sábado, abril 18, 2009

O fruto desejado

Foi estranho estar nesta reunião de rurbanizados. Éramos quase todos cinquentões, aparentemente ignorantes, mas nostálgicos da ruralidade. Havia algum sonho nos olhares, como que a interrogarmo-nos se um dia seremos capazes de comer uma maçã criada por nós. Certamente, serão as maçãs mais caras do mundo, mas sabem à nossa capacidade de o reproduzir. Por fim, a nossa actividade dará frutos. Foi essa a visão daquele instante.

sexta-feira, abril 17, 2009

O limite da verdade

Que é lá isso de irem ver as contas bancárias?! Então e a livre iniciativa privada e o papel regulador do Estado é para ficar ou não?
Pois, a política de verdade tem por limite a mentira possível nas contas.
Assim se vê o que é fracturante e que ainda haverá diferenças.

quinta-feira, abril 16, 2009

Os caciques

Esta pequenez, delirante de grandeza, comove. No fundo este que era um país de doutores e engenheiros, subiu um degrau ficando exactamente no mesmo nível, transformou-se num país de doutores por extenso e professores, que se autoconsideram importantes, mas a quem, na grande maioria dos casos, ninguém reconhece nenhuma autoridade especial. O título não lhes deu, nem é reconhecimento de uma qualquer cultura, permanecendo apenas e somente isso, um título. O conteúdo destes seres é o título, nada mais.
Quando a isso juntam a reivindicação do poder, tornam-se nos caciques que antes foram os doutores e engenheiros. Constroem jogos de poder às escondidas, esquecendo-se que o secretismo é hoje mais complexo que nos tempos idos em que havia ajudas que valorizavam a alma do negócio.
Dá-me gozo ver o incómodo que lhes causa a descoberta dos seus segredos tão bem, pensavam, guardados. Só que realmente, hoje, um segredo não resiste à guarda de mais de uma pessoa. Vai mau o tempo para o caciquismo. E nada justifica a piedade perante o ridículo, antes pelo contrário. Estes deuses com pés de barro são para quebrar com toda a energia possível da verdade.

terça-feira, abril 14, 2009

Um português (ou luso-descendente?) na Casa Branca (primeiro cão ... capado!)


Não se trata do Durão. Esse ia quando lá morava o residente anterior, que cedo, reconheceu que o José teria um grande futuro. E teve, que a história está aí a mostrá-lo. Só que ia e vinha como visita. Agora a coisa é mais séria. Há um português que vai residir, realmente, na Casa Branca. A má notícia é que, conhecedores como são os americanos das potencialidades dos portugueses e dos seus hábitos quando chegam a novas paragens, já lhe preparam um triste destino. Já não bastava aquele colar alegre e colorido que lhe meteram para as primeiras fotos...
Que imagem é esta que querem dar de Portugal? Haja decoro, assumam-se, é um luso-descendente.

segunda-feira, abril 13, 2009

Nuvens

Muito pior que não ter as soluções para o mundo, é começar a ter a sensação que me não interessa ter as ditas. A fase seguinte será possivelmente perder a noção da gravidade destes sentires. Será que vai ficar tudo plano ou desaparecerão mesmo as dimensões e tudo se convertirá primeiro numa recta, depois num ponto, acabando num fade como nos filmes?
O pó será de novo pó ou mesmo coisa nenhuma.

sexta-feira, abril 10, 2009

A primeira Loja da Cidadã (D. Pulquéria)

A Dona Maria Pulquéria decidiu mal servir os cidadãos algarvios e criar, possivelmente, a primeira Loja da Cidadã ou das mães de Faro. Além do mais, deve estar empenhada em prestar um serviço de má qualidade aos utentes. Com efeito, garanto-lhe que qualquer cidadão que goste de um serviço de qualidade aprecia ser atendido por decotes generosos, saias curtas e bom odor ambiente. Quanto à lingerie escura (o vermelho é uma cor alegre ou escura?) fica-me a curiosidade de saber quem iria fazer o controlo das funcionárias e de que forma isso iria ser detectado pelos cidadãos frequentadores da Loja.
Se isto não pudesse ser de alguma forma preocupante, até poderia ser ridículo.

quarta-feira, abril 08, 2009

Analfabetos

A todos os que acusam de tudo os «Eles». «Eles» são os que fazem coisas horrorosas, só porque os impotentes os deixam fazer.

O pior analfabeto
É o analfabeto político,
Ele não ouve, não fala,
nem participa dos acontecimentos políticos.

Ele não sabe que o custo de vida,
o preço do feijão, do peixe, da farinha,
do aluguer, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.

O analfabeto político
é tão burro que se orgulha
e estufa o peito dizendo
que odeia a política
.

Não sabe o imbecil que,
da sua ignorância política
nasce a prostituta, o menor abandonado,
e o pior de todos os bandidos,
que é o político vigarista,
pilantra, corrupto e o lacaio
das empresas nacionais e multinacionais.

Berthold Brecht

terça-feira, abril 07, 2009

Médicos e farmacêuticos

Vai quente a luta entre médicos e farmacêuticos. Uns e outros publicam falsos, ainda que politicamente correctos, argumentos. Na verdade, custa-me a crer que alguém como os farmacêuticos que tem um negócio de vendas, onde o lucro depende da percentagem do que se vende, esteja interessado em vender mais barato. Tal caridade não existe na vida real. Também os médicos quando nesta argumentação dizem que os move o supremo interesse dos doentes estão a recorrer à boa causa, mas não à causa verdadeira. Farmacêuticos e médicos têm neste assunto outras motivações bem mais reais, só que inconfessáveis: os primeiros são proprietários de um produto que querem erigir em monopólio e têm interesse directo em vender um determinado fármaco e não o concorrente, ganhando na produção e no comércio; os médicos, não querem abdicar do privilégio de «oportunidades de formação», que a Indústria farmacêutica lhes oferece graças às suas escolhas. Acontece que, transferir este privilégio para os farmacêuticos não acrescenta nada ao sistema e até lhe tira alguma coisa: a possibilidade de alguém habilitado tecnicamente arbitrar de alguma forma este jogo. Tem é de estar menos implicado em eventuais jogos de troca, isto é, o caminho será libertar os médicos desta relação de proximidade com a Indústria, que até podendo não implicar necessariamente formas de corrupção, não a impede. E quando de corrupção possível se trata, tudo deve ser feito para a prevenir, tanto a outros níveis como neste. Portanto, aos médicos a liberdade de prescrição, aos poderes a força para proibir ligações perigosas.
E continuo também sem perceber porque não existe uma rede de farmácias administradas por serviços públicos. Não será certamente por ser um mau negócio e sempre seria forma de dar mais dignidade a licenciados que, por agora, são meros empregados de balcão.

segunda-feira, abril 06, 2009

A vã ilusão

Por muito que a cegueira selectiva possa ajudar, deve haver momentos em que a realidade chega ao córtex. Ainda que por instantes, como flashes no meio da escuridão. Nesses momentos, essas imagens deixarão alguma impressão de lucidez e deve doer a sensação de se estar só e o pior deve ser perceber que as miragens de companhia de nada valem nesses instantes. Em flashback devem então vir à consciência o engano que, na verdade mesmo, nunca chegou a enganar, apesar de, em muitos momentos, se ter tido a sensação de ter podido ludibriar meio mundo nos muitos minutos de audiência que se teve. Mas qual a obra feita? Essa é a questão de todas as inquietações a que se não conseguirá fugir mais vezes do que se desejaria. Dá-me alguma pena, ainda que algum gozo também haja misturado. Pois, apesar de tudo, é bom que a impunidade não seja completa...

quinta-feira, abril 02, 2009

Interregno

Já se sente a pausa que antecede a espera do que aí virá. Entrámos na gestão corrente, incapazes de fazer prognósticos sobre o que será o dia depois. Já não há grande motivação para prosseguir a mudança. Agora, é tempo de estar quieto, não fazer grandes ondas, assobiar, apresentar o sorriso da satisfação insegura pré-eleitoral. Altura de fazer todos os bluffs e esperar que passe e corra bem. No meio da crise, vão-se perder alguns meses a olhar para o lado, porque a democracia tem destes interregnos em que, realmente, ninguém reina. Fica-se simplesmente a respirar num registo de hipometabolismo basal. Apetece ir de férias e voltar depois.

quarta-feira, abril 01, 2009

Surreal

A desrealização pode muito facilmente levar a crer que a hipótese é a verdade, mas, pior do que isso, pode despertar a necessidade de ser profeta de uma mensagem de erro. Nalguns casos pode ser tal a crença, que a simples contradição da fé, leva à angústia do desespero, a uma impotência humanamente insuportável quando, afinal, alguns ousam não ser discípulos. Nalguns casos, o melhor, será mesmo o recurso ao internamento.