sexta-feira, abril 15, 2005

Acção! Criemos a AIPO!

Andam a espalhar pelos hospitais um cartaz em que uma simpática gordinha anuncia que decidiu deixar de ser gorda. Para isso, a senhora vai falar com o médico. Já estou a imaginar legiões de gordos sorridentes a entrarem pelos consultórios dentro em busca da solução. Vão, seguramente, sair pela porta das traseiras, cabisbaixos e desanimados. Estas campanhas tipo «Fale com o seu médico» não são novas. O grafismo e a ideia recordam-me o que recentemente se fez com a disfunção eréctil.
O que é verdade é que esta última foi feita numa altura em que, realmente, surgiram medicamentos inovadores, que mostraram ser realmente eficazes. Por isso fazia todo o sentido que os afectados se dirigissem aos médicos e procurassem ajuda.
Será que há alguma coisa de semelhante para a obesidade? Eu, que me prezo de ser geralmente bem informado, não conheço. O tratamento da obesidade, como há muitos anos atrás, continua dependente de modificações dos estilos de vida: comer melhor e caminhar mais. E toda a gente está farta de saber o que isso é, mas depois nnguém consegue cumprir. O resultado é que alguns geneticamente bem apetrechados não engordam, enquanto os outros ficam cada vez mais obesos e dão origem à epidemia do século XXI (iniciada no XX, a qual, tanto quanto se sabe, não é causada por qualquer agente transmissível. A causa basicamente, é a aquisição de padrões de vida perniciosos, associados à globalização e às suas taras.
O resto do tratamento da obesidade são comprimidos e processos cirúrgicos. Com os comprimidos, apenas foi mostrado em tratamentos que quase sempre não duraram mais do que dois anos, que a perda de peso conseguida foi em média inferior ou igual a 5 kg no fim desse período de tratamento. Portanto, esta é uma das mensagens que os médicos terão de comunicar aos seus doentes. Poderão mesmo enunciar o problema mais correctamente dizendo, quer gastar cerca de 75 euros por mês durante dois anos para perder 5 kg? Se calhar, alguns livros de reclamações vão ficar cheios... Não era isto que os doentes esperavam depois de uma campanha destas! Os casos mais raros em que a cirurgia está indicada, têm resultados ligeiramente melhores. Mas tratam-se de casos de desespero em que o chamado índice de massa corporal (peso em Kg/altura em metros ao quadrado) é superior a 40. Nestes casos, há alguma evidência de melhoria da morbilidade associada com o tratamento apesar de não terem sido feitos estudos projectados de forma intocável (aleatorizados e controlados). Portanto, fico intrigado com o que irão os médicos dizer que vai alterar tanto a realidade dos doentes obesos. Provavelmente, tratar-se-á de publicidade enganosa. Por isso fica aqui o alerta, não se deve esperar demais desta campanha da Associação dos Doentes Obesos e Ex-obesos e de quem lha patrocina.
O problema da obesidade é demasiado sério, tem custos gigantescos em termos de sofrimento individual e económicos, directa ou indirectamente, relacionados . As estratégias de combate têm, por isso, de ser muito rigorosas e devem ser independentes da necessidade de obtenção de lucros fáceis e rápidos. Quer perder peso? Fale comigo, eu digo-lhe como! É mentira, já muitos o experimentaram!
Os mecanismos biológicos que levam à obesidade continuam em grande parte sem estar esclarecidos, mas conhecem-se cada vez melhor os mecanismos sociais que estão na sua origem. Por isso, por enquanto, a grande luta contra a epidemia tem de ser feita a montante, na prevenção, e não a jusante, no tratamento. Evitar a doença é o melhor remédio, também neste caso.
O que se sabe é que os estilos de vida da sociedade Global, inspirados pelos hábitos reinantes no Império Americano, são a grande causa desta epidemia. É a aquisição desta forma de estar (parados) e comer (gordura concentrada e açúcar) que tem vindo a criar mais obesos em todo o mundo de tal forma que quase todos (exceptuam-se alguns com genes que lhes dão vantagem neste campo) somos pré-obesos e podemos ser vítimas deste Estado de coisas e acabar doentes, com obesidade. É pois necessário e urgente, mudar de Regime (não somente o alimentar, claro)! É em nome de todos os que ainda não são obesos, que proponho a criação de um Manifesto que leve à criação da Associação dos Indivíduos Pré-Obesos (A.I.P.O). Precisamos de uma associação que nos defenda contra os malefícios ambientais que nos estão a criar. Não podemos ficar parados e se os obesos e os ex-obesos já têm quem os defenda, é tempo de nós, os pré-obesos, não ficarmos parados.

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