E fiquei a pensar se pode haver empowerment sem
responsabilidade individual, isto é, o doente pode ser convidado a decidir a
sua terapêutica se não tiver que acarretar com os seus custos? Pelo mesmo
custo, escolher-se-á sempre o mais caro, que geralmente é o melhor. Isto desde
que se não tenha que ter em conta a relação custo-benefíicio. Mas no caso do
nosso sistema de saúde nem é o doente que escolhe, é o médico, muitas vezes
premiado por fazer a escolha mais onerosa. Está tudo do avesso, não é só a
bandeira.
Um dia inteiro a fazer flores à volta de um artigo do
Diabetes Care. De várias formas, com graças (poucas!) diversas lá se vai
mostrando que são os doentes que têm que decidir, uma vez aconselhados, que
tratamentos devem fazer depois de aconselhados pelos seus médicos. Pelo meio
alguma ciência comprometida manifestando as tendências dominantes do Mercado
(farmacêutico), sempre as mesmas na substância: os medicamentos muito bons do
passado (baratos) devem ser substituídos pelos mais recentes (mais caros). É a
evolução científica a bem dos doentes, mesmo que a eficácia seja semelhante há
sempre algum efeito acessório menos frequente (menos de 5%), alguma facilidade
de administração, alguma coisa pequena que justifica uma enorme diferença de
preço. E já não tenho energia para falar
de uma coisa simples como seja a responsabilidade do doente na implementação de
medidas não medicamentosas (corrigir a causa da diabetes), porque a defesa da
facilidade tudo justifica. Mas tenho para mim que a sociedade só deveria pagar
estes custos da negligência individual se fosse provado que os custos das
complicações são superiores aos custos da terapêutica. De outra forma é
irracional que o faça. Não negando a possibilidade dos tratamentos, é
inaceitável que a falta de cuidado de quem os poderia ter seja custeada por
todos. Nestes casos, seria razoável indexar os custos do tratamento à
capacidade económica do indivíduo prevaricador. Isso iria contribuir para
opções mais conscientes dos doentes e a escolha aí já não seria mesma de
sempre, o melhor de todos, porque o fator preço entraria na equação da decisão.
Então o empowerment faria sentido.
Uma gestão decente (justa) dos recursos implica que se façam
opções e se privilegie o pagamento integral apenas das doenças em que os
doentes são vítimas inocentes da sua patologia, por exemplo as doenças
genéticas, auto-imunes, degenerativas e as ambientais de causa não controlável
individualmente. A responsabilização dos doentes é da mais elementar justiça.
Mas isto é conversa séria demais para um público ávido do
bem-estar e tranquilidade que tudo isto dá.
O Expresso chega só depois do meio-dia. São os custos da
insularidade, o atraso nas notícias. Mas há a TV Madeira que nos mostra nos
interlúdios borboletas de asas salpicadas de muitas cores e nos diz que não
havendo um especialista por perto as não devemos tentar apanhar porque as
podemos amputar irreversivelmente. E que úteis são na defesa do ecossistema.
Ternurenta a informação da TV regional… Aqui para cerca de 250000 pessoas há um
canal de televisão, ou seja os custos da continentalidade nada têm que ver com
esta realidade ou teríamos que ter a TV Almada, a TV Amadora, a TV Lisboa
(vários canais, claro…).
Na falta do Expresso, percorro os andares do Centro
Comercial Madeira (ou será Madeira Shopping?) constatando as lojas vazias com
vitrines cobertas de jornais e folhas de A4 com a inscrição VENDE_SE. A crise chegou à pérola esburacada.
Melhor fico olhando o mar azul na frente da janela do
quarto. Sereno, quase sem ondas, de vez em quando um barco. Na piscina,
reformados da Europa do meio, esperneiam numa aula de hidroginástica que nunca
lhes irá diminuir os excessos das barrigas.