosamente, atacavam os malfeitores e se tornavam exemplo para as comunidades? Vivemos afinal numa sociedade de acagaçados ou será que os perigos também nem são assim tantos? À exploração crescente do liberalismo é melhor amedrontar a «escumalha» do que apelar-lhes ao heroísmo, não vão os gajos começar a resistir ao lindo mundo que nos constroem?

E ou me engano ou começa agora o pavor da gripe, essa coisa que aumentou a ida às urgências dos hospitais nos últimos dias. Dantes um tipo podia ter febre, uns arrepios e dar umas tossidelas sem ter de ir a correr ao médico, mas agora com alertas policolores sempre presentes, está-se sempre à beira da morte.
Urgente é criar alertas de falta de vida na vidinha de todos os dias! Cantar:

Acordai
acordai
homens que dormis
a embalar a dor
dos silêncios vis
vinde no clamor
das almas viris
arrancar a flor
que dorme na raíz

Acordai
acordai
raios e tufões
que dormis no ar
e nas multidões
vinde incendiar
de astros e canções
as pedras do mar
o mundo e os corações

Acordai
acendei
de almas e de sóis
este mar sem cais
nem luz de faróis
e acordai depois
das lutas finais
os nossos heróis
que dormem nos covais
Acordai!


(de José Gomes Ferreira)

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

O que disse?

Prolongamento de consultas para atender urgências? Vamos lá a entender-nos, consulta é uma actividade programada, atendimento de casos de urgência, é urgência até prova em contrário, não é verdade? Terá sido apenas um lapso linguístico do Ministro CC, que ora fecha, ora abre, ora impede, ora liberta, que vai por aqui e vem de volta? Lá para Dezembro, se lá chegar, alguém lhe ofereça um GPS!

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Quando o mar bate na rocha 2

Mesmo reconhecendo a sua eficácia em situações de crise, as lideranças coercivas, sempre me deixam de unhas de fora. É que não acredito na inspiração divina de alguns alumiados, isto é, tipos com visões. Depois, acontece que quando o mar bate na rocha... já estão noutra, longe da confusão criada.

Quando o mar bate na rocha...

Se o doente é propriedade do médico que o assiste, então que sentido faz confiar na decisão de uma equipa? Quando um médico de uma equipa, põe a sua decisão sobre o tipo de cuidados a prestar, acima da vontade do conjunto, penso que o doente deverá, no mínimo, ter conhecimento do que a equipa pensa sobre o assunto. Ou bastar-lhe-á a fé no médico que lhe calhou ou escolheu? Com que fundamento se fazem estas escolhas? Será a ignorância, uma vantagem?

domingo, fevereiro 04, 2007

Gripe

Não pensem que é fácil estar com gripe... Já ssim dizia o ex-futuro prémio Nobel A Lobo Antunes:

Todos os homens são maricas quando estão com gripe (pasodoble)"

Pachos na testa
terço na mão
uma botija
chá de limão
zaragatoas
vinho com mel
três aspirinas
creme na pele
grito de medo
chamo a mulher
ai Lurdes Lurdes
que vou morrer
mede-me a febre
olha-me a goela
cala os miúdos
fecha a janela
não quero canja
nem a salada
ai Lurdes Lurdes
não vales nada
se tu sonhasses
como me sinto
já vejo a morte
nunca te minto
já vejo o inferno
chamas diabos
anjos estranhos
cornos e rabos
vejo os demónios
nas suas danças
tigres sem listras
bodes de tranças
choros de coruja
risos de grilo
ai Lurdes Lurdes
que foi aquilo
não é chuva
no meu postigo
fica comigo
não é vento
a cirandar
nem são as vozes
que vêm do mar
não é o pingo
de uma torneira
põe-me a santinha
à cabeceira
compõe-me a colcha
fala ao prior
pousa o Jesus
no cobertor
chama o doutor
passa a chamada
ai Lurdes Lurdes
nem dás por nada
faz-me tisanas
e pão-de-ló
não te levantes
que fico só
aqui sózinho
a apodrecer
ai Lurdes Lurdes
que vou morrer.

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

O que perguntou?

“Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?” Todos aprovaram este texto e agora acham-no impreciso, confuso, de resposta dúbia? Distraídos ou analfabetos?
Valha-nos algum humor.