sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Concursos

Só neste caso da Endocrinologia, houve 10 médicos que durante dois dias estiveram fora dos seu serviços a trabalharem normalmente. Alguns com ajudas de custo pelas suas deslocações, outros a sair-lhes do bolso. De uma forma talvez optimista, digamos que foram adiadas 300 consultas médicas. É claro que os candidatos, estiveram mais uns meses em trabalhos reduzidos (pelo menos no sector público).
Tudo isto em nome de uma formalidade, uma cerimónia iniciática, para se entrar no grupo dos especialistas. O curioso é que, de forma unânime, todos achamos que este concurso é um non sense, mas continuamos a participar, alguns mais obrigados do que outros.
Depois acabamos todos classificados com 19 vírgula e felizes a beber Moet Chandon.
Será que podemos mudar? Ao menos tentar...

quinta-feira, fevereiro 26, 2009


Devíamos gerir a vida por objectivos. Alinhavamos os vários pontos e íamos, depois, pondo a cruzinha à medida que fossem realizados. Nesse programa a ninguém seria permitido que o seu objectivo de vida fosse estar vivo daqui a muitos anos, porque isso, é a melhor maneira de passar ao lado da vida. Objectivos só os concretos, específicos, determinados pela imaginação e pela vontade. Quando chegados ao fim da lista, poderíamos passar à fase seguinte, sem o remorso de termos evitado tanta coisa para nada. Felizes, com certeza.

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Parasitas

Dificilmente entendo aqueles que da política não têm a ideia de programa de mudanças, mas apenas o objectivo da manutenção das pessoas (amigos)nos sítios que querem. A podridão dos pântanos empesta o ambiente. Confunde-se serviço aos utentes com serviço aos prestadores, como objectivo principal. Assobia-se para ver se ninguém percebe, mas tenta-se que nada mude, porque manter o lugar é o supremo objectivo.

terça-feira, fevereiro 24, 2009

Máscara

Terça-feira gorda (Mardi Gras), o dia a que Cavaco retirou o estatuto de Feriado foi hoje motivo para me incomodar a olhar o espelho. De repente um cara conhecida, como máscara, inquietante, uma revisão de um passado ainda presente e possivelmente futuro. Foi uma grande vontade de mudar. Para já, uma aparadela ao bigode, mas quase seguramente, mais cedo ou mais tarde, a transformação será maior, porque a máscara me perturba.

segunda-feira, fevereiro 23, 2009

Claro e exemplar

Claro e exemplar disse o Zé. Claríssimo, direi eu. Atirar o barro à parede, fica barato. Com outros Zés, até deve pegar, embora custe caro. Tentar não custa, o que ficámos a saber é que a tentativa de corrupção aqui e agora não sai cara, o problema é poder não resultar. Mas há mais Zés na terra... e ser Xico esperto, afinal, pode muito bem ser compensador desde que se tenha algum cuidado com a parede.

sábado, fevereiro 21, 2009

Aos 90 anos...

Li há dias que um americano de 90 anos, perdeu 700000 dólares na burla do Sr. Madoff. Agora, voltou a trabalhar, a ganhar 10 dólares a hora. Há comportamentos nos americanos que são exóticos. A menos que tenha ido trabalhar para comprar uma pistola...

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

Caminheiros

Trinta anos depois continuam a haver descobertas a fazer. Essa sensação é bem mais importante que olhar esterilmente para trás. Continua a haver um caminho para andar.

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Visionário

A Economia é uma ciência que consegue explicar todos os acidentes da Economia ... depois de terem ocorrido. Por outro lado, fazem previsões sempre adequadas... a menos que algo extraordinário aconteça e as invalide. Logo virão, a seguir, explicar que tinham razão, mas aconteceu o que era imprevisível.
Mas houve um que viu antes do tempo, muito antes mesmo:
"Os donos do capital vão estimular a classe trabalhadora a comprar bens caros, casas e tecnologia, fazendo-os dever cada vez mais, até que se torne insuportável. O débito não pago levará os bancos à falência, que terão que ser nacionalizados pelo Estado"

Karl Marx, in Das Kapital, 1867

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

Revolta

Quem ama a vida, a sua e a dos outros que tem à volta, quem sabe distinguir uma maçã de um fruto normalizado, quem sabe gostar de um bom vinho não merece ser traído. A injustiça é indecente.

domingo, fevereiro 15, 2009

Com todos os sentidos


Ali sempre encontro o refúgio da paz na visão do silêncio onde só cabe o chilrear dos pássaros e o anúncio do vento no fim da tarde.
A terra ensopada começa a estar crocante pelos últimos dias de sol. Ao pisá-la tenho a ilusão de estar sobre um gigantesco bolo de chocolate. Um dia hei-de também entender que é o sol que molha o que a chuva quase secou.
Ficarei encantado na visão do fogo que arde antes da noite chegar, sentado no banco debaixo da árvore do tronco retorcido. Imagino que os dias fiquem de um tamanho que agora lhes não conheço aumentados pela audição silêncio, pelo tacto da terra, pelo aroma dos coentros, pela visão do fogo e pelo sabor dos ensopados. Todos os sentidos despertados numa orgia de tempo sem relógios, de sol-a-sol.

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

Changeling

As histórias reais da América repetem-se. Houve um tempo em que a imprensa ainda poderia contar a história no tempo em que ela se passava. Mas agora, os donos da História são, na maioria dos casos, também já os donos das notícias. Há uma estranha unanimidade na apresentação das novidades, sempre as mesmas, eventualmente, mostradas numa ordenação diferente, mas só vemos o que nos projectam daquilo que seleccionaram. Entretêm-nos com o filme que escolheram, escondem-nos a história real.
Daqui a alguns anos, como fizeram com o Vietname, farão um novo Apocalipse então, revelando os Guantanamos de agora e serão, novamente, candidatos aos seus Óscares que tirarão o sono numa madrugada a uns tantos. É nos filmes que expurgam os seus pecados. E nós continuamos a perdoar-lhes porque alguns deles são quase perfeitos quando representam, como é o caso desta Angelina, verdadeiramente Jolie.

domingo, fevereiro 08, 2009

A inutilidade dos coelhos

A metáfora pode não ter sido completamente feliz. Realmente, duas notas de 100 euros têm tanta capacidade de gerar mais euros quanto o têm dois coelhinhos no tal buraco (na verdade, é preciso que seja um coelhinho e uma coelhinha e mais alguma coisa). Mas tanto num caso como noutro, Louçã tem razão: para haver crescimento tem de haver trabalho, porque dele e apenas dele depende o crescimento. Durante anos pensou-se, na base do tal dito que afirma que o dinheiro gera dinheiro, que bastava investir, para aumentar o capital próprio. O investimento referido deixou de ter a tal dimensão do trabalho e limitou-se muitas vezes ao sonho e os sonhos sempre acabam quando se acorda. Se ao menos os tempos de hoje dessem para perceber que o crescimento depende do trabalho e não do investimento (sem trabalho), certamente que a preocupação dos governantes seria apoiar o primeiro e não criar condições para que o «investimento« ficasse prioritariamente garantido. Realmente, Louçã, nem um coelhinho e uma coelhinha chegam se não houver alguma actividade. É fundamental o trabalho para haver a produção.

sábado, fevereiro 07, 2009

Em rodapé

Aproxima-se uma altura da minha vida em que o pensamento pode ser expresso sem a auto-censura do compromisso, o que transmite uma enorme sensação de liberdade. Realmente num mundo que aspira à liberdade, bem poucas são as vezes em que ela se expressa de forma incondicional, sem a amputação da conveniência, quando não do medo. Essa é uma escravidão muitas vezes ignorada ou geradora de náusea sem aparentes motivos. É, por isso, um bom tempo, esse que aí vem. 


É um espectáculo, para mim inquietante, ver o poder congratular-se com a realidade. Apesar da felicidade ser boa de ver, sempre me parece que a mudança depende fundamentalmente da insatisfação, ao passo que a satisfação é, na maioria das vezes, fonte de paralisia.
Percebo que o poder faça o seu auto-elogio, porque, na verdade, essa é a forma de se justificar, mas sou exigente ao ponto de continuar a achar que se esgota e cristaliza as suas acções quando sente que chegou onde ninguém teria sido capaz de ir. Que se engane, é o menos. Que nos tente enganar é que já não é aceitável. Afinal, não somos parvos.

SNS

Acabo de assistir a um interessante debate sobre o Serviço Nacional de Saúde onde de lés-a-lés se proclamou o óbvio: é uma boa história de sucesso, a precisar, se calhar, de algumas inovações, entre as quais, possivelmente, a mais determinante será a necessidade de o repensar. Repensá-lo ´mantendo sempre a necessidade da solidariedade, que implica que sejam os saudáveis a pagar a doença aos doentes. Assim e de repente, tudo parece consensual, mas, ainda assim, é importante que se pense na obrigatoriedade de medidas para promover a saúde, quer a nível geral, quer a nível individual. Quando se desce dos princípios gerais ao exercício da sua aplicação prática, rapidamente a unanimidade se perde. Se nas metas sobressai o consenso, não deixamos de saber que se uns defendem que as casas de banho do hospital não têm de ser  diferentes para doentes e médicos, todas têm de ter qualidade elevada, outros defendem que os médicos não deverão, quando se dirigem aos seus consultórios, passar por entre os doentes sujeitando-se dessa forma ao escrutínio da hora a  que chegam e deveriam ter uma entrada exclusiva.

Percebo, que não pode haver a ilusão de equidade no consumo de um bem, quando o fosso da desigualdade se alarga em tudo o resto, mas é no campo das decisões concretas e não no campo dos princípios que é preciso intervir de modo a atenuar o que é gritante.

Esta é a dimensão da intervenção geral.

Mas num mundo de importância relativamente crescente do problema das doenças crónicas, embora as mais das vezes determinadas por estratégias erradas da evolução das sociedades, não deve e não pode ser esquecida a responsabilidade individual e dos comportamentos de riscos auto-assumidos. E aqui, a atenuação das diferenças e o objectivo da equidade, poderá ter de passar por um tratamento diferente em termos de comparticipação pessoal nos custos colectivos, isto é, quem se auto-inflige os problemas, deverá ter de ser responsabilizado, em função das suas posses, pelo custo derivado do problema. Haverá que definir situações em que, sendo sabido que as complicações são maioritariamente determinadas por comportamnetos errados e conscientes, não sejam aqueles que pautam a sua vida pelos comportamentos adequados que vão pagar a conta. Serão por isso razoáveis, por exemplo, o aumento do imposto no tabaco, o aumento das multas por excesso de velocidade. Noutro campo, como o da nutrição, tratando-se de uma actividade imprescindível à vida, parece-me já razoável que as consequências sejam tratadas com os meios adequados e os custos suportados de forma diferenciada, pagando os que podem, deixando-se a gratuitidade para os que têm na obesidade e na diabetes um fardo a que não se podem eximir devido às circunstâncias da sociedade em que estão inseridos. E não deve, claramente, esquecer-se a taxação da indústria alimentar produtora dos produtos tóxicos, criando, necessariamente, mecanismos reguladores que impeçam a reflexão desse aumento no custo dos produtos.

Este debate do mundo real, das coisas tangíveis, é o parente pobre das discussões, havendo sempre uma tendência ao privilégio do abstracto e mais consensual. Até porque divergir e assumir a fractura é sempre mais incómodo e todos achamos que devemos obter o máximo com o mínimo do esforço.

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Intoxicados

Quem gerou todos estes produtos tóxicos? Sim, Saramago tem razão, os banqueiros não são gente de confiança. Para já causaram meio milhão de desempregados, mas os números aumentam todos os dias. Um crime contra a Humanidade. Tanta irresponsabilidade é punida apenas com o não pagamento de bónus? Era só que que faltava, ser prejudicado e pagar por cima. Os que provocaram a catástrofe ambiental, que intoxicaram, que paguem a crise! Mas é curioso este título do Expresso -Governos socorrem Bancos. Os Governos ou o dinheiro dos governados?
Mas não deixa de ser comovente, assistir a esta imperiosa nacionalização do prejuízo, depois de tanta reclamação nos anos do PREC, de privatização do que, então nacionalizado, dava lucro.
Bom, mas parece que os lucros continuam... Vá lá entender-se isto.