Numa altura em que nos sobrecarregam de informação, inadaptados para gerir esse fluxo acrescido de dados, mas ainda viciados na ideia da capacidade ilimitada de gestão e sufocados pela necessidade de não nos mostrarmos ignorantes, isolamo-nos, quando mais precisávamos de interagir. Neste percurso vamos perdendo contacto com a realidade do mundo, cada vez mais complexa, aparentemente caótica e descontrolada. Nem a fé, há muito já perdida, vem agora em socorro destes náufragos das ideias, que sobrevivem, simplesmente, fugindo para a frente, para onde, cada vez com menos pé, o afogamento parece ser a única saída. Medo dos nós que podem vir depois dos laços, anda-se desatado por aí na aleatoridade dos contactos fazendo amigos virtuais que se não tocam. Aos milhares e sem compromissos. Desistimos da política, da religião, da arte, da música, até de ter opiniões, porque «os gostos não se discutem». Não se discutem porque as consequências deles, não são resultados coletivos, porque tudo o que seja mais que um deixou de fazer sentido. Criou-se a aversão ao confronto e a argumentação passou a ser um exercício de má educação. Agora, apenas se argumenta o futebol, porque aí ainda é tolerável o jogo da crítica. Para compensar, esse é o campo onde tudo vale e mesmo o insulto pode fazer parte do jogo. Para compensar o vazio de tudo o resto.
E este irrealismo esquizofrenizante domina agora a economia destes dias onde a imaginação dos homens ampliada pela capacidade de cálculo virtualmente infinita das máquinas construiu uma realidade não fundamentada que se desmoronará impiedosamente. Uma questão de tempo, mas mesmo assim uma inevitabilidade. Que sobrará então? Possivelmente, a capacidade de recomeçar a partir da Estética, uma outra irrealidade, mas sensível. Para além do nevoeiro, uma esperança ainda.
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