As viagens de avião servem para me começar a sentir de férias. Mesmo quando o pior deste país ainda persiste nos jornais do avião, que nunca de outra forma leria. Fico a saber que o combate Manuela Moura Guedes - Marinho e Pinto se está a converter numa coisa séria de análise da qualidade de informação da TVI. Uma vez mais as bocas da MMG voltam a colocá-la no pódio da informação e o excelso marido defende a qualidade do seu jornalismo afirmando que o seu telejornal é o preferido dos portugueses. É um argumento absolutamente distorcido. Qualquer tipo de análise objectiva levaria a considerar isso como um não elogio, tal a deficiente e histórica tendência para a asneira da opinião desses opinadores e escolhedores do mau caminho.
MMG é um produto caracteristicamente nacional e daí, seguramente, a sintonia. Como a maioria escolhe o caminho mais fácil, não busca a verdade, mas o que tem impacte, não procura nunca formar informando, o objectivo é despertar as emoções, incendiar, que nestas coisas o que o povinho gosta é fazer um roda a gritar porrada!porrada! enquanto lá no meio dois se esmurram até à exaustão. Nunca reflectir, mas agir emocionalmente é tudo o que pede a facilidade, a manuelamoraguedização desta gente. É preciso mantê-los quentes emocionalmente, impedi-los de pensar no sentido das coisas que se fazem. MMG é um instrumento eficaz do poder, hoje para gáudio da oposição procura entalar o poder e, amanhã, trocados os personagens, irá continuar a fazer exactamente o mesmo, criando a miserável sensação de que são todos iguais. Como convém. Já é tempo de ter uma medalha a 10 de Junho. Esta é uma mulher que vive, como muitos outros jornalistas, do alterne da política. Enche-nos o copo da emoção da notícia, não consome, que o seu papel é apenas e só levar-nos a consumir, aumentando as vendas da casa.
Fico contente porque me afasto a 900 km/h disto. Mas estou certo que me aproximo à mesma velocidade de algo pouco diferente. É o quarto poder, estúpido.
sábado, maio 30, 2009
quarta-feira, maio 27, 2009
No free lunch!
Que eles façam o que têm de fazer, percebe-se e outra coisa não é de esperar. O inaceitável é ver a intelectualidade a ser ensinada pelo marketing. Absolutamente acríticos, não imaginam o ridículo que mostram ao manifestarem uma ânsia súbita de aprender as directrizes, prontos a actuar de forma automática, sempre às ordens. Perante isto quase que não consigo deixar de ter alguma admiração pelos corruptos, que percebendo o jogo, o aproveitam. Ao menos são vermes com restos de inteligência, podendo sempre despertar para um caminho mais razoável. Mais grave são os idiotas sem esperança possível.
Apetece-me fugir para a horta. Cada vez mais.
Apetece-me fugir para a horta. Cada vez mais.
segunda-feira, maio 25, 2009
Red wine
“PS e PSD são um pouco como a Pepsi e a Coca-Cola.”
Miguel Portas, “24 Horas”, 25-05-09
Exactamente, viva o vinho tinto! Bem vermelho e aromático.
Miguel Portas, “24 Horas”, 25-05-09
Exactamente, viva o vinho tinto! Bem vermelho e aromático.
sábado, maio 23, 2009
Gran Torino
É a solidez de um homem estruturado na vida real, que adquiriu ao longo da vida as suas ferramentas, todas com nome e uma função bem precisa. Nele não há lugar para instantes de marketing. À sua volta, esvoaçam imagens de vendedores que nunca viveram a alegria de construir uma direcção e destroem o seu tempo na elaboração de estratégias, convencidos de que com a sua actividade imaterial, constroem algo. São dimensões de vida que se não encontram nunca, vidas paralelas sem paralelo possível. Dois momentos do mundo, ocasionalmente desencontrados num tempo indefinido.
Pelo contrário, no vazio envolvente cresce uma vida sem esperança, oca, onde se sente a ausência de futuro a todo o instante. Sim, apesar de tudo, a polícia, nestes casos, acaba sempre por ganhar confinando-os ao presente. Eles são sempre os bons e os maus vão presos. Este mundo indefinido, de contornos imprecisos é, por paradoxo, a consequência de, no mundo normal, o êxito ter passado a depender do nível de vendas e não da realização de motores, direcções e transmissões como no tempo em que se faziam Gran Torinos.
A fita mostra-nos também a morte e o seu potencial de salvação e liberdade. Revela a possibilidade de se não temer aquilo que afinal se sabe certo, deixando o espaço para fazer o que tem de ser feito, ou seja, continuar a dar lições de viver, mesmo que isso implique não prolongar os anos de sobrevivência.
Finalmente, a sabedoria reside no encontrar da eficácia da acção e não na vingança mal pensada ditada pela emoção.
Quanto mais vejo Clint Eastwood, mais pressinto que está para Woody Allen, como Saramago para Lobo Antunes. De um lado, o mundo real nas fábulas sem lugar para mariquices, do outro as inquietações e as cólicas da pieguice burguesa.
Pelo contrário, no vazio envolvente cresce uma vida sem esperança, oca, onde se sente a ausência de futuro a todo o instante. Sim, apesar de tudo, a polícia, nestes casos, acaba sempre por ganhar confinando-os ao presente. Eles são sempre os bons e os maus vão presos. Este mundo indefinido, de contornos imprecisos é, por paradoxo, a consequência de, no mundo normal, o êxito ter passado a depender do nível de vendas e não da realização de motores, direcções e transmissões como no tempo em que se faziam Gran Torinos.
A fita mostra-nos também a morte e o seu potencial de salvação e liberdade. Revela a possibilidade de se não temer aquilo que afinal se sabe certo, deixando o espaço para fazer o que tem de ser feito, ou seja, continuar a dar lições de viver, mesmo que isso implique não prolongar os anos de sobrevivência.
Finalmente, a sabedoria reside no encontrar da eficácia da acção e não na vingança mal pensada ditada pela emoção.
Quanto mais vejo Clint Eastwood, mais pressinto que está para Woody Allen, como Saramago para Lobo Antunes. De um lado, o mundo real nas fábulas sem lugar para mariquices, do outro as inquietações e as cólicas da pieguice burguesa.
quinta-feira, maio 21, 2009
Bailout for dummies
Mas tudo isto é um jogo de ilusões, como se percebe pela história que hoje me chegou num mail:
Numa pequena vila e estância na costa sul da França, chove, e nada de especial acontece.
A crise sente-se.
Toda a gente deve a toda a gente, carregada de dívidas.
Subitamente, um rico turista russo, chega ao foyer do pequeno hotel local. Pede um quarto e coloca uma nota de E100 sobre o balcão, pede uma chave de quarto e sobe ao 3º andar para inspeccionar o quarto que lhe indicaram, na condição de desistir se lhe não agradar.
O dono do hotel pega na nota de E100 e corre ao fornecedor de carne aquem deve E100, o talhante pega no dinheiro e corre ao fornecedor de leitões a pagar E100 que devia há algum tempo, este por sua vez corre ao criador de gado que lhe vendera a carne e este por sua vez corre a entregar os E100 a uma prostituta que lhe cedera serviços a crédito. Esta recebe os E100 e corre ao hotel aquem devia E100 pela utilização casual de quartos à hora para atender clientes.
Neste momento o russo rico desce à recepção e informa o dono do hotel que o quarto proposto não lhe agrada, pretende desistir e pede a devolução dos E100. Recebe o dinheiro e sai.
Não houve neste movimento de dinheiro qualquer lucro ou valor acrescido.
Contudo, todos liquidaram as suas dividas e este elementos da pequena vila costeira encaram agora optimisticamente o futuro.
Ou o bailout explicado a tipos como eu, que ainda pensam que deve existir um mundo real. Ou será que a realidade só deixou de o ser pela interferência artificial do conceito de propriedade? Como se vê nesta história, o dinheiro é apenas um artifício que pode deprimir uma sociedade que, sem ele, poderia trocar e funcionar de forma real. Esta abstracção é, afinal, a causa de todas as crises.
Numa pequena vila e estância na costa sul da França, chove, e nada de especial acontece.
A crise sente-se.
Toda a gente deve a toda a gente, carregada de dívidas.
Subitamente, um rico turista russo, chega ao foyer do pequeno hotel local. Pede um quarto e coloca uma nota de E100 sobre o balcão, pede uma chave de quarto e sobe ao 3º andar para inspeccionar o quarto que lhe indicaram, na condição de desistir se lhe não agradar.
O dono do hotel pega na nota de E100 e corre ao fornecedor de carne aquem deve E100, o talhante pega no dinheiro e corre ao fornecedor de leitões a pagar E100 que devia há algum tempo, este por sua vez corre ao criador de gado que lhe vendera a carne e este por sua vez corre a entregar os E100 a uma prostituta que lhe cedera serviços a crédito. Esta recebe os E100 e corre ao hotel aquem devia E100 pela utilização casual de quartos à hora para atender clientes.
Neste momento o russo rico desce à recepção e informa o dono do hotel que o quarto proposto não lhe agrada, pretende desistir e pede a devolução dos E100. Recebe o dinheiro e sai.
Não houve neste movimento de dinheiro qualquer lucro ou valor acrescido.
Contudo, todos liquidaram as suas dividas e este elementos da pequena vila costeira encaram agora optimisticamente o futuro.
Ou o bailout explicado a tipos como eu, que ainda pensam que deve existir um mundo real. Ou será que a realidade só deixou de o ser pela interferência artificial do conceito de propriedade? Como se vê nesta história, o dinheiro é apenas um artifício que pode deprimir uma sociedade que, sem ele, poderia trocar e funcionar de forma real. Esta abstracção é, afinal, a causa de todas as crises.
O bilhete de avião
Comprar um bilhete de avião é uma emoção. Entra-se por exemplo na expedia.com e marcamos o sítio de onde partimos e para onde desejamos ir. Depois de uns instantes temos, para espanto dos nossos olhos, várias ofertas em que a relação da mais barata à mais cara é de pelo menos 1:6. Ou seja, a mesma distância percorrida por aviões semelhantes, tanto pode usar-se para atravessar o oceano como quase para dar a volta ao mundo. O mais curioso é que é uma questão de instante, no momento seguinte já tudo pode estar diferente e custar metade o que valia o dobro. O jogo da oferta e da procura, a entropia à solta, revelando a irrealidade sobreposta pela sorte do instante. Realmente, o custo não é o custo da gasolina, do pessoal de voo, das taxas de aeroporto,da amortização do custo do avião. Nada disso, é um encontro de procuras, em volume maior ou menor, para a mesma oferta, é apenas sorte ou azar que é a outra forma da sorte a que se não aspira nunca. Adora-se a incerteza, a dúvida e a satisfação de podermos enganar o parceiro do lado em cada momento. Ainda assim, quem oferece e quem procura poderão não estar em igualdade e isso é o vício deste jogo, onde a oferta faz a regra as mais das vezes.
segunda-feira, maio 18, 2009
Forças de bloqueio
E quando as pessoas bloqueiam, ainda é razoável continuar a tê-las em conta? Há uma espécie de gente estacionada, a ocupar lugar, sem andar nem deixar andar, que na sua falta de tempo, não deixa o tempo dos que o têm avançar. São respeitáveis pela condição de seres, pela história que contêm, mas sem serem descartáveis, exigem reciclagem. E deve restar-lhes a disponibilidade para essa promoção, porque a existência não existe para eles, mas para os outros que querem beneficiar dos avanços mais rápidos dos que ficam bloqueados pelos seus indesejáveis privilégios. Terão histórias deliciosas daquelas que os avós contam aos netos, mas precisam do repouso dos avós e não da prerrogativa de tolher uma geração. Terão até um papel moderador, que a experiência inspira, de eventuais impulsos da inexperiência dos que agora bloqueiam. Essa pode ser a sua nova função e utilidade. Mas forças de bloqueio é que não!
sábado, maio 16, 2009
Perigosos estes tempos
Recebi há uns dias uma mensagem a que vinha anexada uma pretensa história das causas que motivaram as formas dos números árabes. Cada um, do 1 ao 9, tem (tinha) um númeero de ângulos correspondente ao valor numérico que representava e o 0, finalmente, era assim redondo por não ter qualquer ângulo. Verdade ou mito faz sentido, é uma explicação para a coisa. Nos dias de hoje, cada vez menos, vejo esta curiosidade de investigar as causas, ou a simples busca das explicações que leve a pôr hipóteses. Há um desrespeito pelas origens e uma fé cega no seguimento das directrizes. A abundância da informação impede a sua digestão individual e fica-se progressivamente mais dependente de quem faz os resumos que nos orientam. Assim, avança o pensamento único, paradoxalmente, num tempo de pensamentos infinitos. Sempre pela falta de tempo e pela busca imperiosa do rigor científico, nem ousamos já pensar de forma independente. Mais automatizados, obedientes, estamos dominados por um pensamento único e politicamente correcto. Prontos para as orientações finais de um qualquer emergente ditador.
sexta-feira, maio 15, 2009
Sonhos de piratas
Mas que esperar de um país de navegadores e viajantes, que não a integração com as novas culturas e sonhos de descoberta? Não é pois de estranhar que, no meio da ciência, os médicos façam umas piratarias ou que, numa visita de Estado, a Primeira Senhora realize sonhos de viagens. A diferença é que os médicos não representam coisa alguma, enquanto que estes dois, em teoria, nos representam a todos nós, dando a imagem de um povo que come bolo-rei de boca cheia, adora jaquinzinhos e se aquece no lar em mantas adquiridas no avião. Bem, possivelmente, tudo isto são mitos urbanos. Mas como diria o outro, os piercings eu já vi!
domingo, maio 10, 2009
Coeficiente de cagaço
O complicado desta profissão é a gestão da incerteza, sobretudo num ambiente social em que se pensa, erradamente, que a tecnologia permite saber toda a verdade. De forma que vivemos sempre mais com a arte do que com a ciência, que é estabelecermos um limiar que nos dê suficiente sensibilidade sem nos arruinar a especificidade. Se calhar o coeficiente de cagaço dos novos engenheiros é o equivalente desta gestão da incerteza, que é sempre mais aguda nos novos médicos. Com o passar dos anos diminui o coeficiente, subimos o limiar da possibilidade da doença, mas nunca eliminamos, absolutamente, a dúvida. É este o desafio que nos perturba o descanso quando jovens e... sempre. O pior de tudo é que a matéria com que lidamos não é susceptível de ter os erros compensados com seguros e temos de aceitar a nossa condição de humanos errantes. Mesmo o cuidado não nos livrará do erro algumas vezes, embora compense a consciência. No entanto, se procurarmos a especificidade a todo o custo, o erro será bem mais frequente. E será a vida possível sem a dúvida? Como seria se soubéssemos o fim da história antes de a fazermos?
sábado, maio 09, 2009
Jogos
Não convém mostrar um ar indignado quando o agente de segurança nos manda parar o carro e nos pede a identificação. Estará em causa o desrespeito pela autoridade.
Agora se quisermos fazer cavalinhos de mota à frente da esquadra, atirar umas pedras ou uns cocktails molotov contra os polícias, parece não haver problema. Ninguém é identificado. Faz parte de um jogo real numa terra de realidade virtual em que a polícia fornece vidas adicionais aos jogadores. Esperemos para ver o end of game.
Agora se quisermos fazer cavalinhos de mota à frente da esquadra, atirar umas pedras ou uns cocktails molotov contra os polícias, parece não haver problema. Ninguém é identificado. Faz parte de um jogo real numa terra de realidade virtual em que a polícia fornece vidas adicionais aos jogadores. Esperemos para ver o end of game.
sexta-feira, maio 08, 2009
Esboço
Apesar do regresso recente de NY, já ando com vontade de nova vad(v)iagem. Descer a Costa Leste a partir de Washington até Miami. Comecei a prospecção: cerca de 1600 km ou como diz o Googlearth, umas 15 horas de viagem. Parece razoável recordar o passado em Savannah, ir brincar a Orlando e mergulhar em Miami. Finalmente, regresso a Washington pelo ar.
Cá por dentro, sou um nómada.
Cá por dentro, sou um nómada.
segunda-feira, maio 04, 2009
Ética, onde andas?
1. Vital Moreira não gostou de ser refrescado e acusa o PC de lhe ter atirado um copo de água. Melhor seria que acusasse o agressor amplamente identificado em vídeo e fotografias. Afinal foi um acto público de um selvagem a quem e só a ele devem ser pedidas responsabilidades. O resto é aproveitamento político, vitimização, ou seja poucos princípios éticos.
2. Gilberto Madaíl acha que uma agressão bárbara feita em Espanha por um jogador brasileiro considerado português não implica sanções a nível nacional. Conclusão a selecção aceita bárbaros desde que ajudem no caminho para a África do Sul. É o vale tudo, o oportunismo e a falta de princípios éticos.
3. Jorge Sampaio acha que se for preciso deve haver um governo do Bloco Central juntando PS e PSD. Se for preciso, quer dizer para melhor gerir o liberalismo, até se pode juntar a mentira e a verdade como diria a Dra. Manuela. Fica mostrado, para quem quiser ver, que aos olhos deste Papa, afinal, as diferenças nem serão assim tantas. E tem razão. Só que também aqui há baixa política e falta de princípios éticos.
Os fins não podem justificar os meios ou ninguém se vai safar no meio disto.
2. Gilberto Madaíl acha que uma agressão bárbara feita em Espanha por um jogador brasileiro considerado português não implica sanções a nível nacional. Conclusão a selecção aceita bárbaros desde que ajudem no caminho para a África do Sul. É o vale tudo, o oportunismo e a falta de princípios éticos.
3. Jorge Sampaio acha que se for preciso deve haver um governo do Bloco Central juntando PS e PSD. Se for preciso, quer dizer para melhor gerir o liberalismo, até se pode juntar a mentira e a verdade como diria a Dra. Manuela. Fica mostrado, para quem quiser ver, que aos olhos deste Papa, afinal, as diferenças nem serão assim tantas. E tem razão. Só que também aqui há baixa política e falta de princípios éticos.
Os fins não podem justificar os meios ou ninguém se vai safar no meio disto.
sábado, maio 02, 2009
NY sem programa
Há cidades de que só gostei na primeira vez que as vi. Outras há que é possível redescobrir cada vez que lá vou, encontrar-lhes novos sentidos e senti-las de forma nova em cada visita. Nova Iorque começou por ser uma cidade aceite com reservas, de duvidoso interesse. Foi a fase do postal ilustrado conhecido, do preconceito que sempre se associa ao desconhecimento. Foi assim na altura em que tinha um ar de triunfo do sistema e na altura do martírio das torres. Foi já na última vez que lá estive que percebi que é uma cidade onde tem de se voltar para se experimentar de novas maneiras.
Agora, com os museus conhecidos, mesmo os renovados e sem que houvesse alguma exposição temporária marcante nesta altura, foi possível visitá-la sem programa.
Pragmaticamente, desta vez, começou por servir para ir às compras. Longe das loucuras da 5th Avenue, no Outlet da periferia, onde as promessas eram muitas. A viagem de camioneta demora cerca de uma hora e um quarto. Como é frequente acontecer, é importante não desprezar o instante da viagem sacrificando-o à ideia do objectivo. Neste início de Primavera já avançada, ainda são ressonâncias outonais o que me foi dado ver nas árvores desfolhadas. O objectivo prometido, meio mítico, soube-me ao Campera ou ao FreePort. É duvidoso o valor do bilhete do transporte, apesar das poupanças dos artigos comprados, porque se gasta um dia. Mas, desta vez, os dias também não estavam tão contados. Por pouco, as filas do regresso impediam um fim de dia na calma da música de Emílio Santiago servida no Birdland. Valeu a eficácia dos táxis que permitiram ir despejar a tralha ao hotel e chegar uns minutos antes do começo do espectáculo.
O segundo dia começou com a romagem ao Ground Zero, local de mistérios possivelmente por esclarecer, agora a renascer no aço e no betão. A St Paul Chapel salva, em dia de fúria árabe, por uma figueira-do-egipto é agora um monumento de romagem ao naineelevene, cheia de homenagens aos heróis do bem e lembranças dos espíritos do mal. Mas não só as árvores providenciais ou a intervenção divina actuaram na zona, deve também ter sido fruto da acção de uma qualquer mão invisível a salvação do Century 21, onde no meio do lixo sempre se encontra alguma coisa que vale a deslocação, fazendo sentir, que muitas vezes o lugar certo está mesmo perto de nós e não é aquele local distante onde ainda não chegámos. Já libertados das compras, na rua, pude assistir à estratégia de implementação do pleno emprego em tempos de crise: 3-funcionários-3, ajudam os peões a atravessar numa passadeira...
[Filme a estrear em breve neste local]
O shopping cansa e justifica um estágio de preparação para o jazz da noite no Bluenote, onde estava Michel Camilo ao piano, em dia de festa de anos.
O day after começou num resto de compras na Uptown. Breve desta vez, mas suficiente para perceber alguma depressão nos sorrisos mais escassos das empregadas das lojas, certamente porque a crise também deve andar por aí a baixar os proveitos e a ameaçar a ida para casa. Até na rua os sem-casa (as pessoas precisam de casa não apenas de abrigo) são mais frequentes que na última passagem por cá. De resto, está igual, sempre fumegante do chão e com os cafés transportados na mão enquanto se corre para algum lado, com os mesmos ténis que se substituem por sapatos na entrada do emprego. Só as flores surpreendem pela positiva desta vez em que a visito antes do Verão. A 5th Avenida continua a ser um filme passado em ritmo acelerado com milhares de pontos agitados na entropia habitual. Depois de uma manhã assim, sabe bem apanhar o metro e ressurgir do outro lado do rio East, em Brooklin. As lojas da Fulton Mall têm um ar mais à maneira do Martim Moniz, mantendo a mesma agitação de Manhatan. Em minutos as pessoas mudaram de cor e aumentaram de peso, abanam enormes rabos pelas ruas. Caminhando em direcção ao rio, reaparece uma calma nova por entre a zona residencial e encontra-se gente que repousa em bancos de jardim virados para Manhatan, que vista daqui tem uma tranquilidade inesperada, só perturbada por algum helicóptero aqui e além. O passeio acaba no The River Café, quase por baixo da ponte de Brooklin, com Manhatan nos olhos, árias de Ópera nos ouvidos e na boca, degustação de queijos acompanhada de Riesling. O sol descia sobre a grande cidade, alaranjando os ares num fim de tarde morno e gostoso. Tão bem se estava que se esticou o tempo e foi já com alguma ansiedade de chegar atrasado que avançámos para o compromisso musical que tinha sido a causa principal desta deslocação. No Harvey Theatre, de tijolo à vista e colunas metálicas corroídas pelo tempo e pela falta de subsídios certamente, assistimos, no palco, à Paixão Segundo São Mateus, executada por uma orquestra da Academia de Brooklin disposta num círculo no meio do qual evoluía o coro. Sem formalismos de vestuário, em ar de ensaio, pelo exclusivo prazer da música de Bach.
Neste dia 25 de Abril que desde há 35 anos é um dia especial e para sempre como diz o slogan, a deambulação começou na Village onde, passados os cachorros atrelados a alguns seres mais ou menos exóticos, voltámos a não poder ir ao Chumley's, onde a pressa já nos não tinha feito entrar da última vez. Também desta lá não fomos, porque tinha sido fechado (pela ASAE do sítio?). Moral da história, nunca perder uma oportunidade no presente, porque o futuro é sempre incerto. A alternativa morou perto no Pink Tea Cup. A comida do Sul e Obama presente na decoração.
Pelas ruelas da Village ainda foi possível passar noutro local igual a tantos outros por onde se pode andar, mas muito raro, porque celebra a coisa comum e não a excepção. Devidamente assinalado com placa e tudo.
À tarde enquanto se faz tempo para o Trovador, anda-se por Central Park salpicado de nova-iorquinos estendidos em piqueniques pela relva, à maneira dos pontos de Seurat. Imagens de antes e agora, reveladoras de que os gostos das gentes não mudaram assim tanto e que a verdadeira vida, a da Street, pouco terá que ver com a apregoada como modelo na Wall Street, uns quarteirões abaixo.
Ao Domingo é dia de brunch com Jazz band de novo no Blue Note. Foi um domingo de calor para passear a pé, no pós-brunch, na visão de mais Seurat vivo junto a Battery Park. Ainda uma nova revisão do grande buraco a renascer antes de ir até South Street Sea Port e acabar na East Village, numa deslocação intencional para visitar, na 7th Street, a MacSorley's, que nasceu 100 anos antes de eu nascer e que se mantém jovem na tradição das duas canecas de cada vez, que uma só deixa a garganta seca na tarde de Verão antecipado na Town. Aqui a serradura anda no chão e as gargalhadas no ar. No ar, pendurados continuam igualmente os wishbones, que os soldados há já muito tempo não vieram buscar. Cobertos de pó sobre o balcão. A história foi-nos contada por uns canadianos que por lá estavam também e é assim: antes de partirem para a guerra os soldados iam ali depositar uns pequenos ossos de frango. Na volta, passavam a retirá-los... os que regressavam. Dos outros sobram aqui os ossos de frango e os deles em Arlingtons por aí. São as pequenas histórias dos lugares grandes que valem a pena.
Acabou o dia no teatro Orpheu, sob o ruído e graça dos Stomp na descoberta do som do lixo reinventado. Ou de como a matéria só existe pelo trabalho do espírito.
Chegados ao último dia, cumprimos a quase tradição de ir a Harlem e ao Sylvia's para saborear a comida do Sul. Era segunda-feira, não havia Gospel, mas foram suficientes os paladares da Louisiana.
À partida sente-se o receio da gripe e a incerteza dos próximos tempos nos alarmes da imprensa ávida de vender e continua a estar presente o desejo de voltar. See (ny)ou soon.
Já no JFK, a imagem muitas vezes vista na cidade, nos cafés e nas ruas. Ao fim de 100 dias tudo está tranquilo e as t-shirts vendem-se bem. Até quando?
Agora, com os museus conhecidos, mesmo os renovados e sem que houvesse alguma exposição temporária marcante nesta altura, foi possível visitá-la sem programa.
Pragmaticamente, desta vez, começou por servir para ir às compras. Longe das loucuras da 5th Avenue, no Outlet da periferia, onde as promessas eram muitas. A viagem de camioneta demora cerca de uma hora e um quarto. Como é frequente acontecer, é importante não desprezar o instante da viagem sacrificando-o à ideia do objectivo. Neste início de Primavera já avançada, ainda são ressonâncias outonais o que me foi dado ver nas árvores desfolhadas. O objectivo prometido, meio mítico, soube-me ao Campera ou ao FreePort. É duvidoso o valor do bilhete do transporte, apesar das poupanças dos artigos comprados, porque se gasta um dia. Mas, desta vez, os dias também não estavam tão contados. Por pouco, as filas do regresso impediam um fim de dia na calma da música de Emílio Santiago servida no Birdland. Valeu a eficácia dos táxis que permitiram ir despejar a tralha ao hotel e chegar uns minutos antes do começo do espectáculo.
O segundo dia começou com a romagem ao Ground Zero, local de mistérios possivelmente por esclarecer, agora a renascer no aço e no betão. A St Paul Chapel salva, em dia de fúria árabe, por uma figueira-do-egipto é agora um monumento de romagem ao naineelevene, cheia de homenagens aos heróis do bem e lembranças dos espíritos do mal. Mas não só as árvores providenciais ou a intervenção divina actuaram na zona, deve também ter sido fruto da acção de uma qualquer mão invisível a salvação do Century 21, onde no meio do lixo sempre se encontra alguma coisa que vale a deslocação, fazendo sentir, que muitas vezes o lugar certo está mesmo perto de nós e não é aquele local distante onde ainda não chegámos. Já libertados das compras, na rua, pude assistir à estratégia de implementação do pleno emprego em tempos de crise: 3-funcionários-3, ajudam os peões a atravessar numa passadeira...
[Filme a estrear em breve neste local]
O shopping cansa e justifica um estágio de preparação para o jazz da noite no Bluenote, onde estava Michel Camilo ao piano, em dia de festa de anos.
O day after começou num resto de compras na Uptown. Breve desta vez, mas suficiente para perceber alguma depressão nos sorrisos mais escassos das empregadas das lojas, certamente porque a crise também deve andar por aí a baixar os proveitos e a ameaçar a ida para casa. Até na rua os sem-casa (as pessoas precisam de casa não apenas de abrigo) são mais frequentes que na última passagem por cá. De resto, está igual, sempre fumegante do chão e com os cafés transportados na mão enquanto se corre para algum lado, com os mesmos ténis que se substituem por sapatos na entrada do emprego. Só as flores surpreendem pela positiva desta vez em que a visito antes do Verão. A 5th Avenida continua a ser um filme passado em ritmo acelerado com milhares de pontos agitados na entropia habitual. Depois de uma manhã assim, sabe bem apanhar o metro e ressurgir do outro lado do rio East, em Brooklin. As lojas da Fulton Mall têm um ar mais à maneira do Martim Moniz, mantendo a mesma agitação de Manhatan. Em minutos as pessoas mudaram de cor e aumentaram de peso, abanam enormes rabos pelas ruas. Caminhando em direcção ao rio, reaparece uma calma nova por entre a zona residencial e encontra-se gente que repousa em bancos de jardim virados para Manhatan, que vista daqui tem uma tranquilidade inesperada, só perturbada por algum helicóptero aqui e além. O passeio acaba no The River Café, quase por baixo da ponte de Brooklin, com Manhatan nos olhos, árias de Ópera nos ouvidos e na boca, degustação de queijos acompanhada de Riesling. O sol descia sobre a grande cidade, alaranjando os ares num fim de tarde morno e gostoso. Tão bem se estava que se esticou o tempo e foi já com alguma ansiedade de chegar atrasado que avançámos para o compromisso musical que tinha sido a causa principal desta deslocação. No Harvey Theatre, de tijolo à vista e colunas metálicas corroídas pelo tempo e pela falta de subsídios certamente, assistimos, no palco, à Paixão Segundo São Mateus, executada por uma orquestra da Academia de Brooklin disposta num círculo no meio do qual evoluía o coro. Sem formalismos de vestuário, em ar de ensaio, pelo exclusivo prazer da música de Bach.
Neste dia 25 de Abril que desde há 35 anos é um dia especial e para sempre como diz o slogan, a deambulação começou na Village onde, passados os cachorros atrelados a alguns seres mais ou menos exóticos, voltámos a não poder ir ao Chumley's, onde a pressa já nos não tinha feito entrar da última vez. Também desta lá não fomos, porque tinha sido fechado (pela ASAE do sítio?). Moral da história, nunca perder uma oportunidade no presente, porque o futuro é sempre incerto. A alternativa morou perto no Pink Tea Cup. A comida do Sul e Obama presente na decoração.
Pelas ruelas da Village ainda foi possível passar noutro local igual a tantos outros por onde se pode andar, mas muito raro, porque celebra a coisa comum e não a excepção. Devidamente assinalado com placa e tudo.
À tarde enquanto se faz tempo para o Trovador, anda-se por Central Park salpicado de nova-iorquinos estendidos em piqueniques pela relva, à maneira dos pontos de Seurat. Imagens de antes e agora, reveladoras de que os gostos das gentes não mudaram assim tanto e que a verdadeira vida, a da Street, pouco terá que ver com a apregoada como modelo na Wall Street, uns quarteirões abaixo.
Ao Domingo é dia de brunch com Jazz band de novo no Blue Note. Foi um domingo de calor para passear a pé, no pós-brunch, na visão de mais Seurat vivo junto a Battery Park. Ainda uma nova revisão do grande buraco a renascer antes de ir até South Street Sea Port e acabar na East Village, numa deslocação intencional para visitar, na 7th Street, a MacSorley's, que nasceu 100 anos antes de eu nascer e que se mantém jovem na tradição das duas canecas de cada vez, que uma só deixa a garganta seca na tarde de Verão antecipado na Town. Aqui a serradura anda no chão e as gargalhadas no ar. No ar, pendurados continuam igualmente os wishbones, que os soldados há já muito tempo não vieram buscar. Cobertos de pó sobre o balcão. A história foi-nos contada por uns canadianos que por lá estavam também e é assim: antes de partirem para a guerra os soldados iam ali depositar uns pequenos ossos de frango. Na volta, passavam a retirá-los... os que regressavam. Dos outros sobram aqui os ossos de frango e os deles em Arlingtons por aí. São as pequenas histórias dos lugares grandes que valem a pena.
Acabou o dia no teatro Orpheu, sob o ruído e graça dos Stomp na descoberta do som do lixo reinventado. Ou de como a matéria só existe pelo trabalho do espírito.
Chegados ao último dia, cumprimos a quase tradição de ir a Harlem e ao Sylvia's para saborear a comida do Sul. Era segunda-feira, não havia Gospel, mas foram suficientes os paladares da Louisiana.
À partida sente-se o receio da gripe e a incerteza dos próximos tempos nos alarmes da imprensa ávida de vender e continua a estar presente o desejo de voltar. See (ny)ou soon.
Já no JFK, a imagem muitas vezes vista na cidade, nos cafés e nas ruas. Ao fim de 100 dias tudo está tranquilo e as t-shirts vendem-se bem. Até quando?
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