quinta-feira, novembro 12, 2009

Racionamento

Fez sucesso durante vários encontros de família nos tempos que se seguiram o desejo que manifestei, imediatamente depois de receber um barco naquele Natal dos meus 3 anos de idade. Procurando chaminé acima o Pai Natal, encantado com o barco de plástico beije e vermelho, apertado nas minhas pequenas mãos, expliquei ao ofertante que «agora só falta o mar». Aos 3 anos é ambição para recordar depois com um sorriso.
Passados estes anos, percebo o problema do não racionamento dos desejos. No mundo real da oferta e da procura, percebe-se com facilidade que os nossos desejos estão limitados pelas nossas capacidades de os obter. Geralmente, o poder aquisitivo é o limite. É uma forma triste de nos limitarmos, mas é a que existe.
Quando se introduzem regras de gratuitidade, a tendência natural é para o desregramento do consumo induzido pelo desejo de tudo ter. Esta é a origem da necessidade das regras que racionem os bens desejados. No caso do consumo da saúde, competirá aos técnicos a elaboração das regras, que, tornando acessíveis os cuidados, não levem ao desperdício. E mais vale gastar o tempo na busca dessas regras, do que na procura angustiada da resolução do caos. Pena é, que os técnicos de quem se espera a decisão tenham, na sua ordenação de preocupações muito perto do fim da lista, a resolução dos problemas dos doentes. No cimo da lista estão sempre as preocupações de imagem e os receios das más notícias. É uma estratégia que, ironicamente, os leva com frequência às primeiras páginas dos jornais pelos motivos que menos desejam.

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