domingo, outubro 25, 2009

Leituras


Parece ser agora, politicamente correcto, fazer a crítica de Saramago, não lhe permitindo ter da Sagrada Bíblia a leitura literal. Quer-se pôr simbolismo e poesia onde sempre se procurou a aceitação literal da dor, do sofrimento terreno para, literalmente, se obter a gratificação por cima das nuvens. Podem os Sagrados livros não dizerem nada do que dizem na escrita fria das palavras, mas alguém se esqueceu descodificar a sua leitura anos demais. E, realmente, dessa forma foi pelo menos usada como livro de maus costumes e de justificação das guerras, pelos seus leitores ou por aqueles que foram transmitindo a sua mensagem para facilitação do poder da classe dominante ao longo dos tempos. Deus pode não ser mau, mas alguém leu as suas obras e omissões de forma a que a injustiça pudesse vingar, impedindo, quantas vezes, a expressão da vontade da correcção do erro por parte dos homens. O Todo-Poderoso foi, com frequência, demasiado liberal abdicando da utilização do Poder, permitindo demasiada liberdade à iniciativa privada. Era bom que tivesse tido uma atitude mais reguladora, impondo a orientação certa do seu enorme conhecimento, mostrando a sua existência. Não o fazendo, tornou-se, literalmente, inexistente, simbólico, talvez. Por isso, Saramago tem razão, porque a Vida é a vida e não uma entidade simbólica, com uma multiplicidade de códigos, que a interpretam.

2 comentários:

José Jorge Frade disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
José Jorge Frade disse...

Acabo de ter uma bela discussão sobre o assunto à mesa do refeitório do Hospital. O Saramago teve o mérito de ter a coragem de fazer uma grande provocação para abanar este charco de ideias-feitas e pôr o pessoal a discutir outras coisas mais transcendentes do que o futebol...