sexta-feira, dezembro 24, 2010
Cartão de Natal
«Não devia haver Dezembro». Assim dito na consulta, como um disparo do peso que a solidão implica. O olhar entre o desistente e a revolta pela pressão da alegria virtual do Natal a toda a volta. O Natal como quase insulto para quem ficou sem marido e um filho há alguns anos num acidente estúpido, como são todos os acidentes. A vida, algumas vezes, transforma-se num caminho por entre gotas de chuva numa ânsia de chegar nem se sabe bem aonde. Andar apenas pelo tempo fora sem motivo de caminhada ficando o mais enxuto que for possível. Neste tempo da solidariedade institucionalizada, que ao menos os recordemos, aqueles que, correm por este mês desejosos que acabe rapidamente até, de novo, mergulharem nos restantes meses em que a solidão se generaliza a todos e se podem sentir menos diferentes.
quarta-feira, dezembro 22, 2010
Optimismo racional
Há certezas que nos restam e, depois da tempestade, vem o dia 24 à noite e não pensamos mais nas filas, nos engarrafamentos de trânsito, nem nas meninas que fazem embrulhos nas lojas já cansadas de embrulhar. É a pausa na bagunça e o preparar para o novo tempo em que teremos de ter presente que para pior já basta assim e acreditarmos que o sol sempre surge depois das nuvens e é inevitável que, um destes dias, a alvorada cante. Porque a história continua e sempre se renova por novos caminhos, apesar de, muitas vezes, ser necessário chegar a becos sem saída.
Só para chatear, no fundo da depressão, sabe bem ficar racionalmente optimista.
Só para chatear, no fundo da depressão, sabe bem ficar racionalmente optimista.
quarta-feira, dezembro 15, 2010
Mais um
É realmente um dia como todos os outros. Ou seria, não fossem os amigos torná-lo especial e diferente. São melhores os dias que fazemos em conjunto. Que haja mais e vejamos todos.
terça-feira, dezembro 14, 2010
Prendinhas
Chegou-se a um tempo em que se trocam prendas sem conhecer o ofertante como se fosse possível escolher uma prenda sem que nos metamos um pouco na oferta que se faz. Podemos até não ser capazes de identificar a impressão digital, mas ela está lá, na ironia ou no sorriso que estas prendas sempre trazem. Mas não deixa de ser estranho dar algo a quem se não conhece, quando substituímos uma mensagem por uma oferta universal. De certa maneira não damos à pessoa, mas ao Natal e fica a imensa dúvida se terá valido a pena ou se estaremos de perfeito juízo quando o fazemos.
segunda-feira, dezembro 13, 2010
Caos
Ali, ligeiramente descentrado, na paisagem cinzenta e desfocada estava eu. E, de repente, um estrondo nunca ouvido, exactamente sobre mim. Sem luz de relâmpagos, porque tudo ocorre numa penumbra necessária para a visão dos contornos do horizonte onde, por todo o lado, a toda a volta, há explosões e colunas de fumo, gigantescas, como nunca tinha visto, incontáveis, renovando-se no meio de um absoluto silêncio até ao meu acordar espantado no meio de uma absoluta e real tranquilidade.
Às vezes sabe bem saborear a completa desorganização do tempo e do espaço, o caos total.
Às vezes sabe bem saborear a completa desorganização do tempo e do espaço, o caos total.
quinta-feira, dezembro 09, 2010
Dor da gente
Já não é o trabalho de as fazer que cansa, o que me vai cansando agora nas consultas é a tristeza das pessoas, uma tristeza entranhada nos olhares e nas queixas, uma envolvência de dor de alma que amachuca o diálogo. E quase por certo não contribuíram para a dívida, para a ausência de crédito que a outros justifica a supressão dos seus empregos. Há uma anestesia da crise com que os bombardeiam a toda a hora e apenas lhes sobra a vergonha em vez de revolta, consumida que foi a energia na audição dos medos. Dói esta dor da gente, depois de lhes terem roubado a esperança.
quarta-feira, dezembro 08, 2010
Como os cães
É na hora da despedida que Coimbra tem mais encanto e é no afastamento das pessoas que a comunicação se torna imperiosa. Também ninguém faz jantares na altura do ingresso e frequentes são os feitos no momento da saída. Em tudo isto há um desaproveitamento do tempo presente em que se não desfruta a paisagem, porque se sonha com a viagem que talvez se não venha a fazer nunca, em que se não fala directamente com os outros, a menos que nos afastemos e então vamos a correr para os telemóveis dizer que está um dia de sol só pelo gozo de comunicarmos, em que não desencantamos estratégias comuns e muitas vezes planeamos tramar o colega do trabalho e deixamos para a altura em que deixa a nossa companhia o momento de todas as homenagens e a afirmação de quanto lhe queremos bem. Apreciamos, quando deixamos de ter por perto e,então quando morrem, todos ficam absolutamente perfeitos, por muito que deles tenhamos discordado ou mesmo mal tratado. O momento máximo de se ser magnânimo é aquele em que a sombra do outro já se não projecta sobre nós e deixa o caminho livre, finalmente.
No fundo, age-se pelo medo. Como os cães que rosnam, mesmo que saciados, quando alguém se aproxima do osso que esconderam. À distância abanam o rabo. Mas, o tempo é agora e não depois, nem no passado que já não é. Desperdiçá-lo é perder vida.
No fundo, age-se pelo medo. Como os cães que rosnam, mesmo que saciados, quando alguém se aproxima do osso que esconderam. À distância abanam o rabo. Mas, o tempo é agora e não depois, nem no passado que já não é. Desperdiçá-lo é perder vida.
terça-feira, dezembro 07, 2010
A grande matilha
Bem sabemos que acontece com os cães o que com os homens também vai acontecendo. Vão-se os bons, ficando os outros. A imagem tem mais de 100 anos e permanece bem actual. Hoje é a matilha dos mercados. Que me perdoem os cães, que estes são mesmo vadios (= quem não quer trabalhar).
segunda-feira, dezembro 06, 2010
Sem futuro
No final, José, frágil, segue amparado pela solidariedade de Pilar percorrendo um vasto hall de um aeroporto. Vão-se cruzando com outros passageiros mais ou menos apressados, sem que ninguém os reconheça. Indiferentes. De repente, os caçadores de autógrafos e os jornalistas que fazem sempre as mesmas perguntas desapareceram da circulação. Ainda bem?
Por aqui passamos e andamos anónimos e nada parece garantir que sobreviveremos ao momento inevitável em que deixamos de ser. De pouco valerá a obra feita e todos seremos sem futuro e quase iguais. Ao menos, neste limite, a equidade surge, contrariando toda a ânsia de diferença, que alguns insistem em proclamar, ignorando a sua limitação fundamental, a impossibilidade da eternidade do tempo. Porque o tempo dos outros, é o deles e não o de cada um. Na verdade, o importante parece ser a tranquilidade com que se passa por aqui, despertando algum sorriso nos que nos vêem passar, os amigos, e observando as árvores que nascem, o sol que se põe e as rãs que saltam na estrada ao luar, porque a vida se enche de coisas banais e se esvazia nas singularidades.
Antes da fita, soube-me bem ter ficado tranquilo e condescendente quando o funcionário da bilheteira me perguntou se o bilhete era de sénior. Nada me faria supor tal oferta e fiquei um pouco sem saber se seria o jovem o desatento deste diálogo.
Por aqui passamos e andamos anónimos e nada parece garantir que sobreviveremos ao momento inevitável em que deixamos de ser. De pouco valerá a obra feita e todos seremos sem futuro e quase iguais. Ao menos, neste limite, a equidade surge, contrariando toda a ânsia de diferença, que alguns insistem em proclamar, ignorando a sua limitação fundamental, a impossibilidade da eternidade do tempo. Porque o tempo dos outros, é o deles e não o de cada um. Na verdade, o importante parece ser a tranquilidade com que se passa por aqui, despertando algum sorriso nos que nos vêem passar, os amigos, e observando as árvores que nascem, o sol que se põe e as rãs que saltam na estrada ao luar, porque a vida se enche de coisas banais e se esvazia nas singularidades.
Antes da fita, soube-me bem ter ficado tranquilo e condescendente quando o funcionário da bilheteira me perguntou se o bilhete era de sénior. Nada me faria supor tal oferta e fiquei um pouco sem saber se seria o jovem o desatento deste diálogo.
domingo, dezembro 05, 2010
Visão nocturna
A vida é esta coisa de não passar por estradas assépticas, completamente normalizadas onde nada acontece enquanto se passa a não ser ter passado mais um carro. A vida encontro-a nesta estrada onde as rãs saltam na noite e subitamente se imobilizam para que possamos passar ao lado. Longe da cidade, debaixo da via láctea as rãs atravessam a estrada como se estivessem a celebrar a vida. E eu vejo-as.
sábado, dezembro 04, 2010
Greve descontrolada
É complicado para mim perceber o que está por trás e permite que seja possível levar à prática uma greve sem aviso, sem organização (!?) e sem controlo sindical. Estaremos no início de novos tempos em que a comunicação fácil de hoje permite mobilizar instantaneamente uma classe? Mas isso só é conceptualmente possível se imaginarmos uma enorme unanimidade e sentimento comum de maus-tratos entre os contactados. Ao mesmo tempo que assusta, a ideia seduz, pela possível eficácia. Possivelmente, fará história esta descontrolada greve dos controladores espanhóis.
quarta-feira, dezembro 01, 2010
Censura?!
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