terça-feira, outubro 29, 2013

Responsabilidade

É demasiado este silêncio à espera, dia-a-dia, de um recomeço adiado sempre pelo desejo de manter uma memória cronológica bem organizada. É verdade, andei de férias e aconteceram coisas boas, memoráveis nessa atividade. Tanta foi a atividade que fiquei sem o tempo para o seu registo e depois nem o registo dos dias seguintes, porque não me decidia a manter um hiato de registos que não queria ter. Finalmente, a decisão de deixar aqui uma memória que irá ser relembrada logo que possível por blocos escritos sem a pressão dos dias e com o que as lembranças me oferecerem registar. Hannah Arendt, um filme recente, levantou a questão da responsabilidade individual até de se pensar e dessa coisa inqualificável que é viver-se sem reflexão. Podemos ser mandados, não ter liberdade de decisão porque estamos num processo totalitário, mas impossível é que não pensemos no que fazemos. Fazer isso, é assumirmos a irresponsabilidade, o estado de inimputabilidade próprio de loucos, mas não de homens no seu perfeito juízo. É uma desculpa para o mal que individual e, juntos, coletivamente poderemos estar a fazer. Colaborar com o mal, mesmo por omissão de resistência, não é responsável, mas é responsabilizável. Não basta dizer-se que se não percebeu a maldade em que se estava a laborar, quando por um ócio irresponsável de pensar, não se deu conta do colaboracionismo ativo em que se esteve. Porque nem é o medo que leva à inércia, pois face ao medo, há muitas vezes a vontade da coragem que o ultrapassa; é apenas demissão na maior parte das vezes, uma demissão instilada pelos propalados conceitos de que «não vale a pena», «que se pode fazer», «eles são todos iguais» e assim por diante. É que se eles são todos iguais, se não formos diferentes, iguais a eles seremos. Aí anda a nossa responsabilidade individual de pensar e agir. E não há vitórias fáceis porque de há muito sabemos que «a vitória é difícil, mas é nossa» e até o poeta nos disse «que tudo vale a pena». Em resumo, temos de ter uma maior exigência de vida, longe que isso é de consumo sobrevivente, e saber que a alternativa, como foi para outros, é de «Vitória ou morte», e que a certeza é: «Venceremos!». Há que criar as certezas, não consumi-las.

Sem comentários: