quinta-feira, novembro 07, 2013
Público e privado
A última semana foi fértil em acontecimentos que fui registando para reflexão futura que agora expresso (como semanário...).
1. O presidente do futebol fez uns comentários divertidos acerca do Cristiano Ronaldo e disse aquilo que alguns não gostam de ouvir: o Messi é o melhor! Num país pobre de ser melhor, a coisa não caiu bem e até o conselho de ministros manifestou a indignação. Ainda há pormenores que unem a populaça com o governo. PC deve estar grato ao senhor.
Quando se ocupam lugares públicos perde-se em liberdade o que se ganha em visibilidade. A um líder não é permitido emitir a sua opinião, mas apenas a que é politicamente correta. Ou seja mentir de forma consensual em público, não manifestando a sua verdadeira opinião privada. Sinais do constrangimento das liberdades. Prefere-se a mentira em público à verdade privada.
2. Um ilustre casal está zangado. Que teremos nós a ver com isso? Casais desavindos ainda são notícia, não pela discórdia existente, mas pelo que ajudam uma imprensa moribunda a vender papel. E foi curioso ver como alguns pudicamente referiram os factos, manifestando a preocupação de não invadir a privacidade, mas falando deles apenas porque são públicos. Públicos porque são colunáveis os seu protagonistas, mas na forma tão privados como as zangas de qualquer Maria e qualquer José, que ficam no domínio estritamente privado e se manifestam por números de mulheres mortas por violência doméstica, publicados de quando em quando. Possivelmente é mais relevante a morte pública do que uns estalos privados. Mas enfim o critério contabilístico sobrepõe-se ao jornalístico e assim vamos...
3. Público e privado é também disso que trata o celebrado guião do Estado, que o PP escreveu numa viagem entre duas feiras. Cada um escreve como sabe e com a força que lhe permitem é possível elaborar-se sobre o que nos apetece. Mais estranho é a discussão que se segue, em que um bando de colaboracionistas quer impôr a coisa escrita como verdade final. Estão lá os títulos dos capítulos e a conclusão, quer-se agora ajuda para que se escrevam os textos em conjunto. Procura-se a união nacional que outros já impuseram e Cavaco há tempos tentou, esquecendo-se que nisto do Estado há um maior e outro menor (como no fado) e que o tom é que muda a música, não sendo possível escrever a mesma pauta, para ambos em simultâneo, sem que a coisa fique irremediavelmente desafinada. Nos Estados como nos casais não há consenso quando as realidades objetivas são antagónicas e mesmo que corram paralelas nunca se encontrarão (até por imperativo geométrico). Esta tentativa de pôr tudo a falar a uma só voz não é própria de gente livre e pensante, mas de mentecaptos formatados numa mesma cartilha aceite de forma acéfala. É a luta de classes, estúpidos!
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