quarta-feira, agosto 11, 2010

Pudor necessário

Andam as revistas e os textos do coração tão cheios de doenças das celebridades, que chego a pensar se não será a forma que têm de pagar as contas dos hospitais privados onde se tratam. Com efeito, acho estranho que alguém venha expor publicamente as suas mazelas, mas isso ainda seria o menos. Pior que tudo é a novela que fazem à volta de situações cujo desfecho é demasiado negro, afirmando esperanças pouco reais, esquecendo que outros menos colunáveis e padecendo de males parecidos podem agarrar-se às suas ilusões até ao dia em que a notícia da morte surge. Nessa altura como sentirão a situação aqueles que sonharam? Há, talvez, um dever de pudor para se não gerarem choques inevitáveis, uma necessidade de poder finalmente viver o escasso tempo que lhes resta fora da ribalta. Ou assim seria desejável. Não é preciso ter a militância da exposição da esperança, que até, talvez, não tenham, porque dela ninguém aproveita. A realidade acaba sempre por ficar por cima da imagem, como o azeite sobre a água.

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