Mas a situação é mais complexa. Também a classe média portuguesa não beneficia da minha ternura. Foi uma classe burra que se deixou enganar lamentavelmente pelas ofertas de crédito dos banqueiros e todas as miseráveis Cofidis que por aí grassam. Estranhava eu, aqui há uns anos, sempre que me ofereciam cartões de crédito e dinheiro barato. Pensava, eu não vou nisso e só espero que me não venham pedir que lhes pague os desvarios. Resisti a ter casas acima das minhas posses, não mudei de carro de 3 em 3 anos com leasings tentadores, não viajei com a crédito, não pedi emprestado para jogar na bolsa. Enfim, vivi dentro do que podia. Eu não contribuí para a crise da dívida!! Sou um português de classe média triple ei (AAA), tenho um nível de endividamento melhor que a Alemanha e o meu défice é inferior a 3%. Por isso é lamentável que me reduzam o vencimento, me roubem parte do 13º mês, me aumentem o IVA periodicamente, me subam a conta da eletricidade e etc. Quem esteve a ganhar com esta paródia do crédito barato, não vai pagar nada? Ainda querem que lhes paguemos os riscos mal calculados da especulação que fizeram? Vai sendo tempo de voltar à realidade e quem apenas tem sustentação virtual que caia. Vamos recomeçar o jogo, mas um real.
Por falar em realidade, anda agora toda a gente a dizer que temos uma saúde ótima, um ensino que nem é assim tão mau, uma segurança social interessante. Os mesmos que diziam que tudo isso era lixo aqui há uns tempos atrás, vêm agora dizer que até tem qualidade, mas que não temos dinheiro para tudo isso. Afinal até era bom demais!! Insinuam que foi quem trabalha que gastou indevidamente, para amanhã os penalizarem mais uma vez. Basta, a luta de classes está cada vez mais real e que cada um saiba o lado da barricada onde se coloca.
Com medo, os guardiões do Capital já preparam um orçamento de Estado onde apenas não há cortes para as forças de segurança. Segurança do quê? Não certamente dos que agora são estropiados quase diariamente. Basta de brandos costumes e de ser politicamente correto.
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