Com a ansiedade na voz (coitados, passam a vida neste estado) os jornalistas esganiçam-se na busca da informação definitiva. Antes de poderem, finalmente, dar a notícia da morte em primeira mão, vão criando cenários, tentando ler as entrelinhas dos comunicados, os ditos deste e daquele. Tentam transmitir a ansiedade, criar a emoção a todo o custo. Um boletim clínico online, imaginado, infecção urinária, paragem cardíaca, sépsis, mas lúcido, consciente. Depois, talvez inconsciente. Que mais? As reacções dos padres, bispos, cardiais e dos médicos dos cuidados intensivos a explicar o que se não explica. O frenesim do costume. A indignidade habitual na procura de audiências.
Mas que se passa efectivamente? Um homem velho, debilitado, está a morrer. Decidiu morrer em casa, junto de quem viveu, longe de encarniçamentos terapêuticos, com serenidade aceita o fim comum dos mortais comuns. Possa o exemplo frutificar e inspirar os mais comuns mortais e sobretudo os seus familiares que os despejam, nestas fases, nos hospitais, impedindo a direito à dignidade neste último acto de vida, que é a morte.
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