terça-feira, dezembro 29, 2009
Fumo
Num instante fica-se amputado da memória de um tempo que tínhamos guardado numa caixinha metálica e não se percebe como isso é possível. Também se não compreende como tinha sido possível lá pôr toda a memória desse tempo ao longo de um ano. Mas a magia tem destes coisas, como vem também vai. Afinal, apenas sobrevivem os registos que tinham sido impressos, nessa actividade de que nos auto-acusamos de destruirmos as árvores. Tanta campanha do paper free e agora se constata que a liberdade da recordação depende, realmente, do que o papel regista. Tudo o resto mora não se sabe bem aonde, se não morto, em transformação, se o outro tinha razão. Até é possível que, um dia, também estes registos feitos não sei onde, acabem por se esconder de vez, reduzidos ao silêncio de algum interesse. Tudo é efémero.
sábado, dezembro 12, 2009
Evolução
quinta-feira, dezembro 10, 2009
O ónus da prova
Foi num Natal de há muitos anos. Apareci em casa com um burro de plástico cuja origem não se percebia de onde vinha. Era uma pequena figura de presépio. Acontece que os meus rendimentos na altura não eram compatíveis com a propriedade que exibia. Porque não havia, na altura, direitos constitucionais sobre o ónus da prova, a questão foi resolvida rapidamente depois de um inquérito sumário em que ficou demonstrado que o bicho fora adquirido por via anómala.
Se fosse agora tudo seria diferente. Caberia à Justiça descobrir a origem do cavalo, ir ao local do furto, marcar com umas plaquinhas numéricas os pontos de vestígios do furto, encontrar, cientificamente com DNA e tudo, as provas e depois de construírem uma teoria sobre o caso lá me viriam confrontar com a acusação. Seria possível que nessa altura já eu não me lembrasse da história…
Sem a protecção constitucional, a história acabou com a confissão do delito, a devolução do burro a quem de direito e com umas chineladas do rabo.
Se fosse agora tudo seria diferente. Caberia à Justiça descobrir a origem do cavalo, ir ao local do furto, marcar com umas plaquinhas numéricas os pontos de vestígios do furto, encontrar, cientificamente com DNA e tudo, as provas e depois de construírem uma teoria sobre o caso lá me viriam confrontar com a acusação. Seria possível que nessa altura já eu não me lembrasse da história…
Sem a protecção constitucional, a história acabou com a confissão do delito, a devolução do burro a quem de direito e com umas chineladas do rabo.
quarta-feira, dezembro 09, 2009
Palhaços?
Tenho saudades das boas discussões políticas no tempo em que a política era a discussão das ideias que resolveriam problemas. Hoje em vez de o fazerem, os políticos limitam-se à discussão dos problemas de carácter dos adversários. É um festim para os jornalistas, mas nada resolve. No público reforça-se a ideia de que são todos iguais, quando, na verdade, nem é bem assim. Há uns mais palhaços do que os outros.
terça-feira, dezembro 08, 2009
Quinta livro
Quase ao cimo, o poço que descido nos permite ver, de dentro da terra, o céu no alto. E de lá se sai atravessando as águas. Mas não só, toda esta quinta é uma sucessão de pedras que falam numa obra de criação induzida pelo conhecimento do mundo. Fica-se sempre grande quando se conhecem novos mundos nas viagens que se fazem. Uma casa pode além de ser um abrigo, um livro que conta uma história que interpreta uma concepção de mundo.
segunda-feira, dezembro 07, 2009
A difícil economia
Raciocínios macroeconómicos feitos por uma médico devem comportar os mesmos riscos que uma cirurgia feita por economistas. Mas se estes são capazes de elaborar sobre medicina, também a um médico não deve ser vedada a ousadia de perorar sobre economia. Assim nos podemos sorrir uns dos outros.
Ao contrário da Medicina que sendo uma ciência estatística, é bem sabido não ter rigor matemático, a Economia é uma ciência conotada com os números, só que são tantas as formas de apresentar as contas que conseguem obter-se resultados para todas as explicações. E quanto a previsões, recorrem geralmente à teoria do João Pinto sobre os prognósticos.
A Economia é uma ciência tão complicada que nem se ousa ensiná-la ao comum dos mortais. Por isso, todos a temos de aprender na Vida. Para um simples médico a Economia é uma diferença entre o que se produz e o que se gasta, sendo que não é sustentável gastar-se sempre mais do que o produzido. Nas interacções que temos, conseguimos atingir um estádio em que, nas várias intermediações que temos uns com os outros, a produção da riqueza consegue eximir-se à diferença entre produção e consumo. E assim nasceram os actuais ricos, que muitas vezes nada produziram, uns estimulando apenas o consumo, outros elaborando fantasias emocionais sobre como expandir o capital no Grande Casino. Quem manda tem mantido a ilusão com os sobressaltos conhecidos. Até quando durará?
Ao contrário da Medicina que sendo uma ciência estatística, é bem sabido não ter rigor matemático, a Economia é uma ciência conotada com os números, só que são tantas as formas de apresentar as contas que conseguem obter-se resultados para todas as explicações. E quanto a previsões, recorrem geralmente à teoria do João Pinto sobre os prognósticos.
A Economia é uma ciência tão complicada que nem se ousa ensiná-la ao comum dos mortais. Por isso, todos a temos de aprender na Vida. Para um simples médico a Economia é uma diferença entre o que se produz e o que se gasta, sendo que não é sustentável gastar-se sempre mais do que o produzido. Nas interacções que temos, conseguimos atingir um estádio em que, nas várias intermediações que temos uns com os outros, a produção da riqueza consegue eximir-se à diferença entre produção e consumo. E assim nasceram os actuais ricos, que muitas vezes nada produziram, uns estimulando apenas o consumo, outros elaborando fantasias emocionais sobre como expandir o capital no Grande Casino. Quem manda tem mantido a ilusão com os sobressaltos conhecidos. Até quando durará?
sexta-feira, dezembro 04, 2009
Salto à Vara no país dos pico-nanos
A grande tese da direita mais assumida é que estando o emprego dependente fundamentalmente das pequenas e médias empresas, o combate ao desemprego passa pelo apoio a esses empresários. Nos últimos tempos, tenho tido alguns contactos com eles, com donos de alguns negócios (as chamadas empresas) onde se produzem janelas, portas, instalações de águas, aquecimentos e por aí e tenho-me apercebido da sua iliteracia, do seu saber adquirido apenas e muitas vezes por tradição familiar, da sua facilidade da concepção do trabalho, lentidão da sua execução, incumprimento de prazos, alheamento da inovação e já nem se fala da falta de vontade de pagar impostos. São gente que não aprendeu a gerir, executa tradicionalmente e não tem vontade de aprender, orgulhosa do que faz e com sentimentos de que todos (isto é, o abominável Estado que lhes cobra impostos) lhe devem porque eles são o motor da economia. Andam de Mercedes modelo antigo e vestem roupa de marca comprada na feira para afirmarem o seu trabalho. Têm um infinito objectivo de safar o seu, sem grandes preocupações de outra natureza, nomeadamente o bem-estar dos que lhe fazem a produção. E fico a pensar que é para o peditório destes pequenos ou pico-nanos que nos querem convencer a contribuir e encho-me de dúvidas se essa não é uma forma de perpetuar uma classe que entretém, mas não cria, isto é, de meramente adiar um problema, pois o seu destino será sempre o da falência mais tarde ou mais cedo. Penso mesmo se não seria mais justo serem empregados de alguém que soubesse gerir os seus negócios, que é mais isso que têm e não empresas. Nestes pico-nanos vejo muito do que sempre estão prontos a criticar: os golpes dos políticos e parceiros neste país, como dizem, parecendo que não são de cá. Mas, lá no fundo, fica a impressão da inveja que estes pico-nanos têm do salto à Vara. Mas há saltos que só algumas pernas conseguem dar, tenham paciência.
quinta-feira, dezembro 03, 2009
Há luar no Alentejo
quarta-feira, dezembro 02, 2009
Doutrina
Têm sempre um ar angélico do bem estes economistas que, reiteradamente, nos tentam convencer que só a criação de riqueza permitirá o alcançar do bem-estar. Sem esse esforço (de quem?) restar-nos-á a continuação eterna desta crise de mal-estar. E andamos nisto há décadas. Melhorámos muito apesar dos discursos da desgraça, só que quando uns comem migalhas e os outros as fatias do bolo produzido, mesmo que os migalheiros fiquem de estômago menos vazio, são os que comem quase tudo que quem realmente se enche. No final do processo da criação da riqueza assim concebida não temos ricos menos ricos e pobres menos pobres, enquanto isso suponha aproximação de classes, mas um aumento mais acentuado da riqueza dos já ricos. Não há repartição equitativa e proporcional da riqueza. Mas a tese continua a ser-nos soprada todos os dias como sendo uma necessária maldição.
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